Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Brasil se opõe aos EUA em debate sobre TV digital

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 23 de outubro de 2007


TV DIGITAL
Jamil Chade


Freqüências para TV digital põem Brasil e EUA em lados opostos


‘O Brasil se opõe aos planos do governo americano de definir as freqüências da TV digital no mundo. O governo vai tentar bloquear a iniciativa americana na conferência que ocorre nesta semana, em Genebra, promovida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT). A idéia dos americanos é de permitir que uma banda seja definida rapidamente para que a freqüência usada pela TV analógica possa ser liberada para outros fins, como celulares e internet sem fio. Mas o Brasil é contrário a essa posição. ‘Enquanto os americanos pegam todas as freqüências existentes para a telefonia, nós precisamos ainda de espaços para outras finalidades. Só a TV pública, por exemplo, precisará de quatro canais’, afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa.


Pelos cálculos americanos, a definição das freqüências abriria um espaço de US$ 15 bilhões para o uso comercial das freqüências que seriam liberadas. Mesmo assim, a posição brasileira é bem diferente. ‘Nosso prazo para a migração para a TV digital é 2016. Não podemos defender que a freqüência seja definida já’, disse Costa. Segundo ele, o governo americano gastou US$ 1,5 bilhão para subsidiar a migração de casas onde a renda não permitia a compra de novos aparelhos.


Mas os americanos tem outra percepção. O embaixador americano Richard Russel estima que a freqüência é ‘valiosa demais’ para simplesmente esperar. Os americanos querem ter concluído a migração da TV analógica para a digital até fevereiro de 2009.


‘Sabemos que nem todos os países vão se mover no mesmo ritmo, e que os que farão mais tarde não querem uma definição já. Mas nossa avaliação é de que temos de definir a faixa para que empresas possam se sentir à vontade para desenvolver suas tecnologias’, disse Russel.


Outra briga do Brasil está relacionado à tentativa dos europeus de definir a banda C como de uso exclusivo de celulares. Costa também é contra a proposta. ‘No Brasil, 18 milhões de pessoas assistem TV por antenas parabólicas que usam essa freqüência’, disse.


RÁDIO


O governo ainda deverá usar a conferência da OIT para tentar fazer avançar os testes com as tecnologias de rádio digital. Há dois anos o governo promove testes com o sistema americano, mas não está satisfeito.


Recentemente, testes foram iniciados com a tecnologia européia. Ontem, Costa se reuniu com autoridades européias para pedir uma maior cooperação. ‘Queremos implementar um novo padrão, mas que seja acessível também às pequenas rádios.’’


 


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Estudantes marcham contra projeto chavista


‘Caracas – nomeEstudantes universitários da Venezuela promovem hoje uma passeata contra a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez. Líderes estudantis da Universidade Central da Venezuela (UCV) e da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) convocaram toda a sociedade para participar da marcha até a sede da Assembléia Nacional.


‘Vamos exigir respeito aos direitos de todos os venezuelanos contra essa reforma nefasta que busca alterar o civismo, a tranqüilidade no país e acabar com a democracia’, afirmou o presidente da Federação dos Centros Universitários da UCV, Ricardo Sanchéz. O líder estudantil também alertou as autoridades que os universitários não tolerarão a detenção ‘arbitrária’ de ônibus com estudantes que estiverem a caminho de Caracas para participar da manifestação.


Numa indicação de que a tensão nas ruas pode se elevar ainda mais em Caracas, o presidente do Instituto Municipal para a Juventude, Neomar Solórzano, afirmou ontem que um grupo de jovens que apóiam o governo vai esperar os manifestantes de oposição na frente da AN para debater a reforma. Segundo Solórzano, o debate será ‘pacífico’.


Chávez apresentou em agosto um projeto para modificar 33 artigos da Costituição. Entre as propostas mais polêmicas estão a reeleição presidencial sem limites e a mudança no conceito de propriedade privada. O projeto será submetido a um referendo popular em 2 de dezembro.’


 


MICROSOFT
O Estado de S. Paulo


Microsoft decide aceitar imposições da União Européia


‘A Microsoft finalmente concordou em tomar medidas para cumprir a decisão de 2004 da União Européia (UE) que considerou como anticompetitivas práticas comerciais da gigante do software, informou ontem a a Comissão Européia (CE), órgão executivo da UE. O acordo marca uma grande virada na atitude da companhia. Há mais de três anos a Microsoft vinha afirmando que queria atender à decisão da Comissão, mas até agora nunca tinha cumprido as determinações.


