Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A ‘professora torta’ da sociedade

Estudos realizados por comunicólogos em todo o mundo já comprovaram que a televisão contribui com inúmeras famílias na educação dos filhos. Principalmente em países de terceiro mundo, quando a renda não permite que as crianças fiquem o dia todo com compromissos educacionais.

No Brasil não é diferente. Cinco ou seis emissoras de televisão são responsáveis por construir gerações e o pouco diálogo familiar faz com que crianças, jovens e adultos procurem no controle remoto respostas muitas vezes dispersas da realidade. Respostas que inteligentemente são carregadas por palavras que, nas entrelinhas, nos levam a um raciocínio conveniente aos interesses deste primeiro emissor.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estima-se que a televisão está em 42 milhões de lares brasileiros. Estes números mostram o quanto este meio de comunicação é popular em nosso país e o quanto ele é poderoso frente à opinião pública. Na verdade, guardadas as proporções, podemos comparar a televisão com os líderes de opinião, homens e mulheres que, à frente de um grupo (a sociedade brasileira), convencem os reunidos a pensar de forma igualitária. Quantos políticos já não foram eleitos ou cassados depois de reportagens do Jornal Nacional?

O que estaríamos ensinando?

Acredito que já está mais do que provado o poder de persuasão da televisão, mas muitos esquecem do fator educação. O que aprendemos enquanto assistimos à televisão?

O que as novelas, os telejornais, os desenhos, os filmes mostram são, de fato, conteúdos que podem ser absorvidos como fonte de conhecimento? São realidades factíveis com o mundo existente fora da sala de TV?

O que assistimos são verdades camufladas de um glamour exacerbado. A televisão brasileira erra ao preferir quantidade, ao equivocar-se com este povo que a tem como professora. Os indianos ficam constrangidos ao saberem que suas mulheres são vistas no Brasil como sinônimos de saris brilhantes, jóias caras ou danças a todo instante. De modo algum podemos criticar a proposta de ensinar e mostrar ao brasileiro uma nova cultura. Mas fico me perguntando se, ao exagerarmos, não estaríamos ensinando uma cultura que na verdade não existe? O que estaríamos nós, portanto, ensinando?

Mau exemplo para a sociedade

Programas policiais deixam a notícia de lado para mostrar em detalhes como os traficantes agem para fabricar drogas ou comprar armas. O crime organizado é ensinado a crianças que chagam da escola às 18h.

Como ensinar uma sociedade a ser preocupada politicamente com seu país se, logo após uma reportagem sobre corrupção na Câmara dos Deputados, exibe-se uma bela vitória da seleção brasileira de futebol?

As novelas e os telejornais são alguns dos inúmeros exemplos que poderíamos citar. Que diretores, produtores e empresários repensem suas linhas editoriais, um veículo tão influente, como a televisão, não pode ser visto como mau exemplo para a sociedade. Deve ser parceiro dos povos na construção de uma nação mais inteligente.

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Jornalista, Pindamonhangaba, SP