O Estadão descobriu que a substituição da floresta por soja ou pastagem reduz as chuvas na Amazônia. Este é tema de uma ampla reportagem publicada na quinta-feira (10/4) pelo tradicional jornal paulista, na seqüência de uma série que faz parte de uma investigação especial sobre a região amazônica.
Mais um pouco, e a imprensa brasileira ‘descobre’ que as chuvas irregulares no Nordeste também podem ter alguma relação com o impacto de atividades predatórias sobre amplas extensões da floresta.
Quem sabe, ainda ficaremos sabendo sobre um fenômeno que os cientistas chamam de aquecimento global.
Curiosamente, observe o leitor as escolhas da imprensa brasileira no debate entre o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre a necessidade de conter a expansão agrícola na Amazônia.
Na edição de quarta-feira (9), todos os jornais deram destaque às declarações de Stephanes sobre supostos prejuízos causados aos pecuaristas pela falta de clareza na definição dos conceitos de bioma amazônico e Amazônia Legal. Além disso, deram grande visibilidade a críticas de deputados ligados à bancada ruralista, que reclamavam das ações da Polícia Federal e do Ibama para conter o desmatamento.
Na edição de quinta-feira (10), os jornais escondem num canto de página a resposta da ministra Marina Silva, mesmo assim porque não podiam ignorar sua presença em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Dia-a-dia
A Folha de S.Paulo fez pior. Abriu a notícia requentando críticas de Reinhold Stephanes e dos deputados que querem menos rigor na legislação sobre recuperação de terras desmatadas e deixou a opinião da ministra do Meio Ambiente no pé da matéria.
Um detalhe: o depoimento da ministra Marina Silva na audiência pública durou quatro horas. E não houve, recentemente, melhor oportunidade para o debate público sobre a questão amazônica do que essa audiência.
Reportagens especiais sobre a Amazônia fazem bem à reputação da imprensa. Mas é no dia-a-dia que se forma a opinião do público.