A Current TV é um canal de TV por assinatura e portal de internet presente nos EUA, Reino Unido e Itália. Foi criado pelo ex-vice-presidente norte-americano e Prêmio Nobel da Paz Al Gore e pelo empresário Joel Hyatt.
Por um ano prestei serviços ali, quando de seu lançamento no Reino Unido. Realizei um filme crítico à política de comunicação do governo de Minas Gerais, que vinha sendo veiculado no canal. Os parágrafos a seguir relatam a tentativa do PSDB de Minas de retirar o filme do ar.
Em junho de 2007 estive no Brasil produzindo o filme ‘Gagged in Brazil‘, um dos últimos trabalhos em meu contrato com o canal. O filme trata da falta de liberdade de imprensa e das relações entre a mídia no Brasil – especialmente em Minas Gerais, no governo Aécio Neves.
‘Visão ofensiva aos jornalistas’
Na semana do dia 31 de agosto de 2007, contatei o governo de Minas Gerais, TV Globo e o jornal Estado de Minas a fim de lhes dar espaço para rebater as afirmações feitas por jornalistas em meu filme. TV Globo e governo de Minas responderam ao meu pedido. O governo de Minas, através de seu assessor Luiz Neto, me enviou o seguinte texto, cujo trecho em negrito entrou na edição final do filme:
From: Luiz Neto <————@governo.mg.gov.br>
Date: Fri, Aug 31, 2007 at 8:08 PM
Subject: assessoria Aécio Neves
To: darth@danielflorencio.com
Caro Daniel,
Conforme combinado, segue resposta à sua demanda.
E no documento Word, anexado:
Resposta ao senhor Daniel Florêncio:
O relacionamento entre veículos de comunicação e os governos federal, estaduais e municipais tem sido constantemente alvo de questionamentos no Brasil. São questionamentos legítimos quando partem de uma análise criteriosa dos fatos. A gravidade da acusação requer uma pesquisa independente e objetiva dos conteúdos jornalísticos publicados pelos veículos de imprensa acusados. As afirmativas feitas contra o Governo de Minas são baseadas exclusivamente em posicionamentos isolados, sendo, muitos deles, de natureza claramente político-partidária, e não como resultado de pesquisa. Uma análise dos conteúdos dos noticiários demonstrará, por exemplo, não existir distinção entre a cobertura realizada pelos veículos de comunicação mineiros das ações do Governo do Estado e da Prefeitura de Belo Horizonte, os dois principais pólos administrativos de Minas e que estão sob gestão de governantes de partidos adversários. Tal acusação sem amparo na realidade expõe, na verdade, uma visão ofensiva aos jornalistas mineiros – aqueles que trabalham nos órgãos governamentais e os que atuam nas redações – ao sugerir que têm conduta diferente da praticada pelos demais profissionais de imprensa brasileiros.
Assessoria de Imprensa do Governador Aécio Neves
A retaliação do PSDB
O filme entrou no ar na Current TV no Reino Unido no dia 27 de maio de 2008 e, uma semana antes, nos EUA. Após uma semana no ar, o filme foi legendado em português e postado no YouTube. O que se viu a partir daí foi uma profusão de links e referências ao filme, com mais de 2.000 entradas no Google, quase 100.000 visitantes na versão do YouTube, além de quase 6.000 visitantes na versão original do filme no site da Current TV.
Pouco menos de um mês após a estréia de Gagged, o PSDB de Minas se encarregou de colocar no ar, também no YouTube, diversas versões de um vídeo-resposta produzido por eles, rebatendo as afirmações apresentadas em meu filme.
E no dia 22 de setembro o filme Gagged in Brazil foi retirado do ar e do site Current.com. Blogs que haviam linkado o vídeo no site da Current TV não mais o exibiam e, ao pesquisar por Gagged in Brazil no search engine do site, ele já não mais aparecia no resultado. No dia seguinte, 23/09, Lina Prestwood, minha commissioning editor na Current TV entrou em contato via telefone esclarecendo o ocorrido.
Segundo ela, na semana anterior, os executivos seniors do canal nos EUA receberam cartas com severas considerações e críticas sérias em relação ao filme. As cartas foram enviadas pelo PSDB de Minas Gerais. O PSDB afirmava que meu filme tinha caráter político-partidário, que não representava a realidade no estado e questionava minha conduta ética na produção do filme. Junto com as cartas, foram enviadas também cópias da versão em inglês do vídeo produzido pelo PSDB e postado no YouTube.
O filme foi, então, retirado do ar e, a pedido do diretor de programação da TV, David Newman, uma investigação foi iniciada pelo gerente de jornalismo da emissora, Andrew Fitzgerald.
Volta à programação
Durante mais de uma semana, elaborei dossiês, contatei minhas fontes no Brasil, e escancarei meus procedimentos para Andrew Fitzgerald, que queria checar quais eram minhas bases para as afirmações no filme, meus procedimentos e se as acusações que o PSDB fizera nas cartas enviadas aos executivos do canal procediam.
A resposta veio no dia 22 de outubro, quando, após analisar minhas informações e as acusações do PSDB, Andrew me envia um email onde comunica que o filme havia voltado para a programação do canal.
‘From: Andrew Fitzgerald <————-@currentmedia.com>
Date: 22 October 2008 03:17:08 BST
To: Daniel Florencio
Cc: Lina Prestwood <—————-@current.com>
Subject: Gagged in Brazil back online
Hey Daniel
I’m happy to inform you that Gagged in Brazil is back live on the website and will be back in rotation on the US and UK networks within the next few days.
Thanks again for all your cooperation in sorting this out.
Andrew’
Felizmente, o filme ainda pode ser visto nos links do YouTube e no site da Current.
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Documentarista