Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A importância do Código de Ética

Pode parecer utópico falar de ética a jornalistas que recebem baixos salários, em meios de comunicação conduzidos por políticos ou financiados por publicidade oficial. Temos que aceitar que é utopia falar que informação pública seja um direito, se praticamente toda a atividade de comunicação, no Brasil, é monopolizada por empresas privadas. Mas é uma realidade que tem que ser mudada e transformada para que a vida pessoal e profissional adquira outra fisionomia.

Nesse contexto, devemos identificar nos Códigos de Ética a insatisfação com a realidade, reconhecendo neles o estado desejável das coisas. Aceitar que a realidade não agrada e que necessitamos mudá-la. Pode ser utopia, parecer impossível. Mas o possível é parte da realidade.

Não dá para exigir de uma só vez a perfeição, sem etapas intermediárias e como resultado de uma decisão definitiva e única da vontade. Não podemos descartar os retrocessos, erros e a humildade das correções e das retificações. O trabalho árduo de visualizar o possível aponta metas mais altas. É sentir-se responsável por ser humano.

Utopia da profissão

Quando uma categoria profissional elabora ou atualiza um código de ética para orientar a conduta de seus membros, na responsabilidade de todos e de cada um, compromete-se com o melhor de si e também mostra à sociedade os valores que regem suas atividades, tornando público esse cuidado. ‘A ética se situa em níveis mais altos que o real, como expressão, não de outra realidade, mas elevada à sua mais alta potencialidade’, disse Javier Darío Restrepo em sua palestra no Congresso Extraordinário para atualização do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

Fazer jornalismo é interpretar o que acontece, processar a informação, elaborar o conhecimento, em busca de uma visão mais ampla, com perspectiva de futuro, dos fatos de cada dia. É ter a oportunidade de mudar algo todos os dias, ‘registrar os fatos para mudar a história’, como disse Gabriel García Márquez, é a utopia fundamental do jornalismo.

Ética e qualidade técnica são inseparáveis na atividade jornalística, assim como ética e dignidade são valores que se geram entre si, como pessoa e profissional sem necessidade de reconhecimento, se impõe apenas com a força de seus valores. Ninguém nos substitui na tarefa de encontrar a excelência. Os jornalistas registram as idéias, os sentimentos, os sonhos, as vitórias e derrotas de uma sociedade. As imagens, vozes e textos dos grandes jornalistas do passado que fizeram história ocupam um lugar que nem o tempo apagará. Sua missão integral: estar a serviço de toda a sociedade e dizer a verdade, mesmo sabendo das limitações para chegar à verdade. É a utopia da nossa profissão.

Orgulho profissional

A atualização do Código de Ética do Jornalista Brasileiro reafirma valores que são essenciais para o exercício do jornalismo, recordando à mídia sua função informativa, cidadã e educativa, possibilitando à sociedade um debate mais amplo e verdadeiro sobre a comunicação.

O jornalista, segundo o colombiano Javier Restrepo, especialista em ética, deve servir a um só patrão – o público receptor – e deve se pautar pela verdade, responsabilidade social e independência, a serviço de toda a sociedade.

‘Os filósofos, século após século, têm acumulado argumentos para demonstrar que o entendimento humano não pode aspirar a obter a verdade de nada; mas ninguém nos tira da cabeça que estamos ali, em algum meio de comunicação para encontrar e difundir todos os dias a verdade dos acontecimentos; é nossa utopia, tanto mais arraigada, pois é ao mesmo tempo, a razão de nosso orgulho profissional’, disse Javier Darío Restrepo.

[O artigo ‘A utopia ética’ de Javier Darío Restrepo, professor de ética da Fundação para um Novo Jornalismo Iberoamericano (FNPI), está disponível aqui]

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