O Natal vem progressivamente perdendo seu valor simbólico religioso, com a consagração dos interesses mercadológicos. Ainda que não haja exatidão acerca da data do nascimento de Cristo e a definição do dia 25 de dezembro para tal comemoração se relacione com a cristianização de festividades pagãs que vários povos celebravam na Europa no início do solstício de inverno, a efeméride foi verdadeiramente firmada a partir de sua conexão com a religiosidade. Mas hoje o festejo é muito mais publicitário.
Campanhas de publicidade natalinas invadem os lares, que estão em um clima psicologicamente favorável para o aumento da atividade comercial. O marketing publicitário insiste nessa ideia de que a generosidade material é o símbolo padrão do Natal e atinge o inconsciente das pessoas, induzindo ao consumo sem limites. Natal, para a grande maioria, significa dar e receber presentes, mesa farta e família reunida. Mas para celebrar o quê? Os presentes, o consumo, ou o sentido religioso da data?
Uma grande estratégia publicitária fez com que a Coca-Cola, em 1931, difundisse e padronizasse a imagem atual do Papai Noel, criada pelo cartunista alemão Thomas Nast. A campanha tinha como objetivo aumentar o consumo da bebida no inverno, pois nesse período as vendas eram baixas. O bom velhinho é um personagem inspirado em um bispo do século IV (que não usava nem gorro e nem galochas), São Nicolau. O bispo tinha o costume de deixar nas chaminés dos mais necessitados bolsas cheias de moedas de ouro. Seu hábito fez com que, após sua morte, fosse considerado santo e sinônimo de inigualável bondade.
A alma do negócio
Esta bem sucedida jogada de marketing da Coca-Cola é uma grande prova de que a publicidade tem grandes efeitos no inconsciente e no consciente humanos. Quando se pede a uma criança que faça um desenho que represente a data natalina, ela esboça uma árvore com neve e muitos presentes no chão, com destaque para um Papai Noel com roupas típicas do inverno do hemisfério norte, sendo o Natal do Brasil no verão.
Está claro que há uma aliança entre tradição e publicidade, pois o mercado muito lucra com toda essa festança. Favorecendo a economia, essas campanhas lançam no imaginário do consumidor a ideia de que ter e presentear são mais importantes que demonstrações de afeto não-materiais.
Festejado em uma época onde a propaganda é a alma do negócio, o dia 25 de dezembro divide suas comemorações religiosas com a corrida publicitária. Em tempos fervorosamente capitalistas, o consumo desenfreado só contribui para o crescimento de indivíduos cada vez mais comprometidos com essa postura consumista. A exaltação publicitária ressalta a festividade, mas dissolve o caráter verdadeiramente religioso. Já o bom velhinho, sem a Coca-cola, continuaria sendo apenas um bispo bem-feitor. Portanto, boas compras! Ou, se conseguir vencer a guerra publicitária, reflita com base no caráter transcendental da festa.
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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduanda em Comunicação Social – Jornalismo na mesma instituição