Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Assassinatos ‘mais cruéis’ do que outros

O Brasil tem em média 140 homicídios por dia. Pelo menos é o que mostram os números apurados em 2013. Todo e qualquer assassinato deve ser investigado, mesmo os de bandidos. A investigação é importante para que outro criminoso seja colocado atrás das grades. Mas não é isso que acontece neste país e mais da metade dos casos de mortes violentas não têm uma investigação conclusiva.

Mesmo vivendo no país da matança – nos últimos 10 anos, nenhuma nação em guerra matou mais que o Brasil –, a sociedade não parece se incomodar. Centenas de pessoas saem às ruas para protestar contra o aumento de R$ 0,50 em passagens de transporte urbano, mas não existe uma mobilização contra o crescimento da violência e da criminalidade. Parte desse comodismo se deve aos veículos de comunicação. A imprensa dedica horas de reportagens sobre um ou outro crime, em especial de mortos famosos, e ignora a real situação do país. Assim, a sociedade passa a acostumar com a violência que bate à nossa porta. É como se fosse um homicídio isolado, uma fatalidade que pode acometer qualquer um. Mas não é: até o final de 2015, a estimativa é de que mais de 50 mil pessoas serão assassinadas.

E a média de mortes violentas no Brasil é líder absoluta no ranking mundial. Em 2014, o número ultrapassou a casa dos 60 mil. Mais da metade dos homicídios se deve ao tráfico de drogas. Centenas de milhares de inocentes foram mortos e as polícias militar e civil foram responsáveis por mais de 11 mil assassinatos de pessoas de bem. A criminalidade também atinge os mais pobres, com destaque para jovens negros de 15 a 25 anos. A mídia só se incomoda quando se mata um jovem de classe média, razoavelmente famoso e morador de algum bairro com maior poder aquisitivo. As demais vítimas, principalmente as pessoas que trabalham dia após dia, são ignoradas e apenas reforçam as estatísticas. A imprensa não se incomoda se existem centenas de milhares de foragidos da Justiça no Brasil, ou se um assassinato bárbaro vai ser ou não investigado.

Nos acostumamos à matança diária neste país. Homicídios já fazem parte do nosso cotidiano. Mesmo sabendo que a violência pode atingir qualquer um de nós, continuamos nossas vidas como se nada estivesse acontecendo e assim, todos os anos, mais de 50 mil brasileiros se tornam vítimas da nossa própria incapacidade de lutar pelo nosso país.

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Vanderson Freizer é jornalista