Esta poderá ser caracterizada como a eleição do Jornal Nacional. Pela primeira vez, os principais veículos da mídia brasileira resolveram destinar espaços igualitários aos candidatos à presidência da República, conferindo uma visibilidade inusitada para a política. Conseguiram? Nos estados em que os afiliados à Rede Globo não acompanharam a orientação da matriz, a campanha custa a pegar, limitando-se, com as novas restrições eleitorais, aos espaços gratuitos no rádio e na televisão.
Por tudo isso, cresce a importância da mídia no processo político-eleitoral brasileiro. O Doxa, Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, com sede no Rio de Janeiro, em levantamento que vem realizando entre quatro grandes jornais, mostra uma evidência que leitores e telespectadores já conheciam: a mídia dá mais importância a quem está na frente. Por isso, os maiores e mais privilegiados espaços são para Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, e Geraldo Alckmin, do PSDB. Mas Heloísa Helena, do PSOL, e Cristovam Buarque, do PDT, também têm boa projeção. ‘Isso pode parecer óbvio, mas só é assim porque estamos acostumados, em outros países é diferente”, aponta Gabriel Mendes, um dos responsáveis pela pesquisa.
Positiva, negativa, neutra
Criado com o objetivo de analisar a formação da opinião pública no meio eleitoral, desde 1996 o Doxa estuda o papel da mídia nesse processo. E desde 1º de fevereiro deste ano, o núcleo investiga a cobertura dos candidatos ao Planalto realizada por quatro dos mais importantes jornais do país – O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. A pesquisa inclui citações e matérias com valência positiva, negativa ou neutra. Conforme esclarece em seu site:
“Optamos por classificar as valências de acordo com seu efeito potencial para a candidatura em questão, notando-se ou não intenção de viés ou parcialidade jornalística. Desta forma, os principais critérios para identificar a valência da matéria, em relação a cada candidato, procuram esclarecer se ela beneficia ou prejudica sua candidatura.
Positiva: matéria sobre ou com o candidato reproduzindo programa de governo; promessas; declarações do candidato ou do autor da matéria ou de terceiros (pessoas ou entidades) favoráveis (contendo avaliação de ordem moral, política ou pessoal) ao candidato; reprodução de ataques do candidato a concorrentes, resultados de pesquisas ou comentários favoráveis.
Negativa: matéria reproduzindo ressalvas, críticas ou ataques (contendo avaliação de ordem moral, política ou pessoal) do autor da matéria, de candidatos concorrentes ou de terceiros a algum candidato, resultados de pesquisas ou comentários desfavoráveis.
Neutra: agenda do candidato, matéria sobre ou citação de candidato sem avaliação moral, política ou pessoal do candidato. Do autor da matéria ou de terceiros, inclusive de concorrentes.”
Disputa
Coordenado pelo professor Marcus Figueiredo, o Laboratório acompanha diariamente todas as menções a qualquer candidato à presidência, seja ela feita em reportagem, charge, coluna, foto ou até mesmo em editorial. A proposta é traçar um quadro concreto do comportamento da grande imprensa nos processos eleitorais, identificando casos particulares, como parcialidade explícita ou até mesmo manipulação. Além desse trabalho, o laboratório possui sete pesquisas completas e mais sete em andamento.
No resultado parcial divulgado, pode-se observar que a cobertura de Lula é dividida entre candidato e presidente. Como candidato, por sua alta intenção de voto, Lula possui muito mais matérias positivas ou neutras do que como presidente. Tanto no Estado de S.Paulo quanto em O Globo, por exemplo, a cobertura destinada ao presidente Lula é sistematicamente contrária ao político, mantendo uma média entre 40 e 50% de menções negativas e entre 10 e 20% de notícias positivas.
Alckmin possui uma cobertura relativamente equilibrada, com picos negativos marcados em períodos em que São Paulo, estado que foi governado por ele, sofreu os piores ataques do PCC. Heloísa Helena é a que possui a maior média de notícias com aspecto positivo. Com um número baixo de menções, em comparação a Lula e Alckmin, a candidata do PSOL consegue uma boa proporção de matérias positivas, embasadas pelo crescimento de sua candidatura.
Entre os candidatos com cerca de 1% nas intenções, apenas Cristovam Buarque se destaca pela visibilidade recebida. Rui Costa Pimenta (PCO), Luciano Bivar (PSL) e José Maria Eymael (PSDC) raramente passam de dez menções por quinzena em um único jornal, bem menos do que o candidato do PDT. Isso se explica pela projeção nacional de Buarque, que já foi Ministro e é um reconhecido parlamentar, além de possuir o apoio do PDT, partido mais consolidado do que os de seus adversários diretos.
Essa dicotomia entre intenção de voto e visibilidade nos jornais se reproduziu também quando Garotinho e Alckmin possuíam praticamente os mesmos percentuais nas pesquisas. O espaço dedicado à cobertura da candidatura do tucano sempre foi muito superior àquele destinado a Garotinho, provavelmente pelos mesmos motivos que explicam a situação de Cristovam Buarque.
Clique aqui para conhecer os gráficos com a cobertura dos quatro jornais em relação aos candidatos.
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Jornalista