Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A responsabilidade de cada um

Quando se trata de educação, todos têm uma parcela de responsabilidade. Todos podem ajudar ou prejudicar.


Os professores não são os únicos responsáveis, embora tenham graves tarefas a cumprir. As famílias desempenham papel importantíssimo, mas sozinhas não conseguem resolver todos os problemas. Os alunos, obviamente, têm seu lugar garantido nesse contexto – a eles cabe o compromisso de estudar. Os políticos deveriam falar menos e fazer mais. Os empresários também. E a mídia também.


No caso da mídia, muito sensato o puxão de orelha que o ombudsman da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, deu no jornal, na edição de domingo (1/2). O jornal sempre recomenda que o governo e a sociedade tenham ações vigorosas a favor de um ensino melhor, mas o que a Folha, ela própria, faz de real e concreto, pergunta Carlos Eduardo? Onde estão as ‘reportagens de fôlego’ sobre o tema? E que tipo de projetos tem desenvolvido para incentivar a leitura nas escolas?


Sempre mais fácil culpar os outros. Ficar parado, mandando os outros se mexerem, é o cúmulo do comodismo – e da incompetência. Por outro lado, a mídia é lugar privilegiado de discussão qualificada das ações e das omissões, dos problemas e dos dilemas na educação.


Lugar de liberdade


Neste início de ano letivo, seria o caso de refletir sobre a medida que o governador de São Paulo, José Serra, acaba de aprovar, criando um sistema on-line antiviolência nas escolas estaduais. O sistema permite acionar a Secretaria da Educação… e a de Segurança Pública. Ora, a função da Segurança Pública seria justamente evitar que a violência se instalasse sequer nas imediações das escolas!


A intenção de Serra é coibir as gangues, as agressões contra alunos, professores e diretores, a venda de drogas, as depredações. Serão instaladas 3,5 mil câmeras. Haverá reforço da ronda policial. Estamos falando de colégios ou presídios? De alunos ou bandidos? Estará a caminho a ‘febemização’ das escolas?


Deveríamos esperar de José Serra (candidato a presidente do país!) uma resposta inteligente para a decadência da escola pública em São Paulo. Investir em atos de vigilância e repressão é reconhecer a incapacidade de administrar pedagogicamente os conflitos sociais que invadiram o espaço educativo.


Uma responsabilidade educacional da mídia é ser lugar de liberdade, no qual possamos ler, pensar e escrever sobre questões como esta.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br