Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura de Caras

Trinta e dois anos depois de o presidente Ernesto Geisel ter retirado a censura ao jornal Tribuna da Imprensa, uma publicação brasileira chegou aos seus leitores com tarjas pretas.

A revista Caras que está nas bancas tem uma reportagem de 19 páginas sobre as angústias da atriz Cibele Dorsa.

Ela se matou no dia 26, cerca de dois meses depois do suicídio de seu noivo.

Horas antes, enviara uma carta de despedida à família e aos amigos mais próximos, entre eles o jornalista Carlos Alberto Santiago, editor da Caras.

A revista estava sendo impressa quando um dos ex-companheiros de Cibele, o campeão de hipismo Álvaro ‘Doda’ Miranda, obteve, por intermédio de seu advogado, uma ordem judicial que proibia ‘Caras’ de publicar qualquer referência ao seu nome.

‘Doda’ e a atriz tiveram uma filha. Como era tecnicamente impossível fazer os cortes, o único recurso foi o uso de tarjas.

Uma, pequena, está na capa da revista. Na reportagem, a tesoura comeu 53 linhas. Foi suprimida a íntegra da carta de despedida de Cibele.

Caiu na rede

A juíza que concedeu a medida e ‘Doda’ justificaram suas razões. O advogado do cavaleiro, Antonio Carlos Mendes, deu um argumento adicional:

‘Como uma pessoa que vai tirar a própria vida pode estar em estado normal para deixar uma carta?’

Não é o caso de se discutir onde termina o direito de expressão dos viventes. Trata-se de perguntar ao doutor o que ele sugere que se faça com a carta-testamento de Getúlio Vargas.

Como era de esperar, a carta censurada de Cibele está na internet.

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Jornalista