JORNALISMO & LEGISLAÇÃO
Entrevista gravada vira prova na Justiça gaúcha, 9/07/07
‘Uma entrevista gravada foi considerada prova judicial em um processo por danos morais no município de Candelária (RS). Apesar de ter argumentado falar sem saber que estava sendo gravado, o prefeito do município, Lauro Mainardi, foi condenado a pagar R$ 15 mil de indenização ao ex-governante Elcy Simões de Oliveira, por ter afirmado que jogaria a cadeira do antecessor fora para não pegar Aids.
A decisão do juiz Gérson Martins da Silva considera que as palavras foram concedidas sob ciência de que se tratava de uma entrevista. Em matéria intitulada ‘Lauro Mainardi critica prefeitos anteriores’, de uma edição de julho de 2005 do Jornal do Autódromo, o prefeito afirma ter medo de pegar o vírus HIV da cadeira de Oliveira e conta ter jogado o móvel público no lixo para levar o seu próprio. Pela sentença, o requerido não convence de que não havia autorizado a gravação do diálogo.
‘Acontece que, durante a conversa, um dos repórteres questiona, expressa diretamente o réu sobre o Município de Candelária e suas principais atividades econômicas, chega a consultar o réu sobre as realizações de sua gestão na Prefeitura, sobre os projetos para o futuro e sobre os preparativos para o aniversário do Município; o interlocutor chega a mencionar que trabalhou no Jornal de Candelária’, diz a decisão de primeira instância, que estipulou em 30 salários mínimos a indenização.
O juiz ainda afirma que ‘ao dizer-se temeroso de contrair o vírus HIV pelo simples contato com a cadeira usada pelo autor, o réu pratica duas agressões: a primeira, ao autor, que passa a ser olhado de soslaio; a segunda, à sociedade, para quem presta o desserviço de informar a possibilidade de contaminação pelo uso de uma cadeira. (…) conclui-se que a ofensa foi relativamente grave, tendo em vista o meio empregado, o ambiente em que foi proferida e as condições pessoais do ofendido, que não concorreu ativamente para a ofensa’.
Após recurso de Oliveira, o desembargador Odone Sanguiné, relator do caso da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ampliou a indenização em R$ 15 mil, em decisão datada de 20/6. Mainardi ainda pode entrar com Recurso Extraordinário ou Recurso Ordinário perante o Supremo Tribunal Federal.’
INTERNET
Navegue menos, solte mais pipa, 5/07/07
‘Há dois meses, eu me mudei. Fui para outra rua de meu bairro. Antes, morava numa rua ‘de passagem’, bem agitada; agora, estou num oásis de tranqüilidade, perto de uma pracinha de cidade do interior, com direito a chafariz secular, corpo de bombeiros numa esquina, barzinhos na outra e uma farmácia pequena para completar. Um sonho.
O que mais me deixou feliz, porém, foi o que aconteceu com o dia-a-dia do meu filho. Se, no outro prédio, o playground vazio não só não atraía, mas afastava a meninada, uma praça tranqüila teve o efeito o oposto – agora, ele é como pinto no lixo!
Um alívio… Fico lá, no banco da praça, vendo ele jogar futebol, andar de bicicleta, brincar de esconde-esconde. E pensando em como a grande preocupação dos pais, no século XXI, está fora de foco, apontando para o alvo errado. Já escrevi sobre isso, e confesso que fui bem sarcástico intencionalmente – me irrita ver o computador, os games, a internet, a tecnologia, portanto, serem jogados na fogueira do apocalipse.
Os pais são o problema. Fica-se muito pouco com os filhos, ou menos do que se gostaria. Não adianta dizer que, quando a bomba estoura no colo dos pais, a culpa é da babá eletrônica ou da babá virtual – tirem a TV e a web da reta, por favor.
Mas fato é que as crianças hoje são muito mais atraídas pela tecnologia do que há vinte, trinta anos. Não vejo problema nisso. Jogar no Nintendo DS, conversar no MSN e espiar a vida dos outros no Orkut é muito mais divertido do que mais da metade das coisas que eu fazia nas férias quando criança. Mas a outra metade valia a pena, também – e isso nossos filhos correm o risco de não conhecer.
A preocupação é grande, e geral. Em maio, foi lançado nos Estados Unidos o livro ‘The Dangerous Book for Boys’ (algo como ‘Um Livro de Perigos para Garotos’), do britânico Conn Iggulden. Antes, ele era conhecido pelos livros históricos que escrevia; hoje, é ídolo de hordas de pais que agradecem de joelhos o que fez pela relação com seus filhos.
