Estamos acompanhando pelo rádio e pela televisão uma campanha exaustiva e recorrente em defesa e pela confirmação dos votos neste processo eleitoral. A cruzada empreendida pelo Tribunal Superior Eleitoral é decorrente do processo crescente de desconfiança e descrença nos políticos e partidos políticos. Em recente pesquisa divulgada pelo Datafolha (27/8/2006), os eleitores, quando perguntados se votariam caso o voto não fosse obrigatório, 49% responderam que não. Comparando esta porcentagem em relação a agosto de 1989 (44%), o índice de subiu 5 pontos. Só este dado ilustra o questionamento não só do voto obrigatório, mas os limites da nossa democracia representativa.
Conjugado ao descrédito da política, também se acompanha, via internet, uma campanha em defesa do voto nulo e pelo não comparecimento dos eleitores nestas eleições. As crises do mensalão e dos sanguessugas provocaram uma onda de protestos na internet, desde listas contra tais práticas políticas até convocações para que os eleitores se manifestassem – por exemplo, no Dia da Independência. O e-mail, com a mensagem “Esta é a hora” convocava todos os cidadãos a tornar público seu protesto contra a corrupção e os maus políticos. Segundo a mensagem, todos deveriam acionar buzinas e bater em panelas para mostrar repúdio às práticas ‘nefastas’ e a favor da ética na política.
Desvios na política
O TSE, preocupado com estas manifestações, está veiculando desde o começo da campanha eleitoral deste ano inserções publicitárias convocando os eleitores a votarem e a assumirem sua responsabilidade enquanto cidadãos. Vejamos um exemplo:
** A peça publicitária acompanha a caminhada de um rapaz percorrendo várias paisagens, como um posto de saúde, uma rua arborizada com casas e prédios, uma rua com carros e ônibus, uma escola. Durante sua passagem aparecem, em destaque, as palavras habitação, transporte, saúde, segurança e educação. Ao fundo se ouve uma música, ao som de batuques, e também o barulhinho da tecla da urna eletrônica com a “confirmação” do voto. Em off, o locutor diz a seguinte mensagem: “Olhe à sua volta, são várias as razões para você votar. A sua escolha nas eleições vai apontar toda a sua vida. Você é o patrão. Vote e cobre. É preciso votar. Pense e vote – o Brasil é tão bom quanto o seu voto. O Brasil está nas suas mãos. Vota Brasil”.
Em todas as inserções do TSE o eleitor é chamado de “patrão” dos políticos e, portanto, é convocado a fiscalizar e acompanhar todos os passos de seus representantes. Neste caso o eleitor é novamente cobrado a “cumprir a sua obrigação” e, de certa maneira, responsabilizado pelos maus políticos e pelos desvios da política.
De acordo com o TSE somos 125.913.479 eleitores no Brasil. O apelo para votar e referendar a nossa democracia é constante. A ver se este esforço do TSE e também de todos os meios de comunicação trará o resultado esperado.
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Professora do Departamento de Política e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, pesquisadora do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pesquisadora do CNPq