Meus avôs eram muçulmanos. Não tive educação muçulmana, tampouco sou religiosa, mas conheço o Islã. E o Islã que eu conheço não é esse que a mídia tem mostrado. Não é esse que tem auto promovido por atos violentos. Não é a Al-Qaeda. Não é o Estado Islâmico. Não é essa onda de extremismo violento que mata cartunistas de um jornal satírico. Não é esse o Islã que eu conheço.
Desde o 11 de setembro, eu tenho sido alvo das piadas dos meus colegas, que me chamam de “terrorista” e “mulher-bomba” e olham para mim quando é feita qualquer menção ao atentado ao World Trade Center, mas eu nunca realmente me importei com isso. Porque esse não é o Islã que eu conheço.
O Islã que eu conheço, aquele me fora apresentado pela minha avó tantos anos atrás, é o Islã que propaga o amor, que almeja a paz entre os povos, que incentiva a união da família, que prega a não-violência e tantos outros valores bonitos. Não tem nada a ver com essa violência toda que temos visto na imprensa. Matar em nome de uma religião não faz qualquer sentido! Porque entender isso é tão difícil? Usar a religião como desculpa para matar que isso só ajuda a fortalecer um estereótipo que já existe, contribui para que se rotule toda a comunidade muçulmana como terrorista e todo árabe, como matador. Favorece a xenofobia!
O “11 de setembro da imprensa”
Enquanto todos os muçulmanos deveriam empenhar-se em desconstruir esse estereótipo, reunir-se em torno da mesma causa e lutar pelo bem da comunidade muçulmana, o que estão fazendo? Matando. Sequestrando. Explodindo. Fortalecendo cada vez mais o rótulo de que todo muçulmano é terrorista.
O caso do Charlie Hebdo é só mais uma prova de que a religião está distorcida por extremistas intolerantes incapazes de perceber as diferenças e aceita-las como parte da condição humana. Incapazes de compreender o Corão e as lições do profeta. Interpretam o livro sagrado de maneira literal e não percebem que o objetivo dele é propagar o amor. Apenas isso. Propagar o amor. Matar inocentes é muito mais ofensivo e cruel do que desenhar um profeta. Derramar o sangue de 12 inocentes por terem “se atrevido” a desenhar o profeta não faz parte do Islã que eu conheço. Não é incentivado pelo Alá que minha avó me apresentou. É extremismo, e todo extremo é errado.
Não quero mais ser a terrorista da sala de aula, e muçulmano nenhum deveria querer. Muçulmano nenhum deveria alimentar o estereótipo. O ataque ao Charlie Hebdo está sendo chamado de “11 de setembro da imprensa”. Isso envergonha a mim, aos meus antepassados e a todos os muçulmanos que propagam o amor. Porque esse não é o Islã que nós conhecemos.
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Karine Seimoha é estudante de Jornalismo