A Comissão informou em comunicado que tem certeza que a ‘Microsoft tomará as medidas necessárias para cumprir suas obrigações de acordo com a decisão de 2004’. Em março de 2004, a CE multou a Microsoft em 497,2 milhões por abuso de sua posição dominante e exigiu que a companhia divulgasse informação técnica para que outros criadores de softwares pudessem desenvolver produtos compatíveis com o sistema operacional Windows.


Em sua decisão, a comissão considerou que a empresa usava seu ‘quase monopólio’ no mercado de sistemas operacionais para computadores pessoais para tentar dominar também o mercado de sistemas operacionais para servidores de trabalho em grupo.


Agora, a companhia vai colocar à disposição dos produtores de software de ‘código aberto’ informação necessária para que seus programas funcionem bem no sistema operacional Windows, assim como acontece com software da própria Microsoft. A Microsoft também reduziu royalties relacionados às informações de interoperabilidade, informou a Comissão. Os royalties a serem pagos pelo acesso a essas informações serão reduzidos para um pagamento único de 10 mil. Além disso, os royalties de uma licença mundial, incluindo patentes, serão reduzidos de 5,95% para 0,4%.’


 


FOTOGRAFIA
Roberta Pennafort


O pecado mora ao lado, ali no Rio


‘Em exposição no Museu de Arte Moderna do Rio, as fotos de Marilyn Monroe nua, feitas pelo fotógrafo Bert Stern três semanas antes de sua morte, estão deixando os cariocas boquiabertos. Verdadeiras, elegantes, super-sensuais – esses são alguns dos adjetivos usados pelos visitantes para descrever os registros daqueles dias de junho de 1962, entre lençóis brancos e echarpes transparentes, numa suíte do hotel Bel-Air, em Los Angeles.


O público é formado por fãs incondicionais, pais e filhos, gente que coleciona reportagens e DVDs de seus filmes e também pessoas que têm apenas uma vaga idéia do que ela representou (e representa). ‘Sou suspeitíssimo para falar, porque sou muito fã. Gosto da Marilyn desde que era criança, morava no Piauí e via as fotos dela na revista Cruzeiro da casa da vizinha’, disse o dentista Raimundo Moura, de 58 anos, deslumbrado. ‘Acho que as fotos são incríveis porque são reais, são de um tempo pré-photoshop, não têm aquela produção toda. Parece que são só ela e o fotógrafo.’


Moura se refere às imperfeições que dão às 60 fotos (coloridas e em preto-e-branco) ainda mais charme – e um caráter humano à estrela hollywoodiana: uma cicatriz recente no abdômen, de uma cirurgia de vesícula, rugas discretas ao redor dos olhos, os seios levemente caídos, falhas na maquiagem. A falta de retoques não diminui a sensação de embevecimento diante de Marilyn, aos 36 anos, em seu último ensaio fotográfico. Pelo contrário, a torna ainda mais encantadora.


‘Para mim, o que mais chama atenção é o fato de que o sofrimento e os problemas dela não aparecem. Ela estava linda como sempre, sorrindo, apesar do histórico de exploração e de desamor’, comentou a assistente social aposentada Marisabel Guimarães, vidrada na musa desde a adolescência. O sobrinho Alex Guimarães Higa achou as fotos tão provocantes quanto as que são vistas hoje nas revistas masculinas.


Como o estudante, muitos dos que percorrem os 137 metros quadrados da sala do MAM não assistiram a O Pecado Mora ao Lado, Os Homens Preferem as Loiras ou Quanto Mais Quente Melhor – apenas as fotografias mais célebres de Marilyn lhes são familiares. Ali, eles presenciam o namoro entre a câmera e o maior símbolo sexual de todos os tempos, uma profusão de sorrisos, caras e bocas, brincadeiras e poses ultra-sexy, 45 anos depois de sua partida. Era a segunda vez que ela se desnudava para um ensaio – a primeira fora para a Playboy, no começo dos anos 1950.


Na maior parte das imagens, a diva aparece usando somente uma meia-calça cor da pele e echarpes que permitem que a vejamos por inteiro. A luz é linda e seu efeito, inebriante. Numa seqüência, Marilyn se enrola em lençóis brancos, ora deixando apenas os cabelos loiríssimos de fora, ora com o generoso bumbum para cima. Noutra, posa com pérolas e brilhantes, com cara de êxtase.


Ela também surge na cama ao lado de Bert Stern, entre garrafas de champanhe e sapatos altos largados pelo chão (embora as fotos sugiram demasiada intimidade, o fotógrafo, que classificou a experiência com Marilyn de ‘pleno absoluto’, jura que nada aconteceu depois dos cliques). Quatro fotos mostram a atriz chiquérrima, num longo preto e de luvas compridas.


Aberta com atraso no dia 11, por conta de problemas na alfândega, a exposição foi trazida ao Rio pelo editor Geraldo Jordão, da Sextante, que a viu no Musée Maillol, em Paris, e ficou fascinado. Marilyn fica no Rio até o fim de novembro. Deve chegar a São Paulo em janeiro. Vale a pena esperar por ela.’


 


O Estado de S. Paulo


Pictura Pixel faz sucesso com Guevara


A revista eletrônica de fotografia Pictura Pixel, site mantido em Nova York por Cláudio Versiani, tem batido recordes de visitação com o Dossiê Che Guevara, com depoimento e imagens inéditas do fotógrafo Alberto Korda, de 1988. Foram mais de 2 mil acessos em 8 dias. O depoimento de Korda (que registrou a mais reproduzida foto de Guevara no mundo), dado ao brasileiro Ricardo Malta e ao cubano Roberto Paneque, teve trechos publicados pelo Cultura no dia 14. Consta que Korda jamais recebeu um centavo pela foto, mas não é fato: em 2000, embolsou US$ 50 mil por cessão da imagem para a Smirnoff (www.picturapixel.com).


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Pânico é esticado


‘O Pânico na TV! aumentou seu tempo no ar. Há pelo menos três semanas a atração está sendo exibida com 15 minutos a mais na RedeTV!, tudo por conta do excesso de anúncios.


A atração está entrando no ar às 19h45. O horário original do Pânico era das 20 h às 22 h, por causa da reclassificação etária imposta pelo Ministério da Justiça. O Pânico foi considerado impróprio para menores de 12 anos pelo MJ, e reclassificado em 2006.


Os 15 minutos a mais que o humorístico ganhou vieram para tentar desafogar a atração, que está repleta de inserções comerciais. Nas duas últimas edições, o Pânico na TV! teve mais de 15 merchandisings por programa. Isso sem contar a promoção do ‘lance mínimo’ que promete dar carros aos participantes, o que toma muito tempo da atração.


Corre nos bastidores da emissora que os integrantes do Pânico não estariam muito satisfeitos com o loteamento do programa. E olha que eles recebem um porcentual em cima das vendas de espaços comerciais.


A idéia da emissora é manter a atração esticada até quando houver a demanda excessiva de anunciantes.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 23 de outubro de 2007


ESPANHA
Clóvis Rossi


Globalização em espanhol


‘MADRI – O jornal espanhol ‘El País’ aproveitou sua reforma (gráfica e na disposição das seções) para introduzir um novo ‘slogan’: ‘O jornal global em espanhol’.


É ousado porque, até aqui, globalização se escreve em inglês, goste-se ou não, fale-se ou não. Ousado também porque, há apenas 32 anos, um nada em termos históricos, a Espanha ainda era uma ditadura isolacionista, que fazia de tudo para impedir que os ventos democráticos atravessassem os Pirineus.


Hoje, seu principal jornal tenta ser global em espanhol, no que é apenas surfar nas altas ondas levantadas pela nova invencível armada espanhola, formada por um conjunto de multinacionais que não cansa de se espalhar pelo mundo.


Tanto que, no primeiro semestre, 49,3% das receitas das 35 maiores empresas da Espanha vieram do exterior.


Prova de que é possível, sim, aos países darem saltos, em vez de apenas caminharem, em geral lentamente, como ocorre no Brasil. O Brasil, aliás, é testemunha ocular do salto: o Santander, navio-insígnia da armada, nem estava no ‘grid’ de largada financeiro em 2000. Hoje, com a incorporação do Real, está no pódio.


Não seria melhor para o Brasil se uma empresa brasileira ganhasse a concessão de estadas na Espanha em vez de dar-se o contrário?


Nesse ponto, aliás, louve-se o presidente Lula: cansei de ouvi-lo cobrar, em fóruns empresariais, a transformação em multinacionais das empresas caboclas. Se dá ou não com as condições presentes (ou passadas) de temperatura e pressão é outra conversa.


Minha viagem à Espanha, aliás, é outra demonstração da ‘globalização em espanhol’: o convite é da Fundação Carolina, financiada pelo governo (2/3) e, o terço restante, pela invencível armada. É o braço do governo/empresas para a integração com a América Latina.’


 


IMAGENS
Carlos Heitor Cony


Fatos e fotos


‘RIO DE JANEIRO – Feliz a época que, em vez de um, produz dois logotipos. Vivemos um tempo em que as imagens valem mais do que as palavras e conceitos. A Guerra do Vietnã, com a sua crua obscenidade, ficou naquela foto da menina nua e queimada pela napalm. Bem menos trágica, mas reveladora do transe que agora vivemos, temos dois momentos que certamente não ficarão para sempre, mas enquanto durarem servirão de síntese de nossas agruras e penas.


A primeira imagem é a da ex-gestante que acabou na capa de uma revista, na realidade apenas um começo, pois a moça ameaça aparecer cada vez mais. Guindada subitamente ao patamar das celebridades, enquanto milhões de candidatas penam para conseguir os 15 minutos de fama, ela confia em que veio para ficar -e é bom mesmo que fique. Fez por onde, embora a fórmula que adotou não possa ser seguida por todas. É preciso ter mais coragem do que peito.


A outra imagem é mais complicada, mas igualmente reveladora do nosso tempo. Nelson Jobim, após anos de vida pública em que vestiu o terno formal de ministro e a toga de magistrado, desde que assumiu a pasta da Defesa ainda não se fixou num visual que o explique aos olhos da nação. Ainda não usou o macacão dos corredores da Fórmula 1 nem o uniforme do pessoal do Exército da Salvação, mas deverá chegar lá para mostrar a amplidão de suas nobres funções.


Há quem ache exagerada a sua exposição na mídia, segurando cobras e lagartos no meio da selva, inspecionando as misérias do Haiti e deixando rolar o seu nome para futura avaliação dos candidatos a candidato na próxima sucessão presidencial. Falta ressuscitar a tropa de Oswaldo Cruz contra a varíola, vestindo a farda de mata-mosquito para entrar e vencer a guerra contra a dengue.’


 


TROPA DE ELITE
Marcos Nobre


Experiência segregada


‘ANDO ME SENTINDO apartado do mundo por não ter ainda visto ‘Tropa de Elite’. Não conheço nenhum filme brasileiro tão amplamente discutido, com tantas interpretações radicalmente opostas.


Construindo o filme a partir do que me contam e do que leio, chama a atenção que sempre aparece em algum momento uma ‘moral da história’. Só que o filme parece uma parábola estranha, porque a moral da história depende de quem conta.


Fiquei tentado a comparar essa situação com parábolas cinematográficas clássicas. A que me ocorreu foi a do filme ‘O Sol É para Todos’, de 1962. Também foi um filme de grande sucesso, baseado em um best-seller. Também tem um narrador. Mas é uma menina de 6 anos que conta a história, e não o capitão Nascimento.


No lugar da violência bruta e aberta de ‘Tropa’, ‘O Sol É para Todos’ gira em torno da estilização de uma violência racial latente, que emerge quando um negro é acusado e condenado injustamente pelo estupro de uma moça branca em uma cidade do sul dos EUA.


O advogado de defesa, branco, (Gregory Peck) recorre a todos os expedientes do bom-mocismo da época para demonstrar a tese de que o acusado merece um julgamento imparcial. O final é trágico, mas embute uma mensagem clara contra o preconceito e a discriminação.


Uma parábola clássica tem como pano de fundo alguma experiência compartilhada. Sua moral, mesmo que vá contra uma cultura política estabelecida, tem ainda de se apoiar nela de alguma maneira para funcionar.


As discussões sobre ‘Tropa’ mostram um país dividido de alto a baixo. Ao contrário do que pretendem os olhos da criança de ‘O Sol É para Todos’, o capitão Nascimento não é inocente. Mas também não quer ser culpado sozinho. Ao dividir a culpa com a platéia, não divide por igual.


A segregação espacial, econômica e social brasileira é também segregação radical da experiência. É expressão de uma cultura política democrática frágil. Esse é também o sentido do confronto entre Luciano Huck e Ferréz nas páginas da Folha. Dois mundos inteiramente apartados postos lado a lado sem qualquer perspectiva de diálogo. De todas as conversas e artigos, a imagem que ficou para mim é a de que ‘Tropa’ é uma parábola em disputa. Cada qual puxa o filme para seu lado para justificar, e não para alterar, a maneira de ver o país.


As discussões que ‘Tropa’ produziu até agora não foram além da indiferença de um espelho em que cada qual vê o que quer. Mas ter trazido à tona esses reflexos, todas as divisões políticas e culturais antes escondidas ou camufladas, é já de um enorme mérito.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Do milagre à queda


‘No ‘Valor’, ‘País tem o ciclo de crescimento mais longo em 30 anos’. São ‘22 trimestres consecutivos’ e com ‘boa característica: o ciclo combina consumo e investimento’. E ‘o nível de confiança continua forte entre empresários’. Daí, nas manchetes dos sites de ‘Estado’ e ‘Veja’, ‘Investimentos vão crescer 20%’ em cinco anos, segundo um levantamento do BNDES.


Final do dia, porém, nos sites de ‘Gazeta Mercantil’ e Reuters Brasil, ‘o saldo em conta corrente caiu em setembro’, nas transações com o resto do mundo. E já em outubro a ‘expectativa é o país voltar a ter déficit’.


BRICS E A GM


Em destaque do ‘Financial Times’ à Bloomberg, ‘GM toma a liderança da Toyota com vendas nos emergentes’. Em especial, Brasil e China. A Toyota caiu com os EUA.


LANTERNA


‘Kommersant’ e ‘Moscow Times’ deram que a Rússia é a última dos Brics em inversões externas, bem atrás de Brasil e China -e cobraram saídas.


M&M


Guido Mantega e Henrique Meirelles esgrimam pelas agências, desde Washington, sobre o ‘fundo soberano’. O segundo deu sinais de ceder.


JUNTOS


Já a Venezuela se alinhou a Mantega ‘e outros do Banco do Sul’ no ataque ao FMI. E o ‘New York Times’ destacou que o banco chavista ‘avança com o apoio tácito do Brasil’.


O BLOCO FEMININO


O ‘Miami Herald’ de domingo deu especial com títulos tipo ‘É hora das mulheres de brilhar’ na América Latina. ‘Desafiando o machismo’, elas são eleitas do Chile até a Argentina, talvez do Paraguai ao Brasil de Dilma Rousseff. O ‘bloco feminino’ viria na ‘onda democrática’ que, diz o jornal, antes elegeu ‘grupos marginalizados como índios e a classe trabalhadora pobre’, a saber, Evo Morales e Lula.


SYNGENTA ARMADA


No Google e pelos sites de ‘NYT’, ‘WSJ’ etc., despachos ecoaram o confronto entre ativistas e os seguranças da Syngenta, com duas mortes. A multinacional diz que seus contratados deviam estar sem armas, ‘mas tinham’, parece.


O PRÍNCIPE E A MATA


O ‘Telegraph’ deu que o príncipe Charles faz quinta, em ‘jantar de gala’ da WWF num palácio em Londres, um ‘apelo apaixonado’ contra o desmatamento da Amazônia -que seria responsável por um quarto das emissões etc.


HIDRELÉTRICA YAHOO


O Yahoo, concorrente do Google, destacou no Yahoo News despacho da AFP noticiando que ele mesmo, Yahoo, quer ser ‘neutro em emissão de carbono’, até o final do ano. Para tanto, vai financiar hidrelétrica em São Paulo e outras ações na Índia, comprando ‘créditos de carbono’.


E não importa que o ‘FT’ diga que a idéia não funciona.


32 ANOS DEPOIS


Nas manchetes dos sites do ‘NYT’ ao ‘Guardian’, ‘WSJ’, ‘FT’, a derrota da Microsoft na Europa. Diz o primeiro que ‘encerra a prática de 32 anos de criar sistemas fechados’ para alavancar seus produtos.


