Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunicado sobre ameaças a repórter

Autora de uma série de reportagens que revelou as ações criminosas da chamada ‘Máfia dos Corpos’ no Rio de Janeiro, a repórter Maria Mazzei vem sendo vítima de seguidas ameaças e tentativas de intimidação. Mesmo depois de O Dia comunicar oficialmente as pressões contra a jornalista às autoridades estaduais de Segurança Pública e de noticiar o ocorrido, Maria Mazzei voltou a receber telefonemas anônimos – na Redação de O Dia e em seu celular pessoal – dando conta de que ela seria assassinada. O mais estarrecedor é que os criminosos parecem não temer a apuração policial e continuam as investidas para fazer com que a repórter cesse seu trabalho de investigação, nem que para isso tenham que acabar com a sua vida.


A primeira reportagem, de 13 de maio deste ano, mostrou a negociação iniciada dentro do Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio, para venda de cadáver e documentos falsos de óbito. Na ocasião, após as gravações feitas pela equipe de O Dia e do flagrante policial, duas pessoas foram presas. Na semana que se seguiu à publicação das matérias, Maria Mazzei foi ameaçada pela primeira vez, conforme registrado na 5ª Delegacia Policial do Rio de Janeiro. Na ligação, a jornalista ouviu que ‘seria enterrada como indigente’, como em casos descritos na reportagem.


Em junho, a equipe de O Dia revelou que o IML do Município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, havia sido usado em golpe do seguro, com um militar fraudando a própria morte. Em agosto, em uma nova série de denúncias, a repórter Maria Mazzei mostrou o esquema de um outro braço da máfia, montado em 1995, que teria como base o IML de Duque de Caxias, também na Baixada. O golpe do seguro, nesse caso, passaria de R$ 1 milhão, em valores atualizados. A jornalista conseguiu entrevistar, em telefonema gravado, o ex-oficial da Marinha Mercante Yussef George Sarkis, conhecido como Libanês, acusado de usar sua identidade no lugar de um indigente, forjando seu próprio assassinato. O corpo ‘escolhido’ tinha sete tiros. Yussef, que está em liberdade condicional após condenação por assalto a mão armada e constrangimento ilegal, disse ter como amigos ‘seqüestradores e policiais ligados a grupos de extermínio’, entre outras declarações de intimidação. Um policial civil, acusado de ligação com Sarkis, já havia sido afastado de suas funções, mas retomara o posto numa delegacia.


Na semana em que O Dia revelou o esquema de Sarkis e o suposto envolvimento com policial, grupo em um carro passou a rondar a casa da jornalista. Parentes da repórter foram abordados por desconhecidos em sua residência e receberam telefonemas anônimos. Em resposta às contínuas e cada vez mais ostensivas investidas de suspeitos, a empresa tratou da remoção de Maria Mazzei e de sua família para lugar seguro, em carro blindado, contando com a escolta da Polícia Militar, num procedimento de emergência, de madrugada.


Em carta encaminhada para o secretário estadual de Segurança, delegado Roberto Precioso, o jornal afirmou: ‘Todas as providências ao alcance da empresa estão sendo tomadas, mas questões de segurança são próprias e, definitivamente, do Estado, ao qual cabe, nesta solicitação, prover Maria Mazzei e sua família de proteção ininterrupta até que os delinqüentes envolvidos neste episódio sejam presos e entregues à Justiça.’


Contudo, apesar de a jornalista e sua família continuarem até então em local seguro, com proteção policial, e de oficialmente a Corregedoria da Polícia Civil estar investigando o caso, as ameaças de morte voltaram a acontecer, na semana passada e no último fim de semana, e foram ouvidas pela repórter e por um parente. Segunda-feira, 21 de agosto, procurada por O Dia, a Corregedoria informou não ter qualquer retorno na investigação para a captura dos responsáveis – mais de três meses depois da primeira tentativa de intimidação.


Em vista da gravidade das ameaças, do insignificante avanço no trabalho para prisão dos envolvidos e da necessidade de medidas urgentes para garantir a segurança da repórter, exigimos que as autoridades dêem a devida atenção ao caso e se comprometam publicamente com a proteção de Maria Mazzei.


Em 22 de agosto de 2006, com cópia para as autoridades federais e estaduais de Segurança Pública, entidades representativas das empresas de comunicação e dos jornalistas e grupos de defesa dos profissionais de Comunicação, da atividade jornalística e dos Direitos Humanos.


Direção de Redação – Jornal O Dia