Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cobertura de morte de jovem negro reflete minoria nas redações

 

O jovem americano Trayvon Martin, de 17 anos, foi morto pelo vigia voluntário da vizinhança, George Zimmerman, na cidade de Sanford, na Flórida. O crime aconteceu no dia 26/2. Martin havia acabado de comprar doces e estava desarmado. No dia seguinte, sua morte – aparentemente motivada por racismo (Martin era negro) – foi a principal matéria na afiliada da Fox em Orlando, maior cidade perto de Sanford. Em uma semana, o crime era tema de jornais pelo estado. No entanto, a notícia chegou ao noticiário nacional apenas na metade de março, após comentários e discussões sobre o caso no Facebook e no Twitter. O episódio revela como são complexos os modos como a notícia repercute ou não na era digital, avalia Brian Stelter [The New York Times, 26/3/12].

A família de Martin contratou um advogado para abrir uma ação legal e convencer membros da mídia a cobrir o caso. Zimmerman alegou que se defendeu do jovem e não foi acusado de nenhum crime, o que gerou revolta nas redes sociais. Ainda assim, nos primeiros 10 dias após o assassinato, a história foi destaque apenas na mídia da Flórida.

A primeira menção nacional ao caso ocorreu no dia 8/3, na CBS News, depois que o jornalista Mark Strassmann e o produtor Chris St. Peter entraram em contato com o advogado da família Martin, Benjamin Crump, e enviaram a sugestão de pauta para os produtores doprograma CBS This Morning – que topou fazer a matéria. No mesmo dia, o Huffington Post e o TheGrio.com, braço da NBC News, cobriram o caso, seguidos, na semana seguinte, pela CNN e a HLN.

Pouca diversidade nas redações

Muitos dos jornalistas que inicialmente dedicaram tempo a divulgar o assassinato eram negros – talvez, diz Stelter, este caso seja um reflexo do alerta que grupos pró-equidade racial fazem sobre a pouca diversidade nas redações americanas, onde as minorias tendem a ser sub-representadas para a população em geral. “Nesta história, há um certo grau de compreensão que vem das minorias, em especial afrodescendentes, porque vivemos isto”, observou Don Lemon, âncora negro da CNN que cobriu o caso intensamente pelas últimas duas semanas, lembrando que, na reunião de pauta, uma das produtoras, negra e mãe de dois adolescentes, quase chorou pedindo que algo fosse feito sobre o assassinato.

Quando o caso chegou à agenda nacional e os pedidos para a prisão de Zimmerman aumentaram, jornalistas e comentaristas negros conhecidos escreveram sobre ele de maneira pessoal. “Este é o medo que toma conta de mim sempre que meus filhos estão na rua: que um homem com uma arma e um dedo nervoso os considere ‘suspeitos’”, escreveu Charles M. Blow, do New York Times. No dia seguinte, Jonathan Capehart, do Washington Post, relembrou as regras que aprendeu quando era adolescente: “Não corra em público; não corra com nada nas mãos; não responda atravessado à polícia”. Muitos jornalistas chegaram a receber pedidos pelo Twitter e Facebook para que investigassem o caso. Na TV, a família falou diversas vezes com o reverendo Al Sharpton, ativista de direitos civis que tem programas no rádio e na MSNBC.

A cobertura nacional aumentou timidamente na semana do dia 12/3, mas só se intensificou após o dia 16/3, quando a gravação de uma ligação para o serviço de emergência da polícia foi divulgada, mostrando que Zimmerman recebeu orientações do atendente para não seguir Martin, após dizer que achava ter visto alguém suspeito. O áudio – que antes não tinha sido liberado pela polícia – foi crítico para uma maior divulgação, pois deu a rádios e TVs mais material e aumentou a suspeita sobre a culpa do vigia. Poucos dias depois do destaque nacional, o Departamento de Justiça disse que iria investigar o caso e, no dia 23/3, o presidente Barack Obama tocou no assunto diretamente – ressaltando a importância da investigação e afirmando, emocionado, que, se tivesse um filho, ele seria parecido com Trayvon Martin.