Dois fatos permeiam o noticiário e os comentários jornalísticos nos últimos dias: a renúncia de Fidel Castro e a aprovação de Lula. Sobre o primeiro fato, esperado, apressado pela doença, a ilha pode vir a acelerar a transição econômica já em curso e desembocar na conseqüente abertura política. Estive em Cuba nos idos de 1995 e já se iniciava a abertura econômica provocada pela perda de 70% do comércio exterior com a extinção da URSS.
O esforço era para não perder os índices sociais de primeiro mundo conquistados através de um regime político que se tornou cada vez mais anacrônico com a universalização da democracia. Vi, no entanto, o carinho do povo cubano para com Fidel. Mais que socialismo, ali existe fidelismo. E ele pode ser ainda importante neste período em que deve se intensificar a transição econômica e acelerar a transição democrática.
Sob certo aspecto, a aprovação de Lula pode ser comparada ao apoio popular a Fidel. E o que existe em comum entre os dois é o perfil autoritário. O de Fidel, forjado na resistência às ações dos Estados Unidos. A coesão social interna a qualquer custo era fundamental para manter o projeto político. Lula governa o Brasil como se fosse o dono do país sem ameaça alguma. Mas a todo instante evidencia este perfil. Agora mesmo alardeia que não tem tempo para CPI.
Lula nunca teve tempo para o exercício da democracia representativa. É lerdo para as tarefas de governo. Sempre quer ir para a galera. E como a oposição está aprendendo a ser oposição dentro de um regime democrático, a política na acepção da palavra e da prática acaba sendo a grande ausente e as decisões acabam sempre beneficiando pequenos grupos de interesses econômicos e políticos.
Personalidades ditatoriais
Quando Lula se compara a Getúlio Vargas é a voz de seu subconsciente. E aí não dá para falsear a verdade. É fato. São personalidades comparáveis. Lula é hoje o Getúlio do período do Estado Novo, ou seja, da velha ditadura, mas sem todo o instrumental ditatorial e sem a vontade política de Getúlio. Vargas também pensava que era o dono do país. Tanto que, eleito para ser o presidente da República, não conseguiu conviver com a estridente ‘banda de música’ da UDN e se suicidou.
É bem verdade que em 1954 tentava-se o golpe que o suicídio conseguiu adiar por dez anos. Hoje não existe mais ambiente para golpistas. E o PPS, DEM, PSDB, mesmo em momentos de lucidez oposicionista, estão longe de serem uma ‘banda de música’, tão desafinada anda a oposição na democracia à brasileira.
Com um governo eleito para mudanças, que manteve e até aprofundou a mesma política econômica que encontrou e a rede de proteção social que também encontrou diversificada em vários programas, unificando-os amplificados no ‘Bolsa Família’, a aprovação não decorre, pelo menos em grande parte, da sensatez governamental.
A aprovação de Lula é mais resultado das semelhanças com as popularidades de personalidades ditatoriais, como as de Fidel e de Getúlio, do que com o desempenho de um governo exercido por subalternos (que a maioria entende com o conhecimento e consentimento do presidente), cujas mazelas provocam a indignação da maioria absoluta da população brasileira. Enquanto isto, Lula e dona Marisa distribuem brioches ao povo.
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Jornalista, São José dos Campos, SP