‘The Dangerous Book for Boys’ é como uma versão do ‘Manual do Escoteiro Mirim’, editado nos anos 70 pela editora Abril em parceria com a Disney, livro que fez a cabeça de muitos garotos da minha geração. Ambos dão dicas de como construir uma casa na árvore, reconhecer árvores pelas folhas, montar um carrinho de rolimã, soltar pipa (corretamente), criar um periscópio com papelão e pedaços de vidro – e por aí vai. Na
Inglaterra, o livro foi uma febre em 2006, e nos Estados Unidos uma edição adaptada aos ianques está em quarto lugar na lista de não-ficção da Amazon. Não é pouca coisa.
Em entrevista à livraria virtual, Conn Iggulden (que escreveu o livro em parceria com o irmão, Hal) afirma que o objetivo principal não era recuperar o contato com o ‘ar livre’ e as coisas simples da vida de um garoto, mas lembrar aos pais que a vida de seus filhos um dia será feito de riscos – e por isso oferecer atividades que o façam ‘se arriscar’, ainda que de brincadeira, em tom de aventura, fará toda a diferença, um dia.
O recado mais marcante de ‘The Dangerous Book for Boys’, contudo, não está no que se pode fazer pelos meninos, mas pelo que os pais podem fazer por si mesmos. São as crianças que jogam Playstation demais, ou os pais que trabalham – e navegam – em dose cavalar? Esta semana, uma pesquisa do Ibope/NetRatings revelou que a média mensal de navegação dos internautas brasileiros está beirando 23 horas, um recorde. Quem ‘recheia’ estes números? Só os adolescentes? Mesmo?
Há que ter autocrítica – e um pouco de bom humor, também, já que para entender e pôr em prática as dezenas de dicas contidas em livros como ‘The Dangerous Book for Boys’ e o ‘Manual do Escoteiro Mirim’, é preciso voltar a ser criança. Nem que seja pelo seu filho.
Em tempo: não deixe de assistir ao divertidíssimo ‘trailer’ do livro, com direito a um desfecho mais que irônico…
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’
MERCADO DE MÍDIA
Nem Gates segura Super-Slim, 6/07/07
‘Estou orgulhoso. Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que chegou aos 67 bilhões de dólares passando como um foguete por Bill Gates e sem dar a menor bola para Rupert Murdoch, é nosso. Bem, não inteiramente, mas muito nosso. Ele é acionista controlador da Embratel, da Claro e da Net (a bela carreira de Slim está em www.sentidocomun.com). No papel Slim só tem 49% da Net, mas muitas pessoas nesse pequeno mundo da TV fechada dizem que a última palavra na empresa é sempre dele.
Junto com a compra dessas ações da Net, Slim tornou-se fiador da dívida internacional da Globo Comunicações Participações (além da Net, TV Globo, Globosat, Globocabo, Som Livre), que saiu de uma angustiante dívida de quase US 2 bilhões no início de 2005 e chegou ao mês de março deste ano com US$ 460 milhões em caixa e uma dívida total de apenas US$ 666 milhões, a ser paga em longo prazo, a maioria em 2012. Os vencimentos a curto prazo somam apenas US$ 12 milhões.
Por conta dessa virada, a Standard & Poors elevou o rating da GCP de ‘BB’ para ‘BB+’ e ‘avalia que a empresa mantenha sua habilidade de gerar caixa apesar dos fortes investimentos em 2007 e 2008 na TV digital’, segundo o jornal Valor de 3/07.
Classificação em TV não é censura
A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, deu o voto de Minerva na decisão sobre portarias do Ministério da Justiça que impunham regras às emissoras de TV e casas de espetáculos. Pelo placar de 6 a 5, o STF afirmou que classificação indicativa não é tema constitucional, não fere a liberdade de expressão.
Mas a batalha das emissoras continuará em instâncias inferiores. E principalmente, junto à opinião pública. Uma ótima matéria, de Demétrio Weber, em O Globo, de 17/6, começava assim:
‘Para se adequar às exigências da classificação indicativa do Ministério da Justiça, as emissoras de TV aberta têm que praticar autocensura e cortar cenas de violência e nudez. As alterações têm um objetivo: tentar enquadrar filmes, seriados e novelas nas categorias de classificação definidas pelo Ministério da Justiça.’
Ué, não é exatamente isso o objetivo do governo, das entidades de proteção à infância e da maioria de pais e avós que (como eu) não estavam felizes com o crescente nível de erotismo e violência em horários com altíssima audiência de crianças? E quem provocou a ação do Ministério da Justiça? As próprias emissoras, cuja garantia de auto-regulamentação não cumpriu os objetivos anunciados.
