A busca da verdade não tem prazo, não se esgota. Buscar a verdade é um compromisso que transcende a esfera jurídica, é um dever moral, um modo de existir amparado em valores que não se extinguem, não se fragmentam, nem são substituíveis.
O cinquentenário do golpe militar de 1964 aproxima-se do fim: no dia 10 de dezembro, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, entregará à presidente da República, Dilma Rousseff, o balanço destes dois anos de investigações. Não significa que o capítulo mais sangrento da nossa história política estará encerrado. Encerra-se, apenas uma das suas etapas – a primeira, mas não a única, nem a derradeira.
A partir de agora, estará em funcionamento um novo e poderoso vetor no seio da sociedade brasileira – a dinâmica da verdade. E o que fazer com a verdade? Basta conhecê-la? Conhecer o crime, saber quem é o criminoso satisfaz nosso desejo de justiça? E, se não satisfaz, quem nos garante que a punição é peça fundamental para que a justiça seja feita?
Estas são questões graves, adultas, que a sociedade brasileira até hoje não havia encarado e que nos conduzem inevitavelmente à questão da anistia.
Em outras palavras – vale o combinado?
Para ajudar a enfrentar esse dilema, o Observatório da Imprensa conta na edição de hoje com a honrosa participação de três militantes desta busca da verdade: o magistrado, jurista e professor de direito Pedro Dallari, o último coordenador da Comissão da Verdade; e para ajudar a entrevistá-lo, dois grandes repórteres investigativos, de gerações diferentes, mas igualmente engajados na dolorosa empreitada de recuperar o passado e desmontar mentiras: Chico Otávio, do Globo, e Juliana Dal Piva, do Dia. Aqui poderiam estar dezenas de outros e um dia estarão.///
Pedro Dallari: será possível convivermos com a verdade sem levá-la às últimas consequências, isto é, sem percorrer o caminho da punição? (Alberto Dines)
Histórias de vida
Geralmente descobre-se o passado de um país através dos livros de história, mas nós estamos descobrindo a história do Brasil através das biografias. Em agosto saiu o último volume do monumental relato sobre a vida e a morte de Getúlio Vargas, escrito pelo jornalista Lira Neto. agora, pela mesma Companhia das Letras, com a assinatura do historiador Daniel Aarão Reis, está nas livrarias o épico sobre Luis Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança, e a trágica morte de sua mulher, Olga Benário, num campo de concentração nazista.
Daniel Aarão Reis trabalhou com a documentação dos arquivos soviéticos e russos, entrevistou dezenas de testemunhas brasileiras e assim desvendou novos lances sobre o patriarca do comunismo brasileiro. Líder estudantil, militante dos movimentos de resistência à ditadura militar, Daniel Aarão Reis traça um fascinante retrato do revolucionário ortodoxo que durante quase oito décadas foi uma referência na política brasileira.