Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mediocridade da mídia

O lixo em forma de cultura invadiu a mídia. Ganha e aumenta espaço em detrimento de assuntos relevantes e programas úteis. É a vitória do ridículo sobre o sério. Da estupidez contra a inteligência. Um triste sinal do novo milênio. O número de títulos, principalmente de revistas de bom papel, páginas ilustradas, com aspecto de primeiro mundo e conteúdo ordinário, aumenta como praga em lavoura. Espalha-se, permanece forte e imbatível, incentivado por grupo de pessoas de gosto duvidoso e promovido pelos espertalhões. Um autêntico fenômeno dos dias atuais.

A pirataria corre solta e aos olhos das autoridades. Espalha produtos audiovisuais da pior espécie, que ferem o ouvido e insultam a nossa inteligência. E temos que conviver com uma situação como essa, que envergonha o país e depõe contra a cultura, vendida igual a pirulito açucarado.

Na mídia, o assunto de menor importância é tratado como prato de primeira qualidade. A cultura útil é olhada com desdém e má vontade. Diariamente somos bombardeados por uma avalanche de lixo em forma de cultura, que os americanos chamam de trash. Embrulham para presente em papel de luxo e exportam para o mundo em dose maciça e anestesiante. Nossas crianças e adultos alienados acolhem com prazer. Faz parte do cardápio que igual só uma buchada de bode. Há quem não perceba e aceite passivamente. Há quem não goste e chame a atenção para o problema. Faz-se dramático pelas agressões contra um saber saudável e conhecimento autêntico. Há simplesmente quem se omita e pateticamente prefira deixar os acontecimentos rolarem. Se mexer, estraga.

Associo-me àqueles que alertam a respeito dos reflexos maléficos junto às novas gerações ao mostrarem os limites entre o certo e o errado. Incriminador é o silêncio. Na televisão, de um modo geral, o que vemos choca pela permissividade. Sem o menor respeito ao telespectador, é apresentado todo tipo de escatologia. Concurso para descobrir novos humoristas ganha quem apelar à imoralidade e piadas de péssimo gosto.

Nunca é tarde

O domingo é pródigo em quadros dessa natureza. Capricham nos ingredientes encontrados na baixaria. Os exemplos são inúmeros. Prestem atenção. O cinema não fica atrás. E como tudo o que se rotula de gosto duvidoso vende e faz sucesso, eis em nossas telas e vídeos títulos ridículos e desperdício de massa de tomate e catchup em forma de sangue. Quanto mais “sangue” e efeito sonoro em decibéis incríveis, melhor. Filme de arte ou recomendado pela crítica é prejuízo. O recomendável é não passá-lo a não ser em horário que ninguém vai: 13 h. Um país que tem um represente no Legislativo Federal, um Tiririca, que na vida não fez outra coisa a não ser palhaçada, e na literatura o Paulo Coelho, o nosso maior vendedor de livro no mundo, o que desejamos mais?

Na música, inverteram-se os valores. Quem provoca gritos histéricos é um Luan, o novo ídolo. Paula Fernandes, com aquele rosto angelical, vende disco como nenhum outro cantor com potencial. A grande e imensa voz de Cesária Évora, de Cabo Verde, da comunidade portuguesa, calou-se para sempre a (17/12/2011) e a mídia, ficou indiferente. No jornalismo, a mediocridade institucionaliza-se.

Foi-se o tempo em que se selecionavam os textos pela qualidade do conteúdo e o nome do autor, com dias certos. Os bons jornalistas tinham vez. Hoje os critérios são outros, a partir da profissão e atividade de quem escreve. Quem perde é a sociedade com tudo isso. Com raras exceções, quem sabe o que o leitor deseja ler é o jornalista, o resto é defesa corporativista. Que os critérios do novo milênio sejam diferentes e haja espaço para um novo Século das Luzes. Vamos pensar e agir com senso apurado neste ano de 2012. Nunca é tarde para corrigirmos os equívocos.

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[Sebastião Jorge é professor emérito da UFMA, jornalista e advogado]