Quando se trata de educação, todos têm uma parcela de responsabilidade. Todos podem ajudar ou prejudicar.
Os professores não são os únicos responsáveis, embora tenham graves tarefas a cumprir. As famílias desempenham papel importantíssimo, mas sozinhas não conseguem resolver todos os problemas. Os alunos, obviamente, têm seu lugar garantido nesse contexto – a eles cabe o compromisso de estudar. Os políticos deveriam falar menos e fazer mais. Os empresários também. E a mídia também.
No caso da mídia, muito sensato o puxão de orelha que o ombudsman da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, deu no jornal, na edição de domingo (1/2). O jornal sempre recomenda que o governo e a sociedade tenham ações vigorosas a favor de um ensino melhor, mas o que a Folha, ela própria, faz de real e concreto, pergunta Carlos Eduardo? Onde estão as ‘reportagens de fôlego’ sobre o tema? E que tipo de projetos tem desenvolvido para incentivar a leitura nas escolas?
Sempre mais fácil culpar os outros. Ficar parado, mandando os outros se mexerem, é o cúmulo do comodismo – e da incompetência. Por outro lado, a mídia é lugar privilegiado de discussão qualificada das ações e das omissões, dos problemas e dos dilemas na educação.
Lugar de liberdade
Neste início de ano letivo, seria o caso de refletir sobre a medida que o governador de São Paulo, José Serra, acaba de aprovar, criando um sistema on-line antiviolência nas escolas estaduais. O sistema permite acionar a Secretaria da Educação… e a de Segurança Pública. Ora, a função da Segurança Pública seria justamente evitar que a violência se instalasse sequer nas imediações das escolas!
A intenção de Serra é coibir as gangues, as agressões contra alunos, professores e diretores, a venda de drogas, as depredações. Serão instaladas 3,5 mil câmeras. Haverá reforço da ronda policial. Estamos falando de colégios ou presídios? De alunos ou bandidos? Estará a caminho a ‘febemização’ das escolas?
Deveríamos esperar de José Serra (candidato a presidente do país!) uma resposta inteligente para a decadência da escola pública em São Paulo. Investir em atos de vigilância e repressão é reconhecer a incapacidade de administrar pedagogicamente os conflitos sociais que invadiram o espaço educativo.
Uma responsabilidade educacional da mídia é ser lugar de liberdade, no qual possamos ler, pensar e escrever sobre questões como esta.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br