ORKUT SOB FOGO


Na manchete do ‘WSJ’ de papel, na sexta, e ontem no ‘Monde’, ‘Google sob fogo’, pelo Orkut. É ainda a pressão do Ministério Público contra racismo e pedofilia, mas que já bateu agora na publicidade.


BOPE BLOG


Saiu no ‘Washington Post’ longa reportagem de ‘Tropa de Elite’, menos crítica que a do ‘NYT’. Mas a novidade é que a controvérsia avança agora pela blogosfera global.


Saiu no Boing Boing, um dos maiores do mundo, e já surgiu na Grã-Bretanha até um Bope Blog, com links para baixar o filme, sem pagar, ‘torrent’. Neles e noutros sites, ataques ao ‘filme pró-tortura’ que está para estrear por lá.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Classificação indicativa falha com crianças


‘Pesquisa realizada pela Andi (Agência de Notícias de Direitos da Infância) revela que o uso da linguagem brasileira de sinais (libras) não está sendo eficiente para informar a classificação indicativa dos programas de TV para crianças portadoras de deficiências físicas.


O estudo detectou que as crianças surdas não entendem o que dizem os intérpretes de libras que aparecem em uma pequena janela na tela da TV, antes da exibição dos programas. Ouvidas em grupos, as crianças dizem que a janela é muito pequena e que os intérpretes gesticulam muito rapidamente. Elas ainda estão sendo alfabetizadas em libras.


É a primeira falha apontada contra a nova classificação indicativa, em vigor desde julho. A janela com o intérprete de libras é uma de suas inovações.


A portaria que instituiu a classificação diz apenas que os símbolos usados pelas TVs devem seguir as normas de acessibilidade. As emissoras afirmam que estão cumprindo rigorosamente a portaria. A Globo diz que até aumentou o tamanho do layout que precede cada programa, por conta própria.


O Ministério da Justiça afirma que deve rever as normas para informar deficientes.


As informações fazem parte de uma pesquisa maior, para saber como crianças com deficiências do Brasil, Argentina e Paraguai interagem com a TV e se elas se vêem na mídia. A Andi a divulgará em dezembro.


PIT STOP 1 Repórteres e produtores da Globo passaram mal durante o GP do Brasil de Fórmula 1, domingo à tarde. Entre eles, estavam Carlos Gil e Bruno Lawrence, que não puderam entrar ao vivo na corrida.


PIT STOP 2 Nos bastidores, o mal-estar foi atribuído à refeição servida pela emissora nos boxes.


PIT STOP 3 A Globo diz que não houve nada de errado com a comida. Conta que Carlos Gil apresentou uma virose já no sábado. E que Lawrence estava indisposto por causa do calor.


TOP 10 A transmissão da corrida rendeu 27 pontos à Globo. Foi a maior audiência da TV no domingo. O ‘Fantástico’ deu 25.


VERTIGEM Galvão Bueno, que teve problemas com pressão e sinusite dias antes do GP, parecia um tanto ‘aéreo’ na transmissão de domingo. Chegou a confundir imagem de replay com ao vivo. Mas a pérola veio da repórter Mariana Becker, antes da largada: ‘Louis Hamilton acabou de chegar e posicionou o barco, perdão, o carro…’.


BEBEL VIVE Camila Pitanga participará do especial de fim de ano de Roberto Carlos na Globo. O show será gravado em dezembro na Arena Esportiva, na Barra da Tijuca (Rio), estádio que foi construído para o Pan.


SYNCHRONICITY A Globo negocia a transmissão do show da banda The Police, que se apresenta no Rio de Janeiro em dezembro.’


 


Lucas Neves


Heróis da resistência


‘Um personagem consegue voar, outro faz viagens espaço-temporais ao bel-prazer e um terceiro é dotado de uma força descomunal. Sem falar naquele cujas feridas se regeneram em segundos. Mas vamos aos fatos: nenhuma das criaturas de ‘Heroes’ possui a faculdade de interferir nos humores de Tim Kring, o criador da série sobre pessoas comuns que descobrem ter superpoderes.


Azar deles, já que Kring aparentemente planeja para um futuro próximo uma redução do elenco, segundo sugeriu em entrevista coletiva por telefone da qual a Folha participou, na última terça-feira.


