O atentado contra o Charlie Hebdo, segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas, “é o pior ataque à mídia desde o massacre de Maguindanao”, em novembro de 2009, nas Filipinas – quando ao menos 34 jornalistas foram mortos ao cobrir ato eleitoral.
A lista de piores ações contra jornalistas feita pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas – CPJ, sediado em Nova York (EUA), destaca ainda a morte de 11 funcionários da TV Al Shaabiya em 2006, em Bagdá (Iraque), e de cinco da E-TV em 1997, em Hyderabad (Índia).
Segundo o CPJ, 2014 vem sendo “o ápice dos três anos mais mortais” para jornalistas desde que a entidade iniciou levantamento detalhado, em 1992. Até ontem, o fenômeno era creditado principalmente à guerra civil síria.
“A ameaça aos jornalistas e à liberdade de expressão é global, sem porto seguro”, disse Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. Para Robert Mahoney, vice da entidade, os jornalistas devem se unir e “passar a mensagem de que os atentados homicidas para nos calar não prevalecerão”.
O sentimento ecoou por entidades globais de imprensa.
Ataque à liberdade
O presidente-executivo da Associação Mundial de Jornais (Wan-Ifra), Vincent Peyrègne, afirmou que “esta absurda atrocidade não é apenas um ataque à imprensa, mas também à sociedade e aos valores pelos quais todos lutamos”, alertando para o “crescente clima de ódio que ameaça fraturar nossa compreensão de democracia”.
No Brasil, o vice-presidente da Associação Nacional de Jornais, Francisco Mesquita Neto, disse que o ataque, além de matar “colaboradores de um veículo que se caracteriza por abordar a realidade pela via do humor, claramente pretende intimidar a imprensa que não se submete a uma visão de mundo totalitária”.
Para o presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas, Frederic Kachar, “este atentado inaceitável atinge também a liberdade de expressão e de imprensa, pilares fundamentais para sociedades democráticas”.
A diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) alertou “para o perigo da intolerância (seja política, religiosa ou de qualquer natureza) e do obscurantismo, que tem gerado ataques às liberdades de expressão e de imprensa em todo o mundo”.
E a diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que “a carnificina tenta impor o terror aos meios de comunicação e calar o direito à expressão em um dos países que o simboliza”, sendo “um ataque à liberdade de imprensa em todo o mundo”.
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Ataques à mídia
Veja casos recentes:
>> 2013 – Ao menos 5 jornalistas mortos em ataque à TV Salah al-Din, no Iraque
>> 2009 – Ao menos 34 jornalistas são mortos por cobrirem candidato rival a governante de província das Filipinas
>> 2006 – Ataque à TV Al Shaabiya mata 11 no Iraque
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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo