Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Edward Snowden faz ‘chamado às armas’ para empresas de tecnologia

O denunciante da NSA Edward Snowden esteve de volta ao evento SXSW, em Austin, no Texas, do qual já tinha participado em 2014. Mas apenas algumas pessoas ficaram sabendo de que ele faria parte remotamente de uma sessão em 2015.

Segundo o The Verge, Snowden realizou no domingo uma sessão de perguntas e respostas via vídeo streaming com cerca de 20 pessoas de todo o mundo atuantes em tecnologia e política. “Foi um ‘chamado às armas’ dirigido às empresas de tecnologia para frustrar a espionagem, usando melhores ferramentas de privacidade”, analisou Sunday Yokubaitis, presidente da empresa de privacidade on-line Golden Frog, que foi um dos convidados.

De acordo com Yokubaitis, Snowden disse que, com os atrasos na reforma política, as empresas devem adotar as tecnologias mais seguras que possam bloquear a vigilância em massa.

Criptografia generalizada

Um foco importante seria a criptografia ponta a ponta, o que significaria que ninguém (incluindo as empresas) poderia ver o conteúdo de comunicações digitais, exceto o remetente e o destinatário.

“O mais importante é aumentar o custo da espionagem”, teria dito Snowden. “Toda vez que aumentamos o custo, forçamos restrições orçamentárias.”

Isto é especialmente relevante no caso de ferramentas de espionagem que são originalmente construídas para utilização com alvos específicos no exterior e que depois lentamente se tornam programas mais amplos.

“Esperamos que eles comecem com a Coreia do Norte e, quando chegarem a espionar, por exemplo, Ohio, eles estourem o orçamento”, completou.

Snowden descreveu sistemas comuns de segurança, como o SSL, como de “infraestrutura crítica” e que não recebeu investimento suficiente. Como resultado, tornou-se vulnerável. E uma vez que a criptografia ainda não é algo suficientemente comum, basta criptografar uma mensagem para que esta comunicação já seja marcada como suspeita. Isso é parte da razão pela qual as empresas deveriam estar trabalhando em melhores opções de criptografia.

“Snowden dizendo isso valida a recomendação para que as empresas tentem preencher os buracos, e não esperar por políticas”, disse Yokubaitis após a reunião.

Programas espiões

Com relação à política, Snowden criticou propostas para expandir as regras que forçam empresas de telefonia a abrir suas redes para escutas telefônicas do governo americano.

Vale lembrar que o diretor do FBI, James Comey, alertou que os serviços de internet e produtos de tecnologia precisam de backdoors para evitar que casos de investigação deparem-se com a “escuridão”, na medida que os criminosos se mudem para a internet.

“Não podemos ter uma Calea – Parte 2”, disse ele, de acordo com Yokubaitis, referindo-se à legislação Calea (Communications Assistance for Law Enforcement Act), a lei de grampos dos EUA aprovada em 1994, cujo propósito é ampliar a capacidade das agências de inteligência na aplicação do direito e na condução de vigilância eletrônica, exigindo que operadoras de telecomunicações e fabricantes de equipamentos de telecom modifiquem e projetem seus equipamentos, instalações e serviços para garantir que tais agências tenha capacidades de vigilância embutidas. Em 2005, a Calea passou a incluir todo o tráfego de VoIP e de internet banda larga.

Snowden também disse que as sanções eram leves demais para os funcionários da NSA que espionavam cônjuges ou amantes – procedimento informalmente conhecido como Loveint.

“Isso prova que os programas de espionagem valem mais do que os interesses da justiça.” Ele disse achar que o público deve prestar mais atenção a programas da NSA que tentaram desacreditar inimigos por meio da espionagem de suas atividades sexuais online.

Outros participantes da reunião teriam sido o CEO da Cloudflare Matthew Prince, o conselheiro sênior de produtos do Twitter Matthew Zimmerman, e o CEO do Evernote Phil Libin, entre outros.

Apelo pessoal

Snowden deixou claro que não vazaria qualquer nova informação naquele encontro. Mas, de acordo com Yokubaitis, ele falou de maneira um pouco mais pessoal, dizendo que gostaria de obter apoio público suficiente para voltar para casa em segurança.

“O governo não sentiu a pressão, pois eles não se preocupam com abaixo-assinados. Eles precisam de pressão de nível superior. Não é uma questão jurídica, é uma questão política.”

Snoden também disse novamente que faria tudo de novo. “Eu ganhei muito. Eu tenho a capacidade de contribuir de uma forma muito mais significativa. Eu realmente tenho a sensação de que estou ajudando a melhorar vidas. Isso me dá um motivo para me levantar de manhã. E isso é algo que você não pode obter a partir de quase qualquer outra coisa que não seja a manutenção de um princípio orientador em que você acredita em muito fortemente.”

Alguns participantes da reunião fizeram questão de tirar selfies com Snowden – só que o rosto dele aparecia numa tela de TV, já que ele estava transmitindo de algum lugar em Moscou, na Rússia.