Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Como espremer 4 quartos, 2 suítes,
em 150 metros quadrados

Os jornalões paulistas estão abarrotados de anúncios nos fins de semana – a maioria de imóveis zero quilômetro, apartamentos novinhos em folha. Parabéns, o espetáculo do crescimento já começou.


É uma pena que as redações não possam compartilhar deste magnífico boom/bolha – poderiam produzir interessantes matérias. No domingo (3/6) a Folha de S.Paulo tentou. Na capa do caderno ‘Dinheiro-2’ uma chamada anunciava uma entrevista com um especialista preocupado com o risco da especulação imobiliária em São Paulo. Procura-se a matéria (pág. B-14) e descobre-se que a verdadeira preocupação do professor Robert Schiller, da universidade de Yale, são os riscos das bolsas de valores que ocupam 90% da entrevista.


A especulação imobiliária está praticamente escondida e resume-se ao seguinte: o crédito barato pode levar ao aumento dos preços dos imóveis e no Brasil; e como a riqueza está quase toda em São Paulo, a cidade pode ficar muito cara.


Mas a pletora de anúncios de lançamentos imobiliários não deveria interessar apenas aos departamentos de publicidade dos jornalões. A drástica redução no tamanho dos imóveis tem desdobramentos econômicos, urbanos e sociais extremamente importantes.


Observação acurada


Num lançamento perto do Parque do Iberapuera um lindo rosto de mulher vende apartamentos com 55 metros quadrados. Há duas décadas esta metragem caracterizava os apartamentos sala-quarto-kitchnette, felizmente banidos.


Outro lançamento oferece quatro dormitórios (2 suítes) com apenas 145 metros. Neste espaço evidentemente os armários estão banidos e as camas só podem ser dobráveis ou escamoteáveis.


Em outro lançamento, no bairro da Pompéia, dois e três dormitórios com suíte são comprimidos em apenas 63 ou 77 metros quadrados. Em compensação, os planejadores oferecem uma piscina climatizada com raia de 25 metros onde os moradores certamente vão revezar-se: enquanto parte da família dorme, a outra nada.


No Campo Belo, engenhosos empreendedores imobiliários vão oferecer quatro dormitórios em 123 metros quadrados. Em compensação, o comprador poderá desfrutar de um quarteirão com cerca de oito mil metros quadrados com diversão para todas as idades. E provavelmente um ‘parque contemplativo’ para curar as neuras e as psicoses resultantes de moradias tão espaçosas.


Este boom não é nada bom. Principalmente para os jornalistas que não podem examiná-lo de perto.