Durante o regime de Saddam Hussein, cartunistas que criticavam o governo eram presos, torturados ou até mesmo executados no Iraque. Atualmente, o perigo não vem do governo, mas dos leitores, como noticia Vanessa Arrington [Associated Press, 13/5/06]. ‘Hoje, há dois tipos de pessoas: aquelas que aceitam os cartuns e críticas, e aquelas que os vêem como um insulto e ameaçam matar você’, afirma Diaa al-Hajar, cartunista do jornal al-Sabah. ‘Depois da queda do regime, ficamos esperançosos. Mas agora estamos chocados com as ameaças que estamos sofrendo’.
As ameaças – que são feitas por e-mail, telefone ou até mensagens de celular – forçaram muitos cartunistas a deixar o país; al-Hajar é um dos que pensam em sair do Iraque. Outros continuam a fazer cartuns, mas sem apontar indivíduos ou grupos específicos. Uma caricatura publicada na semana passada no al-Sabah mostrava um rapaz e uma garota sobre uma pilha de lixo cantando o hino nacional. O mesmo título publicou no mês passado um desenho de uma galinha lendo o jornal e dizendo: ‘Muito estranho. As pessoas têm medo da gripe aviária, mas não da ‘gripe de corrupção’’. O cartunista Abdel-Khalig al-Hubar afirmou que os profissionais têm medo de grupos armados, porque eles são extremamente intolerantes às críticas. ‘Eles só aceitam o que for agradável para eles’, afirma.
Resistência
Mesmo com tantas ameaças, todos os dias cerca de 10 jornais publicam cartuns satirizando assuntos que vão desde a instabilidade política à violência diária. Ninguém está imune às charges – políticos, soldados americanos ou militantes que atacam civis iraquianos. Seqüestros, ataques à bomba e tiroteios são comuns na vida diária dos iraquianos e freqüentemente são temas de caricaturas.
A frustração dos iraquianos também é retratada nos desenhos. O jornal al-Sabah al-Jedid publicou um cartum de uma mãe vestida de preto levando seu filho – representando a democracia – ao médico. ‘Doutor, ele tem três anos, mas não está crescendo, só está ficando menor. Tem cura?’, pergunta a mãe. Outro desenho mostra dois iraquianos assistindo à novela. ‘Cada episódio é a mesma coisa – depois de 15 minutos, eles avisam que o capítulo foi adiado’, diz um iraquiano, em alusão às negociações entre os partidos políticos xiitas, sunitas e curdos.