A República está em polvorosa, ministros do Supremo Tribunal Federal falam em crise entre os poderes, os meios políticos estão assanhados e a mídia afia as garras. Motivo: uma reportagem de Veja (nº 2076, de 3/9/2008) onde é reproduzida a gravação de uma conversa telefônica, rápida e rotineira, entre o presidente do STF, Gilmar Mendes e o senador oposicionista Demóstenes Torres (DEM-GO).
A importância da matéria está na revelação dos dois repórteres que a assinam onde afirmam que o grampo foi feito pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e o seu teor repassado à revista por um funcionário da mesma agência sob a condição de se manter anônimo. A conversa entre as duas autoridades realmente ocorreu, os interlocutores a confirmam, mas a grande crise está montada em cima de apenas três linhas de informação oferecidas pelos repórteres.
Traduzindo: um araponga da Abin fez a gravação, outro a transcreveu e repassou à revista. Não há indicação alguma de que o grampo teria sido ordenado pelo diretor da Abin ou alguma autoridade superior.
‘Crise institucional’
O caso é grave, mas recentemente houve outros piores e ninguém se ouriçou. O resto da reportagem compõe-se de avaliações, análises e impressões sobre um suposto ou talvez verdadeiro surto de grampos nas altas esferas do Estado.
A maior parte do texto da reportagem propriamente dita refere-se à eventual briga entre o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o atual ministro da Justiça, Tarso Genro, aparentemente desafetos.
A denúncia foi apresentada discretamente na capa da revista, esmagada por uma xaropada pseudo-psicológica a respeito de vinganças. Aparentemente os próprios editores não acreditaram que as informações publicadas acionariam o que no domingo (31/8) à noite estava sendo classificado nos blogs como ‘crise institucional’.
Como sempre acontece, a revista rodou na sexta à noite, mas antes disso os grandes jornais já recebiam o material para abrir trepidantes manchetes nas edições de sábado.
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