Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O assassino, a mídia e o espetáculo

Informar é uma faca de dois gumes. Vivemos o dilema entre emitir uma notícia e ter o poder de transformá-la em algo próximo de um espetáculo ficcional. Muitas informações não deveriam, em hipótese alguma, ganhar o status espetacular, mas nem sempre esta observação faz sentido e reportagens sobre situações cruéis e absurdas ganham os holofotes e páginas de jornais. Nesta semana, o caso do homicida Clewilson Vieira, o Chiê, acusado de matar cinco pessoas em São Miguel do Tapuio, no norte do Piauí, voltou à mídia com uma repercussão bastante fervorosa.

É notório que esse não é o tipo de notícia que desejamos veicular. Contudo, não dá para ignorar que o fato é de extrema relevância. Não porque é positivo e mereça ser enfatizado, muito pelo contrário: seu caráter estarrecedor põe em voga o interesse público para isso. Na outra ponta, temos a necessidade de refletir sobre como é possível utilizar esse tipo de acontecimento de maneira a colaborar para que situações semelhantes não voltem a se repetir. Quando vemos páginas policiais sendo o destaque é porque a situação é muito complicada socialmente.

Assim, é preciso verificar como o ato de informar é importante. Também não podemos perder de vista a linha divisória da informação e do espetáculo, quando é hora de veicular notícias dessa magnitude. Não estamos acostumados com um Piauí recheado de criminalidade, violência e ataques tão cruéis, uma possível justificativa para que um acontecimento destes ganhe uma visibilidade sem tamanho. A prisão do acusado é motivo de notícia, principalmente por parecer que a justiça será feita.

O dilema de sempre

Chacina. O termo assusta até mesmo quando o lemos estampado em qualquer local. A sociedade piauiense se viu imersa nessa realidade, a barbárie do acontecimento gerou comoção e transtorno. Muito sangue foi jorrado, mas a maior tristeza consiste em ver como famílias e corações são destruídos após acontecimentos dessa magnitude. Não é mais história americana, real ou de filmes. Diante disso, vemos por que o encarceramento deste indivíduo acabou por se tornar algo tão midiatizado: é inaceitável demais.

Após a prisão, Chiê ousou assustar ainda mais, com declarações tão absurdas que pareciam ser mentira. Não é possível compreender por que uma pessoa não se arrependeria de ter matado tantas pessoas e, pior ainda, alegar que teria coragem de matar outras tantas se fosse preciso. É claro que tais declarações vão parar nas pautas jornalísticas devido ao teor de crueldade e falta de moralismo e humanidade que possuem. Assim, estamos diante de noticiar porque é algo que precisa ser posto à tona, e não transformar situações em espetáculos. Esse é e sempre será um dilema para a mídia.

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Thays Teixeira é jornalista