Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A inconsciência negra

Um dia de reflexão, debates e manifestações culturais. Assim é celebrado, em todo o Brasil, o Dia da Consciência Negra. A data, de 1695, marca a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência do negro no Brasil e remete a uma triste constatação: a falta de conscientização e o enraizado preconceito que permanecem vivos na sociedade.

Temas que ainda geram polêmica como as cotas em universidades, dividem opiniões e põem à prova o conhecimento das reais necessidades que o país atualmente enfrenta. Isso não diminui a necessidade de acessos igualitários a empregos e melhoria da qualidade de vida para os negros.

Num país em que apenas 5,4 % da população (IBGE, censo de 2000) se declaram negros, as ações são ainda mais urgentes não só para mudar a ‘inconsciência negra’ como para mudar conceitos e quebrar estigmas tão presentes na sociedade. Não se pode conviver em uma sociedade que fecha os olhos para questões como baixos salários, desigualdade na concorrência por emprego, falta de acesso à educação e saúde e insegurança. Os cidadãos e cidadãs têm o dever de trabalhar para que seja extinto esse racismo velado.

Os 314 anos da morte de Zumbi nos fazem refletir sobre a grande riqueza que os negros trouxeram para o país e que ainda são pouco valorizadas. Tradições como o Congado, a capoeira, as danças, comidas e cores – que fazem de nós uma nação única – ganham pouco espaço ou quase não existem nos livros didáticos e no ensino público.

Luta permanente

Em 2003, o presidente Lula aprovou a lei que inclui o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar e torna obrigatório o ensino de história da África nas escolas públicas e particulares do país. Apesar da lei, a maior parte das escolas do país não tem um trabalho efetivo para a valorização da cultura negra. Nos livros didáticos, o negro aparece principalmente em dois momentos: em menções à abolição da escravatura e ao apartheid.

Alguns passos, ainda que tímidos, já foram dados para diminuir essas desigualdades, mas as ações efetivas têm um longo caminho pela frente. No Dia da Consciência Negra, nada melhor do que seguir os passos deixados por Zumbi dos Palmares e lutar não só pelos direitos dos negros, mas de todos que sofrem com a falta de oportunidades.

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Jornalista, Nova Lima, MG