Respondendo às críticas de que a ‘superpopulação’ está prejudicando o desenvolvimento da trama -pelo menos seis novos personagens foram apresentados desde o início da segunda temporada nos EUA, em setembro-, Kring não deixou dúvidas quanto às suas intenções. ‘Em um programa como esse, é preciso saber introduzir e eliminar personagens. Então, o público pode esperar que alguns saiam em breve.’


Apesar de uma leve queda de audiência em relação à primeira safra, ‘Heroes’ permanece na lista dos 20 programas mais assistidos da TV norte-americana, com média de quase 14 milhões de espectadores por episódio (cinco foram ao ar até agora).


No Brasil, o Universal Channel atualmente reprisa o primeiro ano da série, que foi a mais vista da TV paga (somando o público de todas as exibições de um capítulo, ou seja, estréia e reprises) entre março e agosto. O canal anuncia para 11 de janeiro o começo da segunda temporada.


Na TV aberta, a fornada inicial (no ar desde 23 de setembro) tem garantido à Record a vice-liderança de audiência nas noites de domingo. A média, até anteontem, era de 12 pontos -cada ponto equivale a 54,5 mil domicílios na Grande São Paulo. O segundo ano também é da emissora, mas não há data prevista para a estréia.


Respostas


À sugestão de que a história está ficando demasiadamente intrincada, com novas frentes abertas a cada semana (ecos de ‘Lost’?), Kring é enfático. ‘Não somos um programa que tenta manter as respostas longe do público. Mas sentimos que algumas são tão preciosas que não podemos revelá-las.’


Para mostrar que passa longe da ‘tortura psicológica’ a que os roteiristas de ‘Lost’ submetem seus fãs (com superávit de indagações e déficit de esclarecimentos), ele apresenta seu planejamento para a segunda temporada. ‘Haverá vários volumes. O primeiro, ‘Generation’ [geração], irá do primeiro ao 11º episódio. Todas as perguntas levantadas nesse intervalo serão respondidas. Acho que as pessoas dizem que querem respostas, mas, na verdade, curtem a idéia de acompanhar o mistério.’


A divisão da temporada em blocos é também uma reação ao coro dos descontentes ouvido ao fim da primeira safra -o episódio-clímax, ‘How to Stop an Exploding Man’ (como deter um homem explosivo), mostrou o encontro dos personagens em Nova York. ‘Fizemos um volume único, ‘Genesis’ [gênese]. Na reta final, havia muitas histórias para amarrar, o que elevou demais as expectativas -às quais ficou difícil corresponder’, avalia Kring.


Novas caras


O segundo ano de ‘Heroes’ começa quatro meses após o embate entre os protagonistas e Silas (o vilão da série). A cheerleader Claire e sua família fugiram do Texas para a Califórnia, o nerd Hiro foi parar no Japão medieval e o policial Matt trocou Los Angeles por Nova York, deixando para trás a mulher, grávida.


Nesse cenário, surgem novatos como Monica (prima do menino-prodígio Micah), os irmãos dominicanos Maya e Alejandro e o espadachim Takezo Kensei (com traços e fleuma britânicos, apesar do nome oriental). Seus poderes variam da fabricação de um vírus letal à capacidade de mimetizar gestos alheios (como golpes desferidos por lutadores em um programa de TV, por exemplo).


Quem também entra para o time é a bela Elle, interpretada por Kristen Bell (que protagonizou ‘Veronica Mars’). A atriz, que participou da entrevista por telefone ao lado de Kring, traça um perfil pouco glamouroso da personagem. ‘Ela é um pouco perturbada, o que faz com que seja manipuladora e não tenha limites.’


E entrega parte do ‘estrago’ que Elle vai causar. ‘Ela tem muitas informações sobre o passado de Peter Petrelli e está ligada a Claire e ao pai adotivo dela, além de ter laços com [o professor de genética] Suresh.’


Kring vai além na descrição: ‘Ela está ligada à Companhia [que deseja controlar o grupo que possui superpoderes], foi criada ali. Mostra o que teria acontecido aos outros personagens se tivessem possuído suas habilidades especiais desde o início de suas vidas’.’


 


ARTE
Bernardo Carvalho


DJ de imagens


‘O ESCOCÊS Douglas Gordon é o epítome da arte contemporânea. É difícil pensar num artista mais sintonizado com o seu tempo. ‘Timeline’ (linha de tempo), exposição itinerante com alguns de seus vídeos mais consagrados, originalmente organizada pelo MoMA, fica até 5 de novembro no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba).


