Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Maduro acentua táticas para ‘domar’ imprensa

Desde que assumiu o poder, em 2013, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem perdido uma série de batalhas nas tentativas de consolidar seu poder. Enfrentando uma crise econômica grave e uma situação de ruptura interna dentro do próprio chavismo, no entanto, Maduro conseguiu uma “vitória”: sufocou quase completamente a imprensa crítica. Em pouco menos de dois anos, quase nada restou dos jornais que mantinham coberturas consideradas incômodas por Hugo Chávez e por seu sucessor.

Os diários sofreram crises de fornecimento de papel-jornal e pressões econômicas que culminaram, em casos como o de El Universal e doÚltimas Notícias, nas suas vendas para grupos ligados ao oficialismo.

“A pressão (contra a imprensa) tomou formas sofisticadas e novas, afetando o direito à informação e a liberdade de expressão”, avaliou a diretora executiva do Instituto Imprensa e Sociedade da Venezuela (Ipys) Marianela Balbi em entrevista ao Estado.

Nas bancas da capital, Caracas, ainda há publicações com linhas editoriais contrárias ao governo, mas o número caiu drasticamente em relação a 2013. O jornal de maior circulação que ainda mantém uma posição crítica é El Nacional, que na semana passada foi ameaçado de processo pelo presidente da Assembleia Nacional, o chavista Diosdado Cabello.

O periódico foi citado pelo parlamentar juntamente ao ABC, da Espanha, e outro venezuelano, o Tal Cual. Os três, de acordo com Cabello, publicaram a acusação de que Cabello seria o chefe maior do narcotráfico na Venezuela – acusação que teria sido feita pelo ex-chefe de segurança do chavista, Leamsy Salazar. Uma fonte ligada ao governo ouvida pelo Estado afirmou que, na realidade, a ida de Salazar aos EUA para testemunhar diante da agência americana antidrogas, a DEA, teria sido articulada por um integrante do alto escalão chavista forçado a assumir um cargo no exterior por desavenças com Cabello.

Além do Nacional, em alguns pontos de venda é possível encontrar o Tal Cual, dirigido por Teodoro Petkoff. O jornal, no entanto, foi forçado e diminuir o número de páginas e, posteriormente, tornar-se semanal. A falta de papel e a retirada de publicidade privaram o jornal de qualquer possibilidade de manter suas operações, descreve a professora Marianela.

“Estamos falando de veículos de comunicação de alcance nacional. Se olharmos para os veículos regionais, posso assegurara que há regiões inteiras do país onde não existe um só veículo de imprensa crítico.”

As redes de televisão também foram “pacificadas” por Maduro. A Globovisión, crítica ao chavismo até 2013, foi vendida a um empresário que, segundo opositores, teria ligação com o governo. A linha de cobertura noticiosa da emissora mudou em pouco tempo – e funcionários pediram demissão dos cargos, desde jornalistas até diretores.

Outra tática é a proibição de cobertura em locais estratégicos como a Assembleia Nacional. No dia 22, por exemplo, quando o presidente foi ao Congresso apresentar seu discurso de Memória e Conta – um retrospecto de 2014 e uma projeção para o futuro –, nenhuma emissora além da VTV, estatal, foi autorizada a montar estrutura na sede do Legislativo. Todas as redes foram forçadas a retransmitir o sinal da geração do governo. “Vemos uma estratégia de direcionar as linhas editoriais com medidas oficias, como a proibição de cobertura na Assembleia. É mensagem clara aos críticos”, avaliou Marianela.

Combate

A mídia é um dos principais alvos de Maduro em seus discursos a respeito da “guerra econômica” feitos quase diariamente nos últimos meses. O presidente acusa a imprensa – nacional e internacional – de se esforçar para criar um clima de tensão e provocar um golpe de Estado.

New York Times foi chamado por Maduro, na semana passada, de “diário oficial” do governo dos Estados Unidos, a quem o venezuelano acusa de articular sua derrubada.

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Felipe Corazza, do Estado de S.Paulo, em Caracas