A revista Science se envolveu em várias controvérsias ao longo do ano, com jornais questionando e levantando acusações de fraudes científicas. Mas, segundo Monica M. Bradford, editora-executiva da revista, nenhum destes incidentes se compara ao escândalo que tem balançado a Science no último mês, envolvendo uma pesquisa de cientistas da Coréia do Sul sobre a produção de embriões humanos clonados e extração de suas células-tronco.
A pesquisa, amplamente elogiada pela edição de 19/5, revelou-se uma farsa. Na sexta-feira (16/12), a Science anunciou que o estudo estava em processo de ser retratado. Enquanto isto não acontece, as investigações continuam sendo feitas para descobrir o que realmente aconteceu nos laboratórios da Coréia do Sul.
Para a revista, a história teve início em março, quando um documento chegou por e-mail. Seu autor, Hwang Woo-suk, da Universidade Nacional de Seul, havia publicado um estudo anterior em fevereiro de 2004, anunciando que tinha, com grande dificuldade, clonado um embrião humano e extraído células-tronco. Ainda assim, a revista colocou seu novo paper sob o mesmo processo pelo qual passam cerca de 12 mil outros trabalhos científicos recebidos pela Science por ano.
As pesquisas recebidas pela revista são enviadas para um ou dois especialistas de fora do quadro de editores, que aconselham se elas são apropriadas para a Science – 70% dos trabalhos são rejeitados. Os não rejeitados são mandados para no mínimo dois cientistas adicionais para uma revisão mais profunda. Cerca de 25% dos trabalhos revisados acabam sendo publicados. ‘Trabalhamos com a suposição de que a informação é real. A questão é: ‘As informações comprovam as conclusões?’’, explicou Monica.
No dia 12/5, depois de ter passado por um exame minucioso de três revisores de fora da revista, o paper de Woo-suk foi aceito para publicação, mais rápido do que o tempo médio da submissão até a aceitação, que é em torno de três meses. Quando a edição de 19/5 foi publicada, a pesquisa do sul-coreano foi recebida com grande aclamação. Woo-suk viajou o mundo para falar de seu trabalho e cientistas foram à Coréia do Sul para visitar o laboratório e ver como foi realizada a clonagem.
Em dezembro, Monica, a vice-editora Katrina L. Kelner, outra editora que Monica não quis identificar, e o editor Donald Kennedy tentaram chegar a algumas respostas. Na ocasião, Woo-suk, hospitalizado por estresse, insistiu que seu grupo havia realmente clonado embriões humanos e criado 11 linhas de células-tronco. Mas um dos co-autores da pesquisa, Roh Sung II, alegou que as afirmações eram falsas.
Uma das questões era se as fotografias que acompanhavam o paper, descritas como sendo células-tronco derivadas de embriões humanos clonados, eram fraudes. Outra dúvida envolvia a veracidade das impressões digitais do DNA, que são usadas para mostrar que uma célula-tronco é geneticamente idêntica a da pessoa que forneceu as células para clonagem. Monica disse ter enviado uma série de questões aos autores da pesquisa, mas até quinta-feira (15/12) não havia recebido nenhuma resposta.
No dia 12/12, o americano Gerald Schatten, professor da Universidade de Pittsburgh e co-autor do paper, pediu para ter seu nome retirado da pesquisa; a universidade deu início a uma investigação. Na sexta-feira (16/12), Schatten e Woo-suk pediram à Science a retratação do estudo, mas Woo-suk também teria dito no mesmo dia, em uma coletiva à imprensa, que as informações estavam corretas. A Science requer que cada autor do paper assine uma declaração concordando com sua retratação. Woo-suk e Schatten são apenas dois dos 25 autores do trabalho. Informações de Gina Kolata [The New York Times, 18/12/05].