Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia a reboque do caos

Já foi chamado de apagão aéreo, depois passou ao nível de caos aéreo e, na quinta-feira (21/6), os telejornais apresentaram a situação nos aeroportos como calamitosa.


Quando se trata de dramatizações nossa mídia é perfeita, o mesmo não acontece quando é chamada para explicar, analisar, buscar referências.


O que está acontecendo hoje em nossos aeroportos teve o seu início formal na tragédia aérea com o Boeing da Gol. Mas a crise começou verdadeiramente um pouco antes, quando o governo recusou uma intervenção para salvar a Varig. O ministro Guido Mantega, a ministra Dilma Roussef e o ministro Waldir Pires declararam em uníssono: o vácuo deixado pela Varig seria preenchido ‘pelo mercado’.


Enganaram-se redondamente: a prova está sendo exibida há nove meses consecutivos. O tal do ‘mercado’ não teve condições de tapar o buraco deixado pela Varig.


Com receio de parecerem estatistas, os ministros preferiram a fórmula privatista quando até na matriz da iniciativa privada, os Estados Unidos, o Estado não abdica do seu papel para enfrentar emergências. É claro que faltam controladores de vôo e falta equipamento. Mas faltam, sobretudo, aviões; falta gerenciamento competente e falta pelo menos mais uma grande empresa aérea na competição.


A mídia brasileira aposta sempre no mercado e perde quase sempre. O governo foi na onda e também perdeu. Mas quem paga a conta é a sociedade que sequer pode seguir os conselhos da ministra Marta Suplicy.


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Muitas crises


Mauro Malin


Em matéria de crise aérea, o governo não parece em condições de fazer melhor do que a iniciativa privada. O presidente Lula mostrou comportamento errático. No fim de março, desautorizou uma ação de enquadramento dos controladores por parte da Aeronáutica. Agora, quando a situação é mais desfavorável, autoriza-a. A Infraero não honrou seu nome e descurou das partes mais estratégicas da infra-estrutura do sistema de aviação. Fez nos aeroportos obras cuja prestação de contas não foi engolida por órgãos encarregados de glosá-la. E agora se constata que os aeroportos da cidade de São Paulo estão com capacidade totalmente esgotada. As empresas privadas também têm sua parte na confusão.


A mídia paga o preço de depender exageradamente do governo para obter informações.