Desde o acidente que matou 154 pessoas no avião da Gol, no ano passado, a aviação civil brasileira passa por uma crise há muito tempo anunciada. Praticamente todos os dias lemos ou assistimos, nos diversos meios de comunicação, as reclamações, lamentações e a indignação de pessoas que passam horas e mais horas nas filas de espera por seus vôos.
Porém um outro problema, mais duradouro e muito mais crônico, afetas milhões de brasileiros diariamente: o transporte público urbano. Todo dia, milhões de homens e mulheres necessitam enfrentar ônibus e metrôs no que são verdadeiros testes de resistência.
Dois pesos, duas medidas
Transportados na maioria das vezes como uma simples carga que não merece o mínimo dos cuidados, trabalhadores, donas de casa, estudantes e desempregados, enxergam no martírio diário das conduções, a perda da dignidade humana.
E, como se fosse pouco, esses milhões de brasileiros ainda são obrigados a pagar tarifas abusivas a um verdadeiro cartel, que envolve empresas privadas e setores governamentais; a EMTU, em Pernambuco, é um claro exemplo disso.
Dessa forma, é importante dizer que as dificuldades enfrentadas por quem necessita viajar de avião, sempre alardeadas pela imprensa, são mínimas quando comparadas com as que a esmagadora maioria dos brasileiros enfrentam diariamente.
Aviões e ônibus
É verdade que, por entre as pontes aéreas, circulam homens que movimentam grande parte do capital nacional; mas é indiscutível que, no chão, é carregada como carga a esmagadora maioria da mão-de-obra brasileira, que representa o coração de qualquer economia.
A diferença entre a cobertura que a imprensa faz em relação aos problemas enfrentados na aviação civil e no transporte público urbano não está em sua gravidade, mas, sim, em quem está sendo transportado. A diferença está não nos transportes, mas nos transportados.
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Estudante de História da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE