É pouco provável que uma bala perdida tenha atingido o repórter Amaury Ribeiro Jr., do Correio Braziliense, na quarta-feira (19/9). Tudo indica que ele tenha sido vítima de um atentado premeditado já que vinha escrevendo uma série de reportagens sobre a violência na periferia de Brasília, onde foi baleado.
Bandido pode ser analfabeto, bandido pode não ter o hábito de ler jornais, mas qualquer bandido sabe que quando a imprensa começa a denunciar a violência, a saída é calá-la.
Se, porventura, foi atentado, não parece casual: há um clima de retaliação no ar. Em todas as esferas as respostas às denúncias da imprensa estão cada vez mais violentas. O denunciado, seja ele político ou policial, não quer saber se a imprensa está cumprindo o seu papel social ao denunciá-lo, quer apenas eliminar o incômodo.
Quando o senador Renan Calheiros manda abrir uma CPI contra a Editora Abril porque a principal revista do grupo, a Veja, tem revelado os seus estranhos negócios, cria-se um paradigma de intimidação e terror que logo se irradiará para outros setores da sociedade.
A imprensa não pode ser criminalizada porque denuncia abusos, ela existe justamente para denunciar abusos.
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Amaury Ribeiro: ‘Já tinha sido avisado de que estavam atrás de mim’
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Comunique-se , 24/9/2007Em entrevista ao telejornal Bom Dia DF, o jornalista Amaury Ribeiro Júnior afirmou ter recebido ameaças dias antes de ser baleado na Cidade Ocidental. O repórter do Correio Braziliense estava aguardando um informante que lhe ajudaria em uma matéria sobre a cooptação de menores por quadrilhas na região. Ele afirmou que chegou a sentir que o ‘ambiente estava diferente’ antes de sofrer o atentado. ‘Eu já tinha sido avisado’, disse em entrevista.
‘Eu acho que me arrisquei demais ao voltar ao local. O que me levou lá foi indignação’, explicou Amaury. O jornalista chegou a ser transferido de hospital e permanece sob proteção policial por 24 horas. Sobre o futuro, o repórter, com 20 anos de jornalismo investigativo, descarta novas reportagens envolvendo o tráfico e a violência. ‘Eu acho que é o momento de pensar em outra pauta, outras reportagens. O que pude dar nesse caso eu já dei’, desabafa.
A região do entorno do Distrito Federal, onde Amaury foi baleado, é considerada uma das mais perigosas do País. Os índices de criminalidade superaram os da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Perícia
No sábado (22/09), a Polícia Federal tentou fazer a perícia da cena do crime, mas as únicas evidências deixadas foram a camisa e os sapatos do jornalista que foram lavados pelo dono do bar onde o jornalista foi baleado. Os buracos de balas foram tapados com cimento, o que deixou os policiais surpresos.
Na sexta-feira (21/09), Amaury prestou depoimento informal à Polícia Civil do Distrito Federal, que já traçou um perfil do atirador. José Roberto Arruda, governador de DF, se disse ‘espantado’ com as informações que o repórter apurou sobre a violência na região.
Afastamento
A delegada da Cidade Ocidental, Adriana Fernandes, foi afastada do caso após afirmar que a polícia considerava a hipótese do atentado ter sido uma tentativa de assalto. A possibilidade é descartada pela Polícia Federal e pela Polícia Civil do Distrito Federal. O delegado José Luis Martins assumiu o inquérito.
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Nota da Fenaj
A Federação Nacional dos Jornalistas manifesta seu veemente repúdio ao atentado contra o repórter Amaury Ribeiro Júnior, do jornal Correio Braziliense, baleado na Cidade Ocidental na tarde de ontem (19/09), em Brasília. Na oportunidade que expressa solidariedade à vítima, seus familiares e colegas de redação, exige das autoridades imediata e rigorosa apuração do ocorrido, com punição exemplar dos responsáveis por mais esse ato bárbaro contra o jornalismo, a imprensa como instituição e o direito constitucional de livre informação.
Amaury estava trabalhando numa série de reportagens sobre a violência no entorno de Brasília. Há fortes indícios de crime de mando. Por isso é fundamental a prisão do autor do disparo e, principalmente, a identificação e punição, com os rigores da lei, do possível mandante.
Preocupa a Fenaj e seus Sindicatos filiados a freqüência com que casos semelhantes têm ocorrido no Brasil, especialmente em regiões de alta densidade urbana, como São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, DF ou em áreas de conflito pela posse da terra, como no Pará e Maranhão. Os relatórios produzidos anualmente pela Fenaj demonstram que a mesma violência que atinge diariamente milhares de cidadãos brasileiros também faz vitimais, às vezes fatais, entre os profissionais da imprensa. Por essa razão, a Federação e Sindicatos têm reivindicado a adoção por parte das empresas de comunicação de medidas que garantam a proteção, saúde e a vida dos jornalistas e demais integrantes das equipes de reportagens em coberturas que envolvam riscos.
A Diretoria da Fenaj soma-se à iniciativa do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal de propor a realização de seminário sobre a segurança da profissão de jornalista em Brasília e nas cidades satélites, envolvendo o sindicato patronal e a Secretaria de Segurança do DF. [Brasília, 20 de setembro de 2007. Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas]
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Nota do Repórteres Sem Fronteiras
Repórteres Sem Fronteiras preocupa-se com o estado de saúde de Amaury Ribeiro Junior, do cotidiano nacional Correio Braziliense, vítima de um atentado em plena rua em 19 de setembro de 2007, na periferia de Brasília. Baleado na barriga, foi imediatamente encaminhado ao hospital. No momento dos tiros, o jornalista estava realizando uma reportagem sobre o crime organizado.
‘Ainda ignoramos se Amaury Ribeiro Junior estava pessoalmente visado ou se foi vítima de uma bala perdida, mas o jornalista encontrava-se nesse local para uma reportagem sobre os narcotraficantes. Solicitamos que investigações aprofundadas sejam feitas prontamente para encontrar os responsáveis desta tentativa de homicídio’, declarou Repórteres Sem Fronteiras.
Indivíduos dispararam contra o jornalista nas proximidades de um bar na Cidade Ocidental, na grande periferia da capital federal. Os agressores não foram identificados e a polícia não pôde prender nenhum suspeito.
Amaury Ribeiro Junior, originário do estado de Minas Gerais (região Sudeste), é o autor de uma série de artigos publicados pelo Correio Braziliense sobre a violência e o tráfico de drogas na região de Brasília. Ele fazia uma reportagem na Cidade Ocidental há mais de um mês e havia realizado diversas entrevistas com famílias vítimas da violência, assim como com jovens ligados às gangues. Em razão de ameaças, o jornalista havia tomado a decisão de se locomover em um carro sem a identificação do jornal.
Os recentes artigos do Correio Braziliense que denunciam a violência na capital e seus arredores provocaram uma resposta do município, que se engajou a reagir, enquanto o governo federal anunciou que reforçaria a presença de policiais na região. [20/9/2007]
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Nota do Correio Braziliense
O Correio Braziliense lamenta o atentado sofrido pelo repórter Amaury Ribeiro Jr, atingido à bala quando exercia a profissão na Cidade Ocidental. Condenável em todos os sentidos, o ato de violência não freará a determinação deste jornal de denunciar o crime organizado na capital da República e vizinhança sem, contudo, deixar de zelar pela integridade física dos profissionais da empresa. O tiro que por pouco não roubou a vida do repórter reforça a urgência de o governo federal abdicar da inércia e apoiar os governos do DF, Goiás e Minas Gerais no combate à bandidagem que finca pé no Entorno do Distrito Federal. [20/9/2007]