O partido que lidera as intenções de voto hoje na Espanha foi criado há pouco mais de um ano. Trata-se do Podemos, organização política que emergiu do movimento dos “indignados”, que tomou as ruas. Quatro meses depois de sua criação (em janeiro de 2014), o partido alcançou 8% dos votos totais na eleição para o Parlamento Europeu. Para o pleito deste ano, pesquisas apontam que ele baterá os tradicionais PP (Partido Popular) e PSOE (Partido Socialista).
Um dos instrumentos do Podemos para conseguir essa façanha foi o uso da tecnologia. O partido usa com maestria várias ferramentas da internet. Não podendo contar com a cobertura da mídia espanhola, o Podemos criou sua própria mídia. Com uma diferença importante: as ferramentas digitais são fundadas na ideia de participação.
Os membros do partido (hoje mais de 350 mil) são diretamente responsáveis pela construção de políticas públicas e pela tomada de decisões. O princípio é a horizontalidade, e não o tradicional modelo “de cima para baixo”.
Muitas são as ferramentas usadas para isso. A começar pelo website do partido (podemos.info). Em vez de ser mera peça de propaganda (como boa parte dos sites de partidos brasileiros), é uma mescla de portal de transparência com manual de instruções sobre “como usar” os canais da legenda. Em vez de overdose de propaganda, informação.
Democracia e participação
Mas o mais interessante são os sistemas para a tomada de decisão. O Podemos apropriou-se de um aplicativo para smartphones chamado Appgree (corruptela de App e Agree). É uma ferramenta poderosa para a construção de decisões coletivas. Pode-se promover consultas deliberativas tanto para pequenos grupos quanto para toda a população de usuários, mesmo que estes sejam milhões de pessoas.
A ferramenta gera respostas estatisticamente válidas em curtíssimo tempo. É como se fosse um WhatsApp, só que para gerar consultas públicas. Por meio do Appgree, o Podemos organiza os chamados “círculos”, grupos deliberativos com os quais compartilha suas decisões.
Além disso, a legenda criou o Plaza Podemos. Trata-se de um grande fórum de discussões completamente aberto na rede. Em vez de reinventar a roda, o partido apropriou-se do Reddit, um dos mais populares fóruns de mensagens da rede, para hospedar o Plaza Podemos. Uma curiosidade: o Reddit teve entre seus criadores Aaron Swartz, pensador e ativista político dos EUA que tirou sua própria vida aos 26 anos lutando por direitos na internet. Swartz (que, vale dizer, era meu amigo) ficaria feliz ao ver o uso que o Podemos fez da sua criação.
Em um país em que a taxa de desemprego é hoje de 23% e onde 50% dos jovens estão desempregados, o Podemos surge como caminho. Sua estratégia é de aprofundar a democracia e a participação, usando a tecnologia para isso. Enquanto não se desviar dessa rota, deve continuar a crescer.
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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro