Passado mais de um mês da descoberta do grampo na Rede Gazeta, no Espírito Santo, o delegado Joel Lyrio, da Polícia Civil capixaba, divulgou em uma entrevista coletiva, na semana passada, o resultado do inquérito policial, presidido por ele, que apurou o caso. Segundo a polícia do governo do estado, a responsabilidade pelo grampo em A Gazeta é de um funcionário da operadora de celulares Vivo. Dá pra acreditar!?
De acordo com o delegado, ao passar à polícia o número de telefone de uma empresa supostamente ligada ao acusado da morte do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, o funcionário da Vivo teria errado a digitação e trocado um dos números do telefone, passando para a polícia a informação errada e induzindo as autoridades ao erro.
Lembrando de um velho ditado popular – ‘errar é humano; mas persistir no erro é burrice’ –, uma pergunta vem à mente. Digamos que seja aceitável essa explicação do ‘erro de digitação’: de quem foi então a brilhante idéia de permanecer errando? Afinal, a Rede Gazeta foi grampeada não apenas uma, mas três vezes. Será que no primeiro período de grampeamento não teria sido possível identificar quem era o verdadeiro dono do terminal interceptado?
Porém, para contestar essa e outras perguntas que continuam sem respostas até o momento, o delegado Joel Lyrio disse que seriam necessários outros procedimentos investigativos, pois o inquérito presidido por ele tinha competência apenas para apurar de quem teria sido a responsabilidade no caso do grampo.
Pizza
Diante da explicação da Polícia Civil do Espírito Santo, o Sindicato dos Jornalistas do estado reagiu indignado. Susana Tatagiba, presidente da entidade, afirmou que o resultado do inquérito não responde às questões levantadas quando ocorreu a denúncia, em 9 de dezembro passado: ‘Quem mandou grampear os jornalistas da Rede Gazeta e por quê?’, pergunta Susana.
Em nota publicada dias após a divulgação do resultado da investigação, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) classificou a conclusão da polícia de absurda, pois, segundo a nota, os documentos entregues pela Fenaj e Sindicato ao Ministério da Justiça provam que os responsáveis pela escuta ilegal tinham pleno conhecimento que o telefone era da Rede Gazeta. Para a Fenaj, o resultado da apuração demonstra que a Polícia Civil está preparando uma pizza no caso do grampo.
Carlos Fernando Lindenberg Neto, o Café, diretor da Rede Gazeta, em entrevista a este jornalista, também se declarou insatisfeito com a apuração. ‘A impressão que tenho é que o resultado desta investigação serviu para acomodar a situação dentro da Polícia Civil e do Ministério Público capixaba, pois a investigação restringiu-se a apurar apenas uma pequena parte das questões que foram levantadas quando o grampo foi denunciado’, afirmou.
Levantamento feito pelo site Século Diário entre seus leitores apontou que 46% das pessoas que responderam à enquete afirmam que não acreditam no resultado da apuração. Outros 18% afirmaram que o grampo na Rede Gazeta jamais será esclarecido. Apenas 15% das pessoas afirmaram estar satisfeitas com o resultado da apuração.
Federalização
Insatisfeitos com o resultado da apuração, Fenaj e Sindicato dos Jornalistas vão continuar lutando pela federalização das investigações. Os diretores do sindicato estão mantendo entendimentos com os procuradores da República no Espírito Santo, com o objetivo de levar às apurações para a alçada federal. Muitos jornalistas, empresários e políticos acreditam que a federalização é a melhor maneira de apurar o caso.
Uma das personalidades que engrossam esse coro é a deputada federal petista Iriny Lopes, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. ‘Eu não confio na isenção das autoridades capixabas para apurar este caso, pois, ao que tudo indica, há envolvimento de poderes neste grampo’, afirmou a deputada, em entrevista por telefone. Ela informou ainda que, desde o momento da denúncia do grampo, enviou para apreciação da comissão de Direitos Humanos um pedido de federalização do caso.
Evaldo Martinelli, o novo secretário estadual de Segurança Pública (o anterior, Rodney Miranda, foi demitido do cargo três dias após o escândalo do grampo vir à tona), por telefone defendeu a apuração feita pela Polícia Civil, mas deixou brecha para os insatisfeitos: ‘Eu acredito nos policiais capixabas, acredito na isenção desta apuração. Agora, quem se achar insatisfeito, quem achar que não houve isenção, quem achar que a apuração não foi boa, que peça o que quiser pedir, inclusive a federalização’.
Mas nem todos acreditam que esse será o melhor caminho para apurar o caso. Café, diretor da Rede Gazeta vítima do grampo, mesmo insatisfeito com o resultado do inquérito, ainda acredita que uma apuração possa ser bem feita pelas autoridades capixabas. ‘Usando nossa pressão institucional, de relações institucionais que a Rede possui dentro do estado, e usando nossa pressão editorial, acredito que temos como cobrar uma apuração séria, feita pelas autoridades capixabas. Não acredito que seja necessário federalizar esse caso.’
Pressão editorial
É exatamente nesse ponto que muitos discordam de Café. Ele afirma que usando a pressão editorial, a Rede Gazeta pode cobrar resultados. Mas muitos integrantes da sociedade capixaba, inclusive muitos jornalistas (entre eles vários funcionários da Gazeta), acreditam que os veículos da rede estão muito ‘calados’ diante do caso. O fato é que as matérias sobre o grampo que jorravam nos veículos da Rede Gazeta logo após a denúncia, agora (passado apenas um mês do caso e após a divulgação de tão controverso inquérito) são cada vez mais raras.
‘Pelo tamanho da agressão sofrida, a Rede Gazeta baixou a poeira rápido demais. A rede deveria ser mais incisiva na cobrança por uma apuração séria e imparcial deste caso’, afirmou a deputada Iriny Lopes.
Café, é claro, discorda da deputada. ‘A Rede Gazeta teve um comportamento decente neste caso. Noticiamos a denúncia, cobramos explicações, mas não fizemos matérias especulativas e não sonegamos qualquer tipo de informação ao nosso leitor. O assunto grampo não está morto na redação, mas só damos notícias quando há novidades. Sem fatos novos, não há notícias.’
Talvez a Rede Gazeta não esteja errada em ‘ter baixado a poeira rápido demais’, para fazer uso das palavras da deputada Iriny. Afinal, não só os veículos da rede, mas todos os veículos de comunicação capixabas deixaram de noticiar o caso do grampo. Nem mesmo entidades como sindicatos, OAB, ONGs, igreja e outras, que se manifestaram indignadas quando da denúncia do grampo, o fizeram no momento da divulgação do resultado do inquérito que apontou o erro de um funcionário da Vivo.
Das duas uma: ou a sociedade capixaba se deu por satisfeita com a investigação da Polícia Civil (o que, pela enquete feita pelo site Século Diário parece não ser verdade), ou sente-se completamente descrente de que esse caso algum dia será realmente desvendado.
A imprensa não divulgou
A despeito da declaração de Café de que não há ‘fatos novos’ no caso do grampo, vale relatar que a imprensa capixaba não divulgou os fatos abaixo:
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Não foi divulgada uma linha sequer sobre a sindicância que está sendo realizada pelo Ministério Público para descobrir se há, entre os telefones grampeados pelo Guardião, sob responsabilidade do MP, outro ‘erro’ semelhante como o ocorrido com a Rede Gazeta. A existência dessa sindicância foi revelada pelo secretário Evaldo Martinelli.**
O Tribunal de Justiça realiza sindicância semelhante, mas nada foi divulgado. A existência dessa sindicância também foi revelada pelo secretário Evaldo Martinelli.**
Outro fato não questionado pela imprensa: o último período de grampo – a solicitação do grampo faz parte do inquérito que investiga a morte do juiz Alexandre Martins – na Rede Gazeta ocorreu entre 11 e 25 de abril de 2005. Porém, no dia 14 de abril de 2005 (ou seja, três dias após ter início o terceiro período de grampo), o Tribunal de Justiça enviou ao Ministério Público o relatório do inquérito, dando por finalizada as apurações. Para que, então, grampear um telefone se o inquérito estava finalizado?Será que não existem mesmo fatos novos para serem divulgados? Enquanto isso, o tempo passa e pizza anunciada pela Fenaj vai ficando pronta. Pizza, não; moqueca – este sim um prato típico da culinária capixaba.
Receita de moqueca capixaba
INGREDIENTES:
1, 5 kg de peixe (badejo, robalo, papaterra, dourado, namorado ou cação)
3 maços de coentro
3 maços de cebolinha verde
1 cebola média
3 dentes de alho
4 tomates
pimenta malagueta
azeite de oliva
urucum
óleo de soja
MODO DE PREPARO
Corte o peixe em postas, tempere com limão e sal e deixe descansando.
Soque o alho, três rodelas de cebola, um maço de coentro picado, um maço de cebolinha verde e sal.
Esfregue no fundo da panela de barro um pouco de óleo de soja (duas colheres) e azeite de oliva (uma colher).
Adicione à panela a massa obtida no socador, passando-a no seu fundo.
Coloque o peixe na panela e vire-as de um lado para o outro nos temperos da panela.
Arrume-as de modo que não fiquem umas por cima das outras.
Corte o resto do coentro, da cebolinha verde, do tomate e da cebola e coloque nesta ordem por cima das postas de peixe que estão na panela.
Regue com um pouco de azeite e suco de limão.
Deixe tudo descansando por uns 20 40 minutos.
Derreta em um pouco de óleo três colheres de urucum.
Na hora de levar ao fogo para cozinhar, despeje esse caldo por cima da moqueca.
Balance de vez em quando a panela com o auxílio de um pedaço de pano grosso, para que as postas de peixe não agarrem no fundo.
Deixe no fogo forte por uns 20 minutos.
Agora, é só servir.
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Jornalista e diretor da Mais Comunicação, que presta assessoria de imprensa ao Sindicato dos Policiais, Sindicato dos Delegados de Polícia e ao Clube dos Oficiais Militares do Espírito Santo e atende empresas