No catálogo da exposição, há uma lista com os nomes das pessoas que o artista conheceu até hoje -e dos quais ainda consegue se lembrar. Há também uma série de imagens de fatos e personalidades públicas que marcaram o noticiário desde 1966, ano em que ele veio ao mundo -uma ampliação da sua certidão de nascimento encabeça a série de imagens. O texto de introdução, assinado por Klaus Biesenbach, curador do departamento de mídia e cinema do MoMA, diz que Gordon ‘esculpe o tempo’.


O que significa exatamente isso? Pôr-se no centro da obra. Já que o artista envelhece e o tempo se manifesta em seu corpo, basta transformar sua vida em narrativa para ‘esculpir o tempo’. A auto-referência é o lugar-comum da arte contemporânea. Muitos trabalhos de Gordon fazem a encenação de si. O artista expõe-se beijando um espelho ou exibe inscrições tatuadas no corpo. Desde 1999, ele se faz fotografar anualmente ao lado de uma representação de si mesmo, em cera. Para realçar, por comparação com a figura imóvel no tempo, a passagem deste.


A auto-encenação impera mesmo quando a representação do artista parece estar ausente, como é o caso da lista de nomes e da série de imagens públicas no catálogo da exposição. Tanto os nomes como as imagens têm apenas um ponto em comum: marcaram a vida do artista e, portanto, exprimem sua experiência, compõem um auto-retrato ausente.


Um dos clichês que mais se prestam aos interesses do tempo em que vivemos é dizer que não há diferença entre original e cópia. O mundo da reciclagem e da reapropriação é também o da vontade de se exprimir a qualquer preço, mesmo quando não se tem nada a dizer além do eco distorcido do que já foi dito por outros.


Se eu faço a lista das minhas preferências ou impressões (ou das pessoas que conheci), já estou fazendo arte. Se exponho a minha experiência pessoal, já sou artista. A criação foi reduzida à expressão da experiência do sujeito, por mais comum que ela seja, limitando ao mesmo tempo as possibilidades de exercício da subjetividade (e de invenção) ao grau zero. Nesse contexto, não pode haver mesmo original, pois significaria transferir a atenção de volta à criação, abandonando o foco sobre o sujeito que a concebeu e revelando assim a fragilidade da obra e da sua produção de sentido. É esse também o mundo dos DJs. A obra é reapropriação. Já não faz sentido falar em composição ou criação original -embora os militantes mais integrados ao presente possam dizer que, no fundo, nunca fez.


Uma das obras mais celebradas de Gordon é ‘Psicose 24 Horas’, na qual o artista estende o tempo de projeção de ‘Psicose’, de Alfred Hitchcock, a 24 horas, num quadro-a-quadro lentíssimo. O objetivo é distorcer (e recriar por meio de uma nova apreensão) um ícone da cultura de massa. A reapropriação passa a ser, à maneira dos DJs, recriação. A ponto de o curador da exposição ser capaz de escrever no catálogo – recorrendo a uma interpretação muito pessoal e peculiar dos conceitos propostos por Gilles Deleuze- que Gordon alçou o filme à complexidade da ‘imagem-tempo’, enquanto o original de Hitchcock permanece um passo atrás, na simplicidade da ‘imagem-movimento’.


Ao contrário do que ocorreu com Warhol, cuja influência na obra de Gordon é incontestável, já não dá para dizer que a substituição da realidade por imagens da cultura de massa possa provocar algum tipo de revolução nas artes. Em ‘Faz de Morto: Tempo Real’ (2003), um elefante de circo obedece às ordens do artista, deitando-se no chão de uma galeria, em Nova York, e fingindo-se de morto. O vídeo, projetado originalmente na própria galeria, em silêncio, em duas grandes telas e dois pequenos televisores, reencena a execução de um elefante assassino, filmada em Nova York no começo do século. Dentre todas as especulações que a reencenação pode provocar (sobre o real e a representação, sobre a cultura de massa, a manipulação e a circulação de imagens), a mais desoladora é que, nesse mundo ao mesmo tempo esgotado de idéias e saturado de informações visuais, à arte (e, curiosamente, também à tão cultuada experiência pessoal) só resta viver de efeitos de segunda mão.’


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