Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Chega de violência

Presidente da República, senhor Luiz Inácio Lula da Silva, governador do estado, senhor Geraldo Alckmim, secretário da Educação de São Paulo, senhor Gabriel Chalita, prefeitos de São Paulo e São Bernardo do Campo, senhores Marta Suplicy e Dr. Dib, senhores que compõem a sociedade brasileira, na qual me incluo.

Havia um jovem de 26 anos, especial. Bom, inteligente, bem-humorado, formou-se jornalista aos 26 anos, bem-informado, um filho maravilhoso e uma pessoa extremamente preocupada com os problemas da sociedade brasileira. Seu maior sonho era fundar uma ONG para ajudar as pessoas que não tinham condições de se educar formalmente e às pessoas que passavam fome. Não podia ver uma pessoa em dificuldade, fosse ela rica ou pobre, que ele imediatamente entrava em ação. Tinha ideais de um país mais justo, mais decente e mais moralizado, e acreditava que o mundo e os homens eram bons, apenas passavam por dificuldades que os levavam a agir de maneira violenta e errada.

O nome desse jovem era Leonardo Blaz Cicoti, e ele foi assassinado com um tiro na têmpora do dia 2 de julho de 2004, após ser abordado por 3 indivíduos, ainda rapazotes, quando ia chegando em casa após trabalhar o dia todo, a bordo do seu ‘golzinho 97’, que era a maneira que ele chamava seu carro. Os três rapazes o levaram e a polícia foi avisada imediatamente, pois os vizinhos viram quando o fato ocorreu. Os ladrões só levaram seu celular, seu rádio, seu estepe e SUA VIDA. Seu pai é um metalúrgico e sua mãe, uma professora aposentada… Eu sou sua prima mais velha, também professora, de História, e culpo por essa morte a todos os senhores aos quais essa carta foi endereçada.

Ao senhor presidente da República, que foi eleito por nosso voto (incluindo o meu, o do Leonardo e de toda nossa família), prometendo resolver os problemas sociais deste país. Sabemos que isto não se dá num passe de mágica, e temos tido bastante paciência, esperando que o senhor tome as rédeas da situação, mas, infelizmente, parece que o senhor se esqueceu de algumas promessas que nos levaram a votar no senhor. Havia alguma coisa a respeito do valor do salário mínimo, não havia? Onde está a educação de qualidade? Onde está a política de segurança pública? Onde está a política social? O senhor acha que 80, 100 reais dessas bolsas-trabalho, educação, podem resolver alguma coisa? O senhor está brincando! Ah! O país não tem recursos? A gente entende. Mas, espere aí… e esse juro absurdo que o senhor está pagando da nossa dívida externa? O senhor esqueceu suas falas antigas?

Nós, que temos um país extremamente rico em recursos naturais, extenso, nos sujeitamos ao imperialismo, e o Fidel, com uma ilhota que só produz cana-de-açúcar e fumo, enfrenta os EUA há 45 anos, proporcionando aos seus cidadãos saúde de ótima qualidade, educação de qualidade e gratuita, emprego, e quase que total ausência de violência… Explique-me esse fenômeno, presidente! Eu mereço, eu votei no senhor! O Léo foi morto por pessoas que não têm mais nada a perder nesse país, nem emprego, nem escola, nem moradia digna, nem comida… nada!

O senhor presidente é responsável pela morte do Leonardo. Culpo ao senhor governador Alckmim e ao secretário da educação Gabriel Chalitta. A educação nesse país está um caos. No estado de São Paulo, um horror! Escolas despedaçadas (e eu aconselho aos senhores fazer visitas-surpresa às escolas, principalmente as de periferia, assim as diretoras não poderão limpar, pintar e afixar nas paredes os ‘trabalhos dos alunos’ e nem ensaiá-los para dizer aos senhores que estão superfelizes com a escola. Cheguem de surpresa, num dia comum, no horário de aulas, sem fazer alarde, e eu garanto que os surpreendidos serão os senhores), professores ganham muito pouco, às vezes têm que lecionar em até três escolas diferentes para poder se manter (tenho um amigo que leciona em 5), alunos que não sabem ler e escrever em todas as séries e que são aprovados automaticamente…

Os senhores deveriam ler os livros do Rubem Alves. A falta de educação, senhores, provoca a violência, caso os senhores ainda não saibam disso. Não é apenas a afetividade ou a falta dela, secretário Chalitta, que vai resolver os problemas da educação. Pelo amor de Deus, abra os olhos! A educação de São Paulo não é uma maravilha, muito pelo contrário, e o senhor não é a Alice! O senhor governador nos diz que investe milhões em segurança pública… Onde? Os policiais ganham uma miséria, a corrupção anda solta, não sabemos se devemos temer a polícia ou os bandidos! O senhor é o ‘chefe’ da polícia e tem o dever de fazê-la trabalhar direito, tem o dever de separar o joio do trigo, e então, preparar, valorizar e dar condições de trabalho a esse trigo, para que possamos, ao menos, dormir em paz.

Os senhores também participaram da morte do Leonardo. Os senhores prefeitos, Dona Marta Suplicy, Doutor Dib… o que estão fazendo para tirar ou exterminar as favelas de seus municípios? Estão criando empregos dignos, estão proporcionado moradias dignas e educação decente? Ou estão dando uniformes, cadernos, obras eleitoreiras que não vão resolver a questão da educação, da segurança pública, da fome, da saúde, da banalização da vida? Vocês também são culpados!

E vocês, senhores que fazem parte da sociedade brasileira, entre os quais eu me incluo? O que estão fazendo para colocar pessoas melhores, mais preparadas, e realmente mais comprometidas com vocês no poder? O que vocês estão fazendo para tirar as crianças das ruas, jovens da marginalidade (A Febem é uma piada), para ajudar pessoas que têm condições de vida subumanas? O que é que vocês estão fazendo para combater a violência? Se escondendo? Enchendo seus lares de grades? O que é que vocês vão fazer para que mais Leonardos não morram? Vocês também são culpados! Acordem! Exijam educação pública de qualidade, polícia bem preparada, uma política social decente, saúde, vocês pagam por isso! O poder é de vocês! Vocês votam! Exijam! Não permitam que mais leonardos morram, pois hoje a dor é nossa, amanhã pode ser a de vocês.

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Voice Agência de Comunicação, São Paulo