Desde que teve início, em fevereiro, o julgamento dos 29 acusados pelo atentado no sistema ferroviário em Madri – que deixou 191 mortos e 1.824 feridos, no dia 11/3/04 – é registrado por quatro câmeras e transmitido pela TV e pela internet. Para os espanhóis, este tipo de publicidade em torno do caso contribui para uma maior transparência, noticia Helene Zuber [Der Spiegel, 8/5/07].
As imagens captadas são enviadas para a TVE, rede estatal de TV da Espanha, que então as distribui para os interessados. O Datadiar, portal de internet especializado em Direito, transmite o julgamento online, possibilitando a qualquer internauta em qualquer lugar do mundo acompanhá-lo. Na primeira semana de maio, o sítio registrou seis milhões de page views. Pela rede, a audiência virtual pode acompanhar Rabei Osman Ahmed, conhecido como ‘Mohammed, o egípcio’ e considerado o idealizador dos ataques, alegar inocência. É possível também se emocionar com o testemunho dos sobreviventes.
Interesse público
As acusações e a busca dos responsáveis pelos ataques dividiram a Espanha na época e continuam a ser tema de discussão no país. O governo conservador do então primeiro-ministro José Maria Aznar tentou convencer o público de que havia sido o ETA, a organização terrorista basca, o idealizador dos atentados, mesmo quando as agências de inteligência e a polícia tinham evidências claras de que haviam sido terroristas islâmicos. Com isso, José Luis Rodriguéz Zapatero e seu Partido Socialista venceram as eleições em 14/3/04, três dias após os ataques.
Jornais e redes de TV conservadoras tentam ridicularizar as investigações da Corte Nacional. O maior jornal da Espanha, o pró-socialista El País, ironiza os conservadores com suas teorias da conspiração. Talvez por esta razão, o público esteja acessando a internet para ter uma fonte de informação mais neutra. Todas as 93.226 páginas dos documentos da investigação podem ser encontradas no Datadiar.
Cuidados
Tanta exposição de um julgamento que envolve um caso tão marcante pode ser considerada perigosa. São tomadas, entretanto, algumas precauções. As testemunhas não são mostradas de frente e algumas delas, que requerem proteção especial, falam por trás de uma tela, para que os acusados não as vejam. Por isso, o foco das câmeras fica no juiz, nos acusados e nos advogados. O julgamento tem previsão de encerramento para julho.