Numa demonstração de tratamento igualitário às diversas correntes religiosas atuantes no Brasil – o que não tem ocorrido em outras redes nacionais, que costumam na maioria das vezes ser tendenciosas e sectárias – a Rede Bandeirantes promoveu entrevistas com líderes religiosos e no domingo (8/4) entrevistou o pastor Silas Malafaia, que tem formação em teologia e psicologia, escritor de livros, conferencista, e um destaques entre os comunicadores da atualidade no universo evangélico, com programas de rádio e televisão em todo o Brasil.
Ainda que em horário incompatível com o interesse do telespectador comum, ou seja, aquele que acorda cedo na segunda-feira para trabalhar, e num tempo reduzido, em face da temática proposta, a Rede Bandeirantes de Televisão deu um notável exemplo de profissionalismo jornalístico, digno de ser imitado por outras redes, especialmente porque prestou um serviço de relevância social, captando de forma substancial uma nova realidade nacional.
Num tempo em que temos uma imprensa que, na maioria das vezes, não cede espaço para a exposição de visões diferentes, que não são por si excludentes, é vital que a televisão, o jornal, o rádio – sobretudo os de penetração nacional – cumpram seu papel na construção de uma cidadania solidarista, onde se respeite a pluralidade.
Desprovidos de inteligência
Evidentemente que ao conceder este nobre espaço de entrevista no programa Canal Livre ao pastor Silas Malafaia, que é da Assembléia de Deus, numa representação dos evangélicos brasileiros, a Rede Bandeirantes de Televisão o fez num reconhecimento de dados oficiais oriundos do IBGE, segundo os quais os evangélicos somam 15,4% da população brasileira, ou seja, cerca de 26 milhões de pessoas, enquanto por outro lado os pesquisadores apontam o visível decréscimo de fiéis do catolicismo no Brasil.
O que inclusive é o mote maior da visita do papa Bento 16 ao Brasil em maio próximo, com a anunciada canonização de Frei Galvão e com a pretendida instituição, por parte de parlamentares católicos, de mais um feriado religioso, o dia 11 de maio, num país que não possui religião oficial, portanto laico, eis que vige a separação da Igreja do Estado, onde o Estado é constitucionalmente proibido de professar, ajudar, prejudicar ou embaraçar o exercício de fé de qualquer grupo religioso, tendo o dever de resguardar a liberdade de culto, tema no qual a mídia nacional tem guardado um silêncio obsequioso.
Percebe-se nos jornalistas um despreparo para lidar com assuntos atinentes a fé, sobretudo na expressão dos evangélicos, tanto das Igrejas históricas como das Igrejas pentecostais, os quais geralmente são vistos como desprovidos de razoável inteligência e que, em função disso, são passados para trás por líderes religiosos, o que não expressa a íntegra da verdade, sendo exceção estes casos, os quais existem e são veementemente combatidos pelos líderes das Igrejas.
A questão das imagens
Alguns questionamentos feitos na entrevista fogem a um mínimo conhecimento de que a fé cristã evangélica tem a Bíblia, chamada de Livro Sagrado, como regramento de fé e prática, por isso muitas das respostas apresentadas aos entrevistadores terem as escrituras como base de verdade incontestável, o que é na realidade uma expressão de fé dos seguidores de Cristo.
Os jornalistas que compuseram a mesa se viram diante de entrevistado bem preparado intelectualmente para as respostas, mesmo as mais espinhosas, eis que não muito simpáticas aos ‘formadores de opinião’, como a questão da homofobia, que virou lema de grupos de pressão junto ao Congresso Nacional, com apoio de boa parte da mídia, escrita, falada e televisada, na medida em que agora pretendem cercear, através de aprovação de lei, o direito de expressão de opinião daqueles que entendem, e com base em princípios de fé, que o cidadão tem livre arbítrio para fazer suas escolhas, inclusive a sexual, mas que esta opção pela homossexualidade afronta os ensinamentos da Bíblia Sagrada e portanto não deve servir de modelo para a sociedade.
Outro tema abordado, o qual ao longo da história tem trazido dificuldades no relacionamento entre católicos e evangélicos, foi a questão das imagens, as quais são veneradas por aqueles, e rejeitadas, com base na Bíblia sagrada, por estes, o que não tem impedido que em outras temáticas exista um relacionamento respeitoso e de unidade de opinião, como por exemplo contra a aprovação do aborto no Brasil.
Vazio existencial
Com todas as dificuldades inerentes à própria temática, tanto do entrevistado – que, por sua vez, em alguns momentos utilizou-se de expressões somente compreendidas pelos evangélicos e nem sempre elucidativas para os telespectadores não afeitos a essa linguagem – quanto dos entrevistadores do programa Canal Livre, que repetiam questionamentos comezinhos, desperdiçando um tempo precioso num horário nobre de domingo à noite, verdadeiramente tivemos uma aula de democracia jornalística, exemplarmente proferida pela Rede Bandeirantes de Televisão, e que deve ser seguida por outros veículos de mídia, inclusive abrindo espaços para outros grupos religiosos, na visão de que todos têm uma contribuição a dar na construção de um país melhor.
A entrevista, inclusive, concedeu espaço para um depoimento de alguém que está umbilicalmente comprometido com a Igreja Evangélica Brasileira, asseverando que não são as estratégias das Igrejas que transformam as pessoas, e nem que estas estão necessitando do dinheiro dos fiéis, na perspectiva de que o dízimo é uma orientação bíblica para todos os cristãos, mas que esta mudança de vida é resultado da sobrenatural atuação do Espírito Santo Deus constrangendo o íntimo do ser humano a mudar de atitude, através de um compromisso pessoal com entendimento que o sacrifício de Jesus Cristo na Cruz do Calvário é eficaz para o preenchimento do vazio existencial, produzindo paz interior para ser usufruída nesta vida e assegurando a perspectiva da vida eterna.
Responsabilidade social
Foi importantíssimo para um líder evangélico, mesmo com as naturais limitações de tempo do veículo televisão, ser solicitado – e poder responder com tranqüilidade, como orienta o Apóstolo Pedro – a ‘responder com mansidão a qualquer um que pedir a razão da esperança que há em vós…’, não fugindo de questionamentos, enfrentado as perguntas com serenidade e altivez, inclusive reconhecendo as dificuldades das Igrejas com relações as práticas de alguns obreiros, mas defendendo com veemência que o desvio de conduta deste ou daquele pastor, que deve ser penalizado com base nas leis do país, não pode servir de mote para campanhas contra Igrejas evangélicas.
Na Bíblia sagrada, no Antigo Testamento, existe uma expressão proferida pelo profeta Jeremias, que era um homem que falava em nome de Deus ao povo. Mesmo este povo tendo sido levado para a escravidão babilônica, ele registra que o povo deve, e por conseqüência também os evangélicos devem, ‘orar pela paz na cidade, porque na sua paz vós tereis paz’ e que a Rede Bandeirantes de Televisão nos proporcione outros momentos como este da aludida entrevista, focando as relações das Igrejas evangélicas com a sociedade, abrindo espaços igualitários, numa efetivação demonstração de responsabilidade social diante de seus telespectadores de todo o Brasil.
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Advogado, pós-graduado e mestre em direito, conselheiro estadual da OAB/RJ. Autor dos Livros O Novo Código Civil e as Igrejas e O Direito Nosso de Cada Dia, Editora Vida