O Washington Post publicou, na semana passada, um artigo de capa sobre as eleições ao governo da Virginia, no qual citava funcionários da Casa Branca, sem identificá-los, criticando o candidato democrata R. Creigh Deeds. Alguns trechos: ‘funcionários da administração disseram estar frustrados com o modo como Deeds está conduzindo sua campanha’, ‘um deles alegou que Deeds cometeu erros graves em diversas frentes’ e ‘funcionários da Casa Branca previram sua perda na terça [venceu o republicano Bob McDonnell]‘.
O uso excessivo de fontes anônimas não agradou aos leitores, comentou o ombudsman do diário, Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [8/11/09]. Fontes anônimas são muitas vezes necessárias e aparecem bastante no Post. Mas o diário parece falhar ao não fornecer aos leitores justificativas para o uso do anonimato.
Segundo as políticas internas do jornal, os repórteres devem ‘se esforçar para contar aos nossos leitores o máximo possível sobre as fontes anônimas que merecem a nossa confiança’. Isto significa oferecer uma descrição suficiente para que os leitores possam avaliar a qualidade da fonte. Uma revisão do uso do anonimato no último mês mostra que leitores geralmente têm poucas informações sobre as fontes anônimas. De 100 matérias publicadas no Post usando fontes não identificadas, 1/3 não tinha nenhuma descrição significativa – somente ‘fontes’, ‘funcionários’ ou ‘democrata’.
Alta administração
Desde que o presidente Barack Obama assumiu o cargo, em janeiro, mais de 120 matérias do Post citaram ‘funcionários da alta administração da Casa Branca’. Mas o que é exatamente este cargo? O Post não tem definições internas para guiar os repórteres. As normas do jornal ainda dizem que é ‘quase sempre possível usar informações úteis sobre uma fonte confidencial’. O manual pede a repórteres que ‘ajudem os leitores com atribuições específicas’. Ou seja, ‘um conselheiro de um senador democrata no Comitê de Comércio’ traz mais confiança do que ‘uma fonte democrata no Senado’.
No entanto, na prática nem sempre é possível fornecer maiores informações sobre as fontes anônimas e, sem elas, os leitores podem ficar privados de revelações importantes sobre corrupção, má conduta e disputas diplomáticas. ‘Eu odeio usá-las, tanto quanto os leitores’, desabafou a repórter Anne E. Kornblut, que co-escreveu a matéria sobre Deeds com Rosalind S. Helderman. Segundo ela, havia poucos funcionários que tinham familiaridade com a campanha do democrata e eles só aceitaram falar sob anonimato.