A imprensa parece que adora números e índices – nada melhor que percentuais para ilustrar e demonstrar que as coisas vão bem, ou, de preferência, muito mal – e isso, principalmente em economia. Mas não escapam ao jogo das estatísticas outras áreas, especialmente aquelas em que os números revelam menos do que se poderia ou mais do que se gostaria – e bem ao gosto dos governos por trás desses índices.
Quando se trata então de segurança pública, o buraco é bem mais embaixo. A educação, todavia, não fica atrás (ou mais embaixo, como se queira), ainda mais se o governo já estiver em campanha eleitoral adiantadíssima (o que não é o caso do governador José Serra, em São Paulo). Assim, alguns dados estatísticos apresentados pela secretaria da Educação paulista deveriam, ao menos, causar certa curiosidade na mídia (para não dizer estranheza).
Retornando um pouco nos fatos, parece questionável que um percentual razoável de pessoas que prestaram uma prova para a função de professores temporários da rede pública não tenha acertado sequer uma questão, uma que seja, da referida prova. Nada melhor para pôr a categoria toda no mesmo saco de incompetentes, não? A imprensa discutiu a situação caótica do ensino, apontou alguns culpados e ficou-se nisso mesmo.
A ‘revolução’ educacional
Na semana passada (25/03) o governo paulista divulgou os dados do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), revelando o avanço (ou seria salto?) que se deu nas escolas públicas do estado, em relação às metas estipuladas – e aqui caberia, de novo, um aprofundamento jornalístico nesses dados, porque (curiosamente) a maioria das escolas que tinha apresentado os piores índices anteriormente e que, portanto, precisava atingir determinado patamar de desempenho o fez, e em alguns casos até o ultrapassou. Por outro lado, as que tiveram melhor desempenho no ano anterior, agora não conseguiram atingir as metas determinadas.
Parece estranho, questionável, mesmo que para essas últimas as metas fossem superiores, alguma coisa não saiu como deveria. Há um cheiro duvidoso no ar – que a mídia não parece sentir nem deseja. No entanto, essa mesma mídia não deixa de dar espaço para a ‘revolução’ educacional que o governo paulista (imaginem se fosse na esfera federal, o que não faria?) vem implementando desde o ano passado, apesar dos problemas na distribuição das apostilas (no ano passado) ou mesmo dos erros graves no material (de Geografia), estes últimos divulgados e repercutidos na mídia, até dos países vizinhos.
Números são manipuláveis
Também não falta espaço para a política paulista de bonificação com que se pretende premiar os professores que não tiveram faltas (sejam elas de qualquer natureza) e que cumprirem as metas estabelecidas em suas unidades escolares. Essa é uma questão que mereceria uma análise bem mais cuidadosa.
Parece que certo tipo de mídia prefere apenas um viés dos fatos e se contenta apenas com os dados positivos das ações dos governos, com os números oficiais – e números, todos sabem, são manipuláveis, assim como as informações, quando se quer. Com isso perdemos todos, inclusive o jornalismo – e não haverá estatística que possa camuflar essa triste realidade.
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Funcionário público municipal, Jaú, SP