Eles não gostam de ser rotulados de intelectuais. Tampouco são ligados ao Partido Democrata – que consideram não muito diferente do Partido Republicano de George W. Bush. Preferem ser identificados como ‘progressistas’, ‘independentes’, ou mesmo ‘de esquerda’ – seja lá o que isso signifique para os norte-americanos – e estão engajados em um movimento que busca, em plena era de obscurantismo e censura do atual governo dos EUA, mais do que a liberdade de imprensa: os integrantes do Media Reform Movement querem que os americanos acordem para a realidade da massificação e manipulação da mídia norte-americana, e pregam uma verdadeira revolução na comunicação. [Mais informações aqui]
A onda ainda é pouco conhecida por aqui, mas viceja com força cada vez maior nas universidades e escolas de comunicação de lá. Jornalistas, escritores, advogados, pesquisadores, estudantes e simpatizantes usam, claro, a força da internet para disseminar o conceito de mídias alternativas e levar ao público a ‘verdade’ que há por trás das falácias propagadas pela administração Bush – com foco especial na invasão do Iraque.
Eles se encontram em palestras, reuniões e lançamentos de livros por toda a América. Nomes conhecidos como Gore Vidal, Naomi Klein e Laura Flanders assinam embaixo do movimento. A coisa começa a ganhar corpo e angariar respeito entre formadores de opinião: alguns críticos de mídia já consideram o Media Reform Movement tão importante quanto o Civil Rights Movement.
Formas alternativas
O dinheiro para custear o trabalho de gente envolvida em sites, publicações, produções de filmes e documentários e edições de livros vem de doações e de fundações. A idéia principal do MRM é mostrar que é possível fazer jornalismo sem depender da mass media, dos grandes anunciantes corporativos, nem de dinheiro do governo.
Organizações independentes, com a mesma proposta, já existiam muito antes – Fairness & Accuracy in Reporting (FAIR), Institute for Public Accuracy, MediaChannel, Media Alliance e Media Education Foundation são alguns exemplos –, mas a diferença é que, agora, todos que concordam em quebrar os paradigmas da mídia de massa têm um mesmo
guarda-chuva para se abrigar.
Um dos nomes-chave para entender o Media Reform Movement é Robert McChesney. Há cinco anos, quando o MRM ainda era uma idéia, McChesney escreveu Rich Media, Poor Democracy, uma das bíblias do movimento. Recentemente, em cima da propaganda mentirosa e desastrada do governo americano sobre a invasão do Iraque, e a cobertura das eleições americanas de 2004, McChesney e John
Nichols publicaram outro livro importante para o movimento: Tragedy and Farce: How the American Media sell wars, spin elections and destroy democracy.
Hoje, McChesney luta incansavelmente para que, o que já foi um projeto, se torne realidade em todo o país e fora dos EUA. Assim como ele, outras cabeças do MRM são experientes no assunto: já atuaram na chamada mainstream media, viram como as coisas funcionam, se decepcionaram e, inconformados, resolveram criar novas formas de mostrar e divulgar notícias.
Ferramentas de ‘combate’
Nessa busca pela popularização das mídias alternativas, a internet tem sido um aliado precioso. Uma pesquisa do Centro Pew mostra que o percentual de americanos que buscaram notícias sobre as eleições cresceu de 13% em 2002 para 29%, em 2004. Agora, os números são ainda mais animadores: 50 milhões de americanos entram na internet diariamente em busca de notícias.
A insatisfação da população com o governo Bush parece crescer na mesma medida em que cada vez mais americanos têm acesso à web e a usam para ficar a par não apenas do noticiário hard news, mas também de outras visões dos fatos, análises, opiniões e blogs.
O site criado por McChesney é uma boa pedida para quem quer entender o movimento. Lá estão os princípios do Media Reform Movement e informações valiosas para o mundo globalizado em que vivemos. Por exemplo, é possível saber, na página Who Owns the Media, quais as (pouquíssimas) grandes corporações que concentram quase que a totalidade da mídia norte-americana, entre jornais, emissoras de TV, rádio, sites, canais a cabo, produtoras de filmes, entretenimento e música. News Corporation, General Electric, Viacom, Time Warner, Disney, Vivendi Universal e Bertelsmann estão na lista.
Mas o site não se limita à informação passiva. Quem quiser participar ativamente do movimento encontra no FreePress ferramentas de ‘combate’ prontas para uso. Join the Fight for Net Freedom é um desses links. Outros sites indicados são o MediaChannel, MoveOn, Independent World Television e Indymedia. Cada um deles traz links para diversos outros.
Fica aqui uma dica: Robert McChesney já manifestou interesse em divulgar o Media Reform Movement no Brasil. Pelo site do FreePress é possível entrar em contato com ele.
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Jornalista