Darlan Cunha – o mais novo astro da televisão brasileira – tem apenas 15 anos. Ganhou fama depois de compor o elenco do filme ‘Cidade de Deus’, de Fernando Meirelles, e de participar da série ‘Cidade dos Homens’, que está sendo exibida pela Rede Globo de Televisão.
Em entrevista ao site da 4ª CMMCA, ele confessa que já foi vítima de preconceito por ser negro e estudar em escola pública. Acredita que os atores e atrizes têm uma responsabilidade muito grande em todas as suas ações, pois são vistos como exemplos. ‘Grande parte das crianças e dos adolescentes não consegue separar a vida do ator da vida do personagem. E mais: todos são extremamente influenciados pela mídia e acham que tudo o que é mostrado pela TV é real.’
Por conta disso, ele afirma que o papel da família é fundamental na educação dos filhos. Os pais, segundo ele, devem dialogar com as crianças sobre a presença, a influência e o poder da mídia. ‘Não adianta censurar este ou aquele programa, novela ou filme. É preciso que haja conversa’, defende.
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O que acontece quando um adolescente se torna ‘mídia’?
Darlan Cunha – Ele passa a ter uma grande responsabilidade social. Torna-se imagem, exemplo para crianças e adolescentes. Desde que comecei a fazer filmes e programas de TV, passei a pensar duas vezes sobre minhas ações. Mudei hábitos e posturas. Hoje quando saio com os amigos de escola procuro, por exemplo, não fazer bagunça dentro do ônibus. Sou imagem. É a minha imagem que está sendo vendida. Tenho que ser, à medida do possível, um exemplo. Sei que as pessoas devem ser exemplo sempre, não apenas porque são ou estão na mídia. Mas, pelo fato de estarem, precisam se preocupar mais ainda com essa questão.
Hoje você é ator, mas daqui a alguns anos poderá ser diretor ou produtor. Que tipo de programa de TV você faria para crianças e adolescentes?
D.C. – Acho que as crianças e os adolescentes precisam de programas educativos, voltados especificamente para eles. Mas também penso que seja necessária a exibição de filmes, novelas e seriados que mostrem a realidade deles – o cotidiano, os problemas e os desejos. Talvez, dessa forma, crianças e adolescentes, e principalmente os adultos, prestem mais atenção em sua realidade e deixem de ser individualistas. As pessoas não estão preocupadas com o próximo, só querem saber do seu futuro, do seu bem-estar e do seu sucesso.
Você acredita que a mídia é capaz de influenciar o dia-a-dia de crianças e adolescentes?
D.C. – Claro que influencia, e muito mais do que se imagina. Muitas crianças e adolescentes que moram em comunidades carentes, por exemplo, acreditam que a televisão mostra somente a realidade de ricos e pobres. Se eles vêem cenas de briga ou de sexo, querem logo imitar e experimentar. Dizem: ‘Pô, o cara briga bem. Isso é legal, também quero brigar assim’. ‘Será que aquilo é bom? Eu vou experimentar.’ Acabam, portanto, sendo influenciados. Também pensava assim e era totalmente influenciado pela mídia. Mas hoje, como estou do outro lado, nos bastidores, vejo o quanto a televisão é, na maior parte das vezes, pura imagem e fantasia.
De que forma podemos então educar para esta mídia as crianças e os adolescentes?
D.C. – Conhecer os bastidores de uma novela, de um telejornal, de um set de filmagem ou de uma estação de rádio é uma forma de entender como as coisas realmente acontecem. A família também tem que estar atenta. Proibir de assistir a determinado filme ou programa não resolve. As crianças querem sempre copiar, conhecer e experimentar tudo o que é veiculado pela mídia. É preciso, sim, que a família estabeleça um diálogo, um canal de comunicação. Seria importante que os pais participassem da educação dos seus filhos e, por que não, da educação do vizinho também. Às vezes eu paro no sinal e vejo um menino no sinal fazendo malabarismo ou vendendo chicletes. Daqui a pouco, ele aperta minha mão e pergunta o que tem que fazer para aparecer na TV. Digo que ele tem que estudar, voltar para a escola. Alguns dizem que a mãe não deixa, mas que vão tentar. Passo de novo pelo sinal e ele grita: ‘Oi, já voltei a estudar, hein’. Fico contente. É um caminho.
Você já foi vítima de algum tipo de preconceito?
D.C. – Sou negro, tenho 15 anos e minha família não é rica. O preconceito no Brasil existe sim. É engraçado porque quando eu não era famoso, os estudantes das escolas particulares não falavam comigo nem queriam se misturar. Hoje, porque apareço na televisão e no cinema, eles pedem autógrafos. Trato-os muito bem, afinal todos nós somos iguais, independente de classe, cor, origem ou sexo. Percebo que a participação dos negros na mídia é discreta e que quando eles aparecem interpretam personagens secundários. Todos deveriam ter a mesma oportunidade. E isso vale para os deficientes físicos, para os idosos, para as crianças, para os adolescentes, para os homens e para as mulheres. Seria importante dar oportunidades a todos.