Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Campanha contra homofobia e imperialismo

Na sexta-feira (26/6), a Suprema Corte estadunidense legalizou o casamento homoafetivo em todas as unidades federativas do país. Em decorrência da histórica decisão e como forma de demonstrar seu apoio à causa LGBT, o Facebook criou a página “Celebrate Pride”, que permite ao usuário colocar um filtro com as cores do arco-íris em sua foto de perfil. O sucesso do novo aplicativo foi patente: inúmeros internautas aderiram à campanha e, desde então, fotos coloridas tomaram conta da principal rede social do planeta. Longe de ser mais uma “modinha” (como apontaram os homofóbicos de plantão), as discussões geradas pelas fotos coloridas comprovam que, diante da mínima possibilidade de melhoria nas condições de vida das minorias, os setores conservadores se levantam e não se intimidam em destilar todos os seus preconceitos. Como reação negativa à campanha pró-direitos LGBT, muitos usuários compartilharam frases como “ditadura gayzista”, “em defesa da família tradicional” ou “dois iguais não fazem filho”, entre outras aberrações impublicáveis, típicas de mentes intolerantes. Não obstante, internautas que se consideram cristãos citaram passagens bíblicas que condenam a homossexualidade, esquecendo que o próprio Jesus pregava o respeito ao outro.

A campanha promovida pelo Facebook também nos revela como uma ideia aparentemente bem intencionada pode ser utilizada como propaganda imperialista. Lembrando o pensamento do filósofo esloveno Slavoj Žižek, uma ideologia torna-se eficaz quando seus mecanismos persuasivos não são percebidos. Não há como negar que se manifestar a favor dos direitos conquistados pelos homossexuais, seja em qualquer lugar que for, é uma atitude humanitária e louvável. Entretanto, ao aderir a um movimento que tacitamente exalta os Estados Unidos, um indivíduo incorre no erro de colaborar involuntariamente com o processo de dominação simbólica exercido pela principal potência global.

A decisão da Corte máxima dos Estados Unidos serve como poderoso álibi para escamotear as inúmeras atrocidades cometidas ou patrocinadas por Washington nas mais variadas regiões do globo. O mesmo país que hoje é celebrado nas redes sociais por legalizar o casamento gay foi responsável pelo único ataque nuclear da história, apoiou sangrentas ditaduras militares na América Latina, compactua com o genocídio promovido por Israel contra o povo palestino e recentemente invadiu e desestabilizou duas nações asiáticas. Em suma, mais uma campanha imperialista sob o verniz de uma causa justa obtém o êxito esperado. Há dois anos, quando a união estável entre homossexuais foi permitida no território brasileiro, não houve grandes mobilizações. Foi preciso a aprovação de uma lei nos Estados Unidos para que os direitos da comunidade gay se tornassem um dos temas mais compartilhados nas redes sociais. Passados quase dois séculos de nossa independência, a subserviência colonialista ainda continua presente em nossa sociedade.

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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG