Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Blog do Reinado Azevedo



AQUECIMENTO & MÍDIA
Reinaldo Azevedo

Ainda o aquecimento global: dois textos para o leitor não ficar de mal dos ‘serezumanos’, 6/02/07

‘Como vocês sabem, também estou engajado no esforço para que nós, os ‘serezumanos’, não contribuamos para tornar o planeta inabitável pelos ‘serezumanos’. É uma coisa terrível não sabermos o que é o melhor para nós mesmos. Por isso, creio que, quanto mais informações houver sobre o aquecimento global, tanto melhor. Que vantagem pode nos advir da interdição do debate? É por isso que tenho postado aqui algumas informações que correm pelo mundo e que, creio, são relevantes.

É o caso, por exemplo, do depoimento que prestou ao Congresso americano o dr. William Gray, da Universidade do Colorado. Ele é considerado a maior autoridade mundial em ciclones tropicais — furacões, tufões, essas coisas monstruosas. Em recente entrevista à CNN, classificou o aquecimento global de ‘bobagem’. Ok. Ninguém precisa acreditar nele. Mas o fato é que o homem foi ao Congresso dos Estados Unidos, desancou a teoria do aquecimento e negou que possa haver qualquer vínculo entre o dito-cujo e os furacões. E até fez uma provocaçãozinha: disse estar convencido de que, em 15 ou 20 anos, nós nos voltaremos a estes dias de histeria com o aquecimento global mais ou menos como nós vemos hoje as teorias dos anos 1920 e 1930 sobre a eugenia — ou seja, como idéias superadas. Gray tem uma vantagem em relação àqueles que contesta: teremos condições de saber se ele está certo ou errado — já que o apocalipse só chega mesmo dentro de 500 anos… Se você clicar aqui, tem acesso à página do Congresso dos EUA, onde está seu depoimento.

Também publico aqui o link de um artigo chamado ‘Clima do Medo’, de Richard Lindzen, do MIT (para quem gosta de fontes estreladas). Segundo ele — e Gray também toca no assunto —, cientistas costumam infundir o pânico, calando as vozes divergentes, porque querem arrancar dos governos mais dinheiro para pesquisa. Sobre o clima (o outro…) policialesco, escreve: ‘But there is a more sinister side to this feeding frenzy. Scientists who dissent from the alarmism have seen their grant funds disappear, their work derided, and themselves libeled as industry stooges, scientific hacks or worse. Consequently, lies about climate change gain credence even when they fly in the face of the science that supposedly is their basis.’ A íntegra está aqui.

Não se trata, entendam bem, de uma militância. Apenas me impressiona que as vozes discordantes sejam silenciadas. Eu não tenho dúvida de que o catastrofismo diminuiria enormemente se George W. Bush assinasse o Protocolo de Kyoto. Ainda que fosse para não fazer nada. Como ainda nada fizeram os países signatários.

As capas

Reproduzo um trecho do texto do meteorologista gaúcho Eugenio Hackbar (clique aqui), que comenta as capas da Time, lá no alto:

‘A variabilidade natural do clima ao longo dos últimos cem anos pode ser muito bem compreendida pelo noticiário, por exemplo, da revista norte-americana Time (…). Em sessenta anos, a revista publicou três matérias de capa sobre o comportamento do clima do planeta. Na sua edição de 10 de setembro de 1945, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, a capa da Time mostrava um desenho do planeta suando e esbaforido com a manchete logo abaixo: ‘O mundo está fervendo’. O planeta havia enfrentando nos dez anos anteriores intensos episódios de El Niño como, por exemplo, o de 1941 que resultou na grande enchente de Porto Alegre. Três décadas mais tarde, na sua edição de 31 de janeiro de 1977, a mesma Time noticiava o frio intenso que catigava o mundo e os Estados Unidos com a manchete ‘O Grande Congelamento’. Novamente, três décadas mais tarde, em 3 de abril de 2006, a revista dizia aos seus leitores ‘Fiquem preocupados, muito preocupados’ com o aquecimento global que era o tema especial da edição.

