Pegou mal para a Solent, uma estação de rádio local da BBC, a revelação de que sua chefe de redação instruiu os funcionários a não pôr no ar ligações de pessoas idosas. Mia Castello assinou um memorando onde dizia não querer ouvir vozes de pessoas mais velhas na programação. O preconceito foi revelado em matéria do Daily Telegraph e gerou críticas dos ouvintes da rede, noticia Stewart Payne [The Daily Telegraph, 15 e 22/1/07]. Assim como diversas outras emissoras locais de rádio da BBC, a maior parte do público da BBC Radio Solent tem 60 anos ou mais.
Mia pediu que os apresentadores aceitassem somente ligações de pessoas na faixa etária de 45 a 64 anos, alegando que a rádio tem perdido ouvintes. ‘Seja qual for o ponto de vista sobre esta prática, é disto que o negócio precisa, então, por favor, estejam seguros de estar fazendo a coisa certa’, dizia o memorando.
Segundo o documento, os apresentadores deveriam imaginar um casal médio com cerca de 50 anos, apelidado de ‘Dave e Sue’, como exemplo de público a ser atingido. Os nomes foram tirados de um estudo da BBC que concluiu que pessoas mais velhas estão ficando ‘jovens’ em suas atitudes e interesses. Assim, a rede sugere que, ao criar uma programação voltada para jovens, as emissoras conseguirão englobar também o público mais velho. Cartilhas foram distribuídas em rádios locais com frases do tipo: ‘Dave e Sue moram em uma Inglaterra multi-étnica e multicultural. Dave é bombeiro, Sue é secretária de uma escola. Ambos têm filhos de outros casamentos’.
O memorando, no entanto, vazou em novembro do ano passado, depois da demissão de diversos apresentadores mais velhos, incluindo Peter White – um dos radialistas mais experientes da Radio Solent, que é cego e tinha um programa sobre deficiências físicas – e Pippa Greenwood. Desde que o caso foi publicado no Daily Telegraph, cartas e e-mails de reclamações não pararam de chegar ao jornal.
Discriminação
White, de 59 anos, condenou a medida. Ele começou a trabalhar na rádio em 1971 e classificou o memorando como ‘um desprezo aos ouvintes mais idosos que contribuem com os programas como qualquer outro grupo etário’. O radialista questionou se a BBC, como uma emissora financiada pelo público, pode ‘privar de certos privilégios uma parte de seus ouvintes que também contribuem com a taxa paga à rede’. ‘É preconceito contra os mais velhos e imagino quem está acima dela para permitir que ela escreva um memorando assim’, desabafou.
Um porta-voz da BBC afirmou que a rede valoriza os mais velhos e não importa se seu público tem 45 ou 105 anos. Outro afirmou que não há conspiração para tirar os mais velhos do ar. Tim Brassell, porta-voz das rádios locais da rede, alegou que os apresentadores têm apenas de ter em mente o que ‘Dave e Sue’ gostariam para atrair um número maior de ouvintes, mas que ‘a rede ainda conta com os mais velhos’.