A questão do desenvolvimento continua sendo tratada pela imprensa brasileira como um tema apartado da política, dos negócios e da própria economia. Como se isso fosse possível ou recomendável. Um exemplo é a persistência do jornalismo de negócios em destacar o lucro como único fator de avaliação do desempenho das empresas. Ou a obsessão do jornalismo econômico pela evolução do PIB. É importante observar o crescimento do PIB, mas se não ocorrer concomitantemente à redução da pobreza e das diferenças de renda, esse fator não define desenvolvimento.
Um país que produz riqueza mas não a distribui de maneira mais equânime entre sua população não pode ser considerado um país desenvolvido. Também não se pode afirmar que um país alcançou o desenvolvimento se, nesse processo, destruiu de tal maneira seu patrimônio natural que coloca em risco o bem-estar das gerações futuras de sua população. Portanto, a questão do desenvolvimento não se resolve sem a solução das diferenças sociais e a preservação da diversidade biológica e da capacidade de seguir explorando racionalmente seus potenciais.
Nesse cenário, convém prestar atenção à notícia sobre uma nova promoção do Brasil ao grau de investimento, que se espera seja anunciada brevemente pela agência de classificação de risco Fitch. Quando a agência Standard and Poor´s divulgou, em 30 de abril, sua avaliação de risco da dívida externa brasileira, elevando o país do grau especulativo para grau de investimento, a imprensa em peso celebrou como um gol da seleção nacional em final de Copa do Mundo. Mas faltaram informações complementares que permitissem ao leitor cotizar a notícia com o que lê no dia-a-dia dos jornais.
Políticas e estratégias
A classificação de um país no grau de investimento não significa, necessariamente, que sua economia esteja livre de turbulências. As planilhas que fundamentam a decisão das agências de avaliação levam em conta essencialmente a capacidade do país – bem como de uma empresa – de honrar suas dívidas e cumprir contratos.
O grau especulativo aponta para a existência de oportunidades para os investidores, com risco significativo. O grau de investimento, no caso de um país em desenvolvimento, aponta para a existência de oportunidades com a redução dos riscos, ampliando o cenário para investimentos de prazo mais longo, uma vez que, teoricamente, há mais confiança na capacidade de honrar compromissos.
Para o dia-a-dia da economia, a promoção a grau de investimento também é importante porque alguns dos grandes investidores globais, como certos fundos, são impedidos de aplicar em alternativas de risco elevado e direcionam seus recursos para os países e empresas com grau de investimento. Da mesma forma, cresce a tendência de formação de fundos chamados ‘éticos’, que também levam em conta, entre os fatores de segurança e desempenho dos investimentos, o respeito ao meio ambiente e o potencial de influir positivamente na questão social. Esses capitais tendem a permanecer por prazo mais longo em seus destinos, o que proporciona mais segurança à economia do país e melhora suas perspectivas, facilitando o planejamento das políticas públicas e das estratégias de desenvolvimento.
Conceitos refinados
Ao celebrar a obtenção do grau de investimento pela agência Standard and Poor´s, a imprensa brasileira deixou de lado os outros fatores que complementam o quadro de um país em busca do desenvolvimento sustentável, de longo prazo, capaz de melhorar as condições de vida no presente e assegurar o bem-estar de seus futuros cidadãos.
A confirmação da promoção pela agência Fitch, esperada para breve por analistas do mercado, será mais uma oportunidade para a imprensa abordar o tema da sustentabilidade de maneira transversal, fazendo a necessária vinculação entre economia, negócios e política. Essa abordagem é importante para internalizar na sociedade e, principalmente, no ambiente de negócios, os conceitos que cada vez mais definem o que é desenvolvimento.
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Jornalista