“Bem-vindo a Padre Paraíso. As regras e leis só incomodam. Aqui não temos isso”. Dias depois de publicar essa frase, o blogueiro brasileiro Evany José Metzker foi agredido e decapitado com crueldade. Seu corpo foi encontrado na segunda-feira nas imediações de Padre Paraíso, uma cidade de 19.000 habitantes no Estado de Minas Gerais (sudeste do Brasil). O repórter, de 67 anos, estava desaparecido desde o dia 14.
Metzker era o autor do site de notícias Coruja do Vale, um blogue cheio de anúncios de pequenos negócios locais (um restaurante de comida caseira, uma loja de informática, um hostel) e conteúdo igualmente variado: informações de acidentes de trânsito, shows de música, casos de corrupção, crimes… um dia antes de desaparecer publicou pela última vez, um texto que falava sobre a renúncia de um prefeito.
O blogueiro, que vivia na cidade vizinha de Medina, estava há três meses hospedado em um hostel de Padre Paraíso. O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais afirmou que ele apurava na cidade uma reportagem sobre redes de prostituição infantil e apontou um possível vínculo de seu assassinato com essa investigação, mas a polícia não descarta outros motivos para o crime. Valseque Bonfim, outro blogueiro que trabalha na região, jantou com ele um dia antes do desaparecimento. Bonfim não sabe exatamente qual assunto Metzker investigava, afirma que não percebeu se ele estava nervoso e não falaram sobre ameaças. O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes, insistiu na necessidade de ser a Polícia Federal a investigar os crimes contra jornalistas, já que “quase sempre o poder local está envolvido nesse tipo de caso”.
Em 2013, duas mortes violentas de jornalistas abalaram Minas Gerais. O repórter Rodrigo Neto e o fotógrafo Walgney Assis Carvalho investigavam crimes policiais em Ipatinga, no interior do Estado. No intervalo de um mês, ambos foram baleados por pessoas em motos. Um policial foi condenado a 12 anos de prisão pelos assassinatos.
O assassinato de Metzker é a segunda morte violenta de um jornalista em 2015 no Brasil, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), ainda que os números de homicídios variem dependendo da fonte. Em março, dois homens balearam Gerardo Ceferino Servian Coronel, um radiojornalista, em Ponta Porã, uma pequena cidade na fronteira com o Paraguai. Servian, que trabalhou em várias emissoras locais, apresentava um programa de notícias em uma rádio comunitária desde o começo de 2015. Em dezembro, o blogueiro Marcos de Barros Leopoldo Guerra foi morto a tiros no litoral de São Paulo. Denunciava casos de corrupção.
O Brasil é o terceiro país mais perigoso da América Latina para os jornalistas, depois do México e da Colômbia, segundo os dados da RSF. Em 2012 chegou a superar o México. No barômetro da liberdade de imprensa de 2015 feito pela RSF, o país está no 99° lugar entre 180 países.
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Raquel Seco, do El País