Depois da histórica rebelião das massas no Brasil, no recente 15 de março, ao vivo nas redes de televisão, com mais de dois milhões de brasileiros nas ruas de todo o país – conforme cálculos oficiais, três milhões segundo os organizadores –, vestindo verde e amarelo, e gritando “Fora Dilma”, “Fora PT”, não adianta mais a presidente Dilma Rousseff lançar pacote contra a corrupção, numa tentativa ilusória de salvar seu governo.
Pelo entendimento das massas, um governo protagonista de um escândalo do tamanho do Petrolão – desvio estimado em R$ 2 bilhões em propinas da Petrobras, de acordo com o Ministério Público – não tem a mínima moral para combater corrupção. O governo precisa é assimilar o sentimento da rebelião das massas, conscientes de sua força, com olhar de Ortega y Gasset: “De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade… Tornou-se o personagem principal. Já não há protagonistas: só há coro.” E os brasileiros em coro querem é virar desordem que está aí pelo avesso.
Na cobertura das televisões, os canais abertos, talvez por cautela ou autocensura, adotaram o esquema “programação normal e o melhor das manifestações”, enquanto canais fechados garantiram transmissão integral; os comentaristas chegaram a apontar o que a presidente Dilma podia fazer como resposta aos protestos, mas ninguém fez o exercício crítico sobre o que ela não deve mais fazer porque será simplesmente inócuo.
O inexplicável
Não adianta mais a presidente Dilma tentar responder às multidões com projeto de reforma política, há muito tempo real necessidade do país, sobretudo pela roubalheira institucionalizada e pelos abusos éticos em todos os níveis. Como está nas redes sociais, as massas indignadas querem essa reforma, mas não com esse governo nem com esse Congresso, ambos desmoralizados.
Não adianta mais a presidente Dilma justificar as medidas de ajuste fiscal e nem mesmo resolver adotar a taxação de grandes fortunas porque a economia está ruim para milhões de brasileiros da classe média para baixo e, segundo o próprio governo, essa situação deve permanecer pelo menos durante todo este ano de 2015. É demais para o povo já sem paciência e revoltado online.
Não adianta mais a presidente Dilma mostrar redução de gastos do governo, nem mesmo com uma reforma ministerial extinguindo metade dos 39 Ministérios. Significará gesto desesperado para reconquistar a sociedade. Isso não é mais possível porque a insatisfação popular já virou ojeriza ao governo.
Não adianta mais a presidente Dilma colocar nas ruas militantes do PT, da CUT, do MST e do Bolsa Família para manifestações a seu favor, como ocorreu no dia 13 de março, pois as massas ficarão ainda mais irritadas sabendo que esses militantes são pagos e mantidos pelo governo do PT. Verão inocentes úteis manipulados por bandidos e reagirão convocando e mobilizando, via internet, cada vez maiores multidões.
Não adianta mais a presidente Dilma fazer novos pronunciamentos à Nação para explicar o inexplicável porque ela mentiu durante a campanha eleitoral e após reeleita fez tudo ao contrário, traindo seus próprios eleitores e todos os brasileiros. Por isso, agora, todos os seus pronunciamentos serão rechaçados, no mesmo instante em que estiverem sendo feitos, com panelaços por todo o país.
Renunciar ou ficar nocauteada
Não adianta mais a presidente Dilma tentar ignorar a rebelião das massas alegando que as grandes manifestações contra ela são de eleitores da classe média ou que não votaram nela: primeiro, a verdade é que são eleitores de todas as classes e milhares seus eleitores arrependidos; segundo, é igual e merece igual respeito o voto de todos os cidadãos; e terceiro, como está na sentença orteguiana, “qualquer verdade ignorada prepara sua vingança”.
Não adianta mais a presidente Dilma insistir que deseja diálogo com o Congresso e com a sociedade. Os congressistas agora estarão fugindo de um governo que está no chão, rejeitado pela sociedade. E a sociedade está querendo distância de um governo que prioriza o projeto de poder do seu partido e deixa de lado os interesses, anseios e necessidades do povo. Quando o governante não entende a alma do seu povo, acaba rejeitado pelo povo.
Não adianta mais a presidente Dilma aparecer com alguma humildade, reconhecendo fracasso ou erros do seu governo, porque isso será interpretado como falsidade, autêntico fingimento, já que o comportamento padrão dela e do seu partido, o PT, é de autoritarismo, personalismo, sectarismo e arrogância. Revolucionários jamais são humildes. Depois, fingir não é lícito, nem aceitável, mas repudiável.
Não adianta mais a presidente Dilma adiar o inadiável acreditando que vai recuperar sua popularidade, num processo de autoenganação. Manifestações como essas, gigantescas, têm enorme poder de influência no Ibope negativando indecisos e apoiadores parciais. Comprovação está na mais recente pesquisa Datafolha: aprovação ao governo Dilma caiu de 23% em fevereiro para apenas 13% agora após os protestos.Caiu quase ao nível mais baixo do governo Collor.
Esta é a verdade das manifestações que encheram as ruas e as telas de televisão. Não adianta mais nada. Não se trata de golpismo, nem de conspiração, nem de opinião, mas de constatação. O governo Dilma perdeu moral, respeito, confiança, dignidade e credibilidade. Está desconectado da sociedade brasileira.
Só restam à presidente Dilma Rousseff e suas circunstâncias duas alternativas: ou renunciar, evitando o impeachment e deixando o cargo livre para que seu sucessor possa dar um novo rumo ao Brasil; ou, então, ficar nocauteada, sangrando, grogue e se arrastando no tatame do Palácio do Planalto, sem a mínima condição de se levantar para governar. Ou seja, o governo Dilma acabou.
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Jota Alcides é jornalista e escritor