Coordenadora do Instituto de Investigación en Medios de Buenos Aires, Argentina, Tatiana Merlo Flores pesquisa há 30 anos a relação entre mídia e crianças e adolescentes. O objetivo de seus estudos é orientar as futuras produções voltadas para este público específico. Segundo ela, o tipo de programa que as crianças querem não é aquele que os adultos produzem. ‘É preciso escutar as crianças’, destaca.
Sua última pesquisa ‘TV, como te quero?’ revela que as crianças mantêm um vínculo afetivo com a televisão. Vínculo que deve ser aproveitado e melhor utilizado. ‘Esta ponte existe e é preciso apenas utilizá-la’, diz.
Tatiana defende a criação de uma rede latino-americana de produção de mídia de qualidade para crianças e adolescentes. ‘O ponto de partida’, destaca, ‘será a realização da 4ª CMMCA. Somos criativos e temos qualidade técnica e pessoal. Precisamos nos afirmar como um novo mercado mundial exportador’.
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Que tipo de mídia crianças e adolescentes desejam?
Tatiana Merlo Flores – Há dois anos realizamos uma ampla pesquisa com crianças argentinas, de 7 a 13 anos, chamada ‘TV, como te quero?’. O levantamento mostrou que as crianças querem que a TV inclua em sua programação conteúdos que favoreçam a construção de um mundo mais justo, solidário e igualitário. Querem também conteúdos que as auxiliem no mundo do trabalho. Querem ver suas histórias, assim como as histórias de seus pais e de seus avós. E detalhe: histórias narradas por crianças, não por adultos. Desejam que a televisão as ensine a viver melhor. A qualidade que as crianças querem não é a qualidade que os adultos falam e pensam. É totalmente diferente. Por isso devemos escutá-las, pois elas são audiência e, na minha opinião, uma audiência muito mais inteligente do que a adulta. Fico cada vez mais impressionada com a capacidade das crianças.
Como foi realizada esta pesquisa?
Este vínculo emocional é positivo?
T.M.F. – Positivo ou negativo, é um vínculo afetivo que está posto. É uma ponte que já está constituída e que deve ser, portanto, utilizada. E devemos utilizá-la respondendo às necessidades das crianças e dando respostas as suas inquietações. Mas é preciso rever alguns pontos. É preciso rever conteúdos, programas e até mesmo a publicidade. É preciso que a família participe também deste debate. Recente pesquisa realizada na Argentina mostra que 95% das crianças conhecem toda a programação televisiva. Mas apenas 5% das mães destas crianças conhecem e/ou já assistiram a algum programa infantil com seus filhos. Os pais não estão preocupados. Porém, é preciso que eles participem ativamente deste processo. As escolas, na minha opinião, também deveriam aproveitar este vínculo com a TV, que existe e é real, em vez de ignorá-lo na sala de aula. Está comprovado: a televisão está desenvolvendo um novo tipo de inteligência nas crianças. Estão sendo formadas crianças mais criativas, dinâmicas e conectadas ao mundo. Neste momento, estamos desenvolvendo a 3ª etapa da pesquisa ‘TV, como te quero?’. Queremos identificar que características sobre a TV são comuns em todos as crianças que participaram da pesquisa. A idéia é apresentar estas conclusões finais durante a 4ª CMMCA.
Quais são as suas expectativas para a 4ª CMMCA?
T.M.F. – A realização da 4ª CMMCA é de fundamental importância. A Cúpula deve ser o ponto de partida para a criação de uma rede integrada latino-americana voltada para a produção de mídia de qualidade para crianças e adolescentes. Somos criativos e temos capacidade de produção. Mas precisamos trabalhar juntos. Ter experiências exitosas individuais não adianta. É necessário realizar co-produções e caminhar todos juntos na mesma direção. Desta forma, seremos exemplo para o mundo todo. Temos que ser produtores e exportadores de uma mídia de qualidade, com criatividade e ética. Se as nossas telenovelas conseguem atravessar fronteiras, por que os produtos voltados para o público infanto-juvenil também não podem?