Observem o intervalo entre as reportagens de 1945, 1977 e 2006. São, em média, trinta anos. Justamente os ciclos da Oscilação Decadal do Pacífico (link) costumam durar de vinte a trinta anos. Em fases quentes da PDO no século 20 o planeta passou por um processo de aquecimento enquanto na fases frias resfriou-se. Nos últimos trinta anos, quando começou a surgir o temor em torno do aquecimento global, a fase da PDO esteve positiva e ainda com dois eventos de Super El Niño em 1982/1983 e 1997/1998. A frequência e intensidade de eventos de La Niña, que tendem a resfriar o planeta, foram muito menores nas últimas três décadas em razão do período quente da PDO que tem como característica favorecer justamente mais ocorrências de El Niño e manifestações mais intensas do fenômeno. (…)’.

Então…

Bem, podemos fazer de conta que esse debate nunca existiu. Noto que foi uma sorte o mundo ter ignorado as ameaças de resfriamento da década de 70, não é mesmo? Já imaginaram ter de redimensionar toda a civilização do ‘serumano’ a cada 30 anos? Como não entendo nada de clima, procuro ler o que há a respeito. Mas de milenarismo eu entendo.’

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Quando o Estadão anunciou a nova era glacial, 5/02/07

‘Era um domingo. 30 de junho de 1974. O Estadão tornava menos tranqüila a macarronada. Não havia dúvida. Os cientistas haviam descoberto o que os humanos comuns ignoravam em sua inocência: ‘A Terra caminha para a nova era glacial’. Para sustentar o texto principal, um outro, detalhando um aspecto da matéria geral: ‘Os invernos serão cada vez mais frios’. Faz pouco mais de três décadas. De lá pra cá, ocorreu uma verdadeira revolução, creio, nos instrumentos de medição, e a era glacial prometida virou um forno. Vocês sabem. Estamos lidando com cinema-catástrofe. Lembrem-se de todos os filmes do gênero que vocês já viram. Descarnando a fita de diálogos inúteis, temos o seguinte na estrutura:
1) Há sempre um cientista maluco ligado a um empresário ambicioso querendo brincar de Deus;
2) O cientista maluco faz isso porque sua ciência não tem ética, entendem? E o empresário porque quer lucro. Vocês sabem como são os empresários… É uma gente que não é de confiança. Não fossem os comunistas para nos salvar, a gente já teria sido posto num saco por algum andarilho e virado sabão, como nas histórias de terror infantil;
3) Há sempre um cientista ético combatendo o cientista que pensa que é Deus;
4) Alguns morrem. Mas, no fim, o mundo é salvo pelos éticos, e o cientista herói dá um beijo na loura.
Não estou em campanha contra o ‘aquecimento global’ — ou melhor, eu também sou contra o aquecimento. Só estou combatendo uma estrutura mental. Essa reportagem do Estadão está num site chamado Metsul Meteorologia (clique aqui) . Lê-se lá:
O Estado de S. Paulo, para complementar a reportagem de 1974 (…) valeu-se da opinião do pesquisador Giorgio Giacaglia, Diretor do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG/USP). O Diretor do IAG da USP publica uma síntese dos seus estudos com conclusões muito interessantes tanto para a época como para os dias atuais e que vieram a se confirmar por estudos realizados nos últimos dez anos mediante a reconstrução por modelos do clima do último milênio. O pesquisador chama a atenção para o aquecimento iniciado ainda no século XIX e que se prolongou na primeira metade do século XX, sendo seguido pelo resfriamento a partir de 1945 e que até aquele momento (em 1974) perdurava. A Oscilação Decadal do Pacífico sequer havia sido descoberta, mas o padrão constante da oscilação já estava identificado no trabalho do pesquisador da USP. A PDo apenas viria a ser constada por Steven R. Hare e Yuan Zhang em estudo de 1997, portanto 33 anos depois.’ O texto é do meteorologista Eugenio Hackbart, que tem um blog tratando de assuntos do clima (clique aqui).
Não estou comprando a versão de ninguém. Só estou deixando claro, mais uma vez, que o debate tem de ser ampliado.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Terra Magazine

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