Mais de 300 integrantes do sindicato dos caminhoneiros, o principal aliado sindical da presidente Cristina Kirchner e do seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, bloquearam no sábado (7/11) de madrugada o acesso às gráficas do La Nación e do Clarín. O cerco às gráficas dos dois principais jornais argentinos durou quatro horas. A polícia nada fez e a Casa Rosada se limitou a convocar ‘paz social’.
A Associação de Editores de Jornais de Buenos Aires (Adeba) afirmou que o bloqueio é o maior ataque à circulação de jornais desde o fim da ditadura militar, em 1983. A entidade emitiu um comunicado no meio da madrugada para anunciar o ‘estado de máximo alerta’ perante o ‘insólito ataque’.
O sindicato citou questões trabalhistas para justificar a obstrução das gráficas. Analistas políticos afirmam, porém, que por trás do bloqueio está o casal Kirchner, que mantém duro confronto com a imprensa.
A ação coincide com a realização em Buenos Aires da assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que avalia as pressões recentes sofridas pelos jornalistas e empresas de mídia na região.
‘Aqui, depois da tempestade não virá a bonança, mas a inundação’, disse Marcos Aguinis, filósofo, psiquiatra e ex-ministro da Cultura argentino.
‘Sarampo anti-imprensa’
No sábado (7), durante o painel da SIP ‘Os novos mecanismos de censura sutil’, Aguinis, autor do best-seller O atroz encanto de ser argentino, disse que ‘não há nada de sutileza no que está ocorrendo’. ‘São atitudes hostis com a imprensa. Os jornalistas são acusados com nome e sobrenome desde a tribuna do palácio presidencial, algo que nunca havia ocorrido desde a volta da democracia’, afirmou.
Outra participante do painel, a jornalista María O´Donnell, autora de livros sobre corrupção no governo Kirchner, disse que a publicidade oficial é uma das formas de pressionar os meios de comunicação. ‘É ilustrativo que a publicidade oficial na Argentina cresceu de US$ 11 milhões em 2003 para US$ 261 milhões em 2009’, disse.
Julio Blanck, editor do Clarín, afirmou que suspeita da existência de uma rede de espionagem contra os jornalistas críticos ao governo Kirchner. Ele sustentou, ainda, que o ‘sarampo anti-imprensa que afeta os Kirchner é parte de um amplo mecanismo para tentar ficar no poder mais quatro anos’.
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Jornalista