Em sua última coluna do ano, a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, fez uma retrospectiva da indústria jornalística – em especial, do Post – em seus dois anos de mandato. Neste período, ela relata que o Post e outros diários americanos mudaram a uma grande velocidade. Algumas empresas jornalísticas foram vendidas, outras faliram. Em uma análise jornalística e econômica, o Post continua firme e forte, diz Deborah, mas também sofreu com queda de tiragem e lucros. Os leitores sentiram alguns destes baques – como a diminuição de espaço de algumas seções –, mas o diário esforçou-se para que isto não acontecesse.
Tiragem e lucros em queda
Desde outubro de 2005, quando Deborah começou a trabalhar no jornal como ombudsman, a tiragem do Post caiu 45 mil cópias – para 648.517 vendidas diariamente. A tiragem da edição dominical caiu 64.671, para 904.413. O auge da circulação diária do Post foi em 1993, com 832.232 cópias vendidas diariamente e mais de um milhão aos domingos. Os lucros publicitários caíram drasticamente por conta da migração dos anúncios imobiliários e de empregos para a internet. Já os anúncios online vêm crescendo – ainda não o suficiente para compensar a queda dos impressos – e a média de visitantes mensais ao sítio do diário subiu mais de 15%.
Crescimento online
Em 2005, o sítio teve 7,5 milhões de visitantes únicos por mês, segundo a Nielsen Media Research; em 2007, de janeiro a novembro, este número chegou a 8,6 milhões por mês. O número de blogs de repórteres subiu significativamente, assim como matérias feitas exclusivamente para o sítio. Os jornalistas, observa Deborah, estão se adaptando à internet.
Segundo o jornalista Dan Balz, ‘a maior mudança é o volume de informação e a sua velocidade’. ‘Estamos em um ciclo constante de notícias. Capturar isto e transformar em algo com sentido requer mais que apenas matérias escritas. O uso de vídeos está aumentando para propiciar imediatismo à nossa cobertura. Estamos nos adaptando a esta nova realidade’, explica.
Valores
A equipe do Post – incluindo os que trabalham em meio período e os freelancers – foi reduzida de 900 para 800 pessoas e, provavelmente, irá diminuir mais. Ainda assim, o jornal teve um ano de ótima cobertura nacional e internacional. Para fornecer uma cobertura completa dos conflitos no Iraque e no Afeganistão, o Post mantém 70 funcionários nestes países desde 2003. Para Deborah, o evento mais triste ocorrido nestas áreas de conflito foi a morte de Salih Saif Aldin, repórter iraquiano que trabalhava para o Post – morto enquanto fazia uma matéria.
Segundo Deborah, os valores dos proprietários do jornal têm influência na cobertura. A família Graham ainda segue os princípios de Eugene Meyer, avô do presidente do diário, Don Graham. Dentre eles, estão os de que ‘o jornal deve servir aos leitores e ao público e não aos interesses privados e de seus proprietários’ e ‘o jornal deve estar preparado para fazer sacrifícios – até mesmo financeiros – se for necessário para a verdade e para o bem público’.
Uma das reportagens mais importantes do Post em 2007 foi a do escândalo no Centro Médico do Exército Walter Reed, que levou a uma investigação de como os veteranos de guerra estavam sendo mal tratados. O trabalho de Anne Hull e Dana Priest, as repórteres que escreveram a série, não pode ser medido por circulação, lucros ou prêmios, diz a ombudsman. ‘É medido no efeito que teve nas pessoas afetadas do Walter Reed’, conclui Deborah.