Em sua coluna de domingo [4/3/07], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, tratou de um tema que comoveu muitos leitores: a série de reportagens denunciando as péssimas condições oferecidas aos veteranos feridos na guerra do Iraque no hospital militar de Walter Reed, em Washington. ‘Geralmente, as grandes matérias vêm de estranhos que viram alguma injustiça, mas que não souberam o que fazer’, conta ela. ‘Foi assim que começou esta investigação no Post‘.
Uma pessoa ficou horrorizada ao ver como os pacientes eram tratados no hospital militar e ligou para a repórter especializada em segurança nacional Dana Priest, ganhadora de um prêmio Pulitzer por uma reportagem sobre prisões secretas da CIA. A repórter Anne Hull também foi chamada para ajudar na matéria sobre Walter Reed.
A dupla começou a apuração ligando para familiares de pessoas que estavam no hospital, cujos nomes foram fornecidos pela fonte que entrou em contato com o jornal. As repórteres também foram ao local, para ver com os próprios olhos as péssimas condições destinadas aos militares e para fazer entrevistas com os internados e seus parentes. Tudo sem ser incomodadas. ‘Ninguém prestou atenção em nós’, conta Dana sobre os guardas do hospital.
Fazer a diferença
A cada vez que saíam do hospital, elas se emocionavam com o que viam, mas optaram por não procurar grupos de defesa de direitos humanos nem instituições de veteranos para não despertar a atenção para o caso antes de terem certeza sobre o que iam escrever. ‘Queríamos ter certeza de que era tudo verdade’, explica Dana. ‘É necessário muito tempo para ganhar a confiança dos entrevistados’, completa Anne, que chegou a dormir uma noite no chão do quarto com um soldado e sua esposa. ‘Ninguém queria ouvir aquelas pessoas, mas era o que nós mais queríamos’.
As duas queriam mostrar com suas matérias que muitos daqueles soldados não seriam mais capazes de trabalhar e ficariam desempregados e dependentes. A intenção era provocar o Exército a fazer algo por estas pessoas. Depois de quatro meses de apuração, as jornalistas fizeram uma lista com mais de 30 perguntas para os oficiais superiores do hospital, vários dias antes da série começar a ser publicada, em 23/2. O Exército criticou as matérias, alegando que apenas um lado foi ouvido – elas não chegaram a consultar o setor de relações públicas do Exército –, mas também não apontou imprecisões.
Dana considerou o trabalho um dos melhores de sua carreira, por causa da resposta imediata que obteve. Pouco mais de 24 horas após a publicação, o Exército estava pintando o local, matando baratas e ratos, removendo fungos e resolvendo diversos entraves burocráticos enfrentados pelos soldados. Membros do Congresso ordenaram uma investigação especial e o secretário de Defesa, Robert M. Gates, nomeou um grupo de especialistas para fazer as recomendações. O general George W. Weightman, comandante de Walter Reed, foi demitido e o secretário do Exército Francis Harvey renunciou. Diversos blogs divulgaram links para a matéria, que recebeu centenas de comentários com elogios.