Segunda sessão solene da UNE
Os 70 anos da União Nacional de Estudantes foram justamente comemorados nesta quarta (4/7), com uma sessão solene no Senado. Mas alguns cariocas, veteranos da sede na Praia do Flamengo, por conta do apagão aéreo e dos ares de Brasília nestes tempos de Renan, Roriz e Argello, fez uma outra sessão solene, no velho restaurante Lamas, onde a fundação e muitos outros agitos da UNE foram organizados.
Participaram três ex-presidentes da década de 50 – José Batista de Oliveira Jr., Marcos Heusi Neto e Raimundo Eirado – além de uma pequena (mas representativa) turba de sexa-septuagenuários, que mostrou o espírito da coisa abrindo uma grande faixa: A UNE DE SEMPRE – BUSH, FORA DO IRAQUE!
(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’
JORNALISMO ESPORTIVO
Antes dos Jogos do Pan, instalações para imprensa passam no teste, 9/07/07
‘Logo na entrada do Riocentro, principal área para credenciamento e onde fica o Centro Principal de Imprensa (MPC), agentes da Força Nacional são enfáticos em dizer que ‘não, o táxi não pode entrar’ e ‘sim, vocês terão que andar até a tenda de credenciamento’ – sendo que o oficial indicou a tenda errada. A segurança dos Jogos Pan-Americanos está tensa, e um dos motivos é que, um jornalista do Globo conseguiu passar para zonas de acesso restrito à imprensa na Vila Pan-americana.
Faltando menos de uma semana para o Pan do Rio de Janeiro, o Comunique-se foi testar as instalações para imprensa nos dois locais do Pan onde a mídia mais estará: o MPC e a Vila Pan-americana. Tirando pequenos erros e ainda algum estresse com a falha de segurança, o saldo foi positivo, sensação compartilhada com os poucos repórteres que estavam lá.
Credenciamento
Apesar de ter que entregar novamente um documento já enviado por fax, o credenciamento transcorreu sem grandes traumas. A credencial básica dá acesso ao MPC, às linhas de transporte especial e às tribunas de imprensa e zonas mistas nos locais de jogos, salvo as cerimônias de abertura e encerramento, que demandarão um convite distribuído pelos comitês olímpicos de cada país. Há também credenciais diferenciadas para quem precisa ter acesso ao Centro Internacional de Radiodifusão (IBC).
O profissional também recebe, além dos brindes, um completo e bem diagramado manual de imprensa, com dados sobre a cidade e informações como acesso às arenas, mapa das instalações com áreas assinaladas para mídia e código de vestimenta. Fica-se sabendo, por exemplo, que é permitido trabalhar de bermuda e calçado aberto.
MPC
A paz e os lugares vazios no Centro Principal de Imprensa parecem uma calmaria antes da tempestade. ‘Semana que vem, isso estará um caos’, prevê um voluntário. Funcionando desde o início do mês, o espaço foi aprovado por quem entende de cobertura esportiva.
‘O MPC tem nível olímpico. Só vi algo parecido no Pan de Indianápolis, em 1987. A única ressalva são os terminais de acesso ao serviço de notícia dos jogos. São 30, poucos em proporção com as 560 posições de trabalho’, comenta Jorge Luiz Rodrigues, editor de esporte do Globo, o mesmo que mostrou a falha de segurança.
‘Te digo com a experiência de quem já cobriu cinco Olimpíadas: transporte e voluntários têm que funcionar. E, até aqui, estão funcionando’, comenta Rodrigues. Do Riocentro, os jornalistas – e todos que trabalham no Pan – têm ligação de ônibus para todos os locais de jogos. Os veículos têm ar condicionado e saem com pontualidade. E os voluntários, mesmo quando não têm a informação, tentam ajudar com simpatia.
Vila
A Vila Pan-americana foi o local com o maior número de restrições encontradas: jornalistas só podem permanecer na Zona Internacional – uma praça com lojas e restaurantes, também freqüentada pelos atletas -, sendo que somente 100 profissionais de mídia impressa e 100 de rádio e TV podem estar lá ao mesmo tempo. Para ter acesso à Zona Internacional, o jornalista deve trocar sua credencial por um passe de visitante. Já para o subcentro de imprensa da Vila – com uma sala de coletiva com 60 lugares e uma sala de trabalho para 25 pessoas – só é preciso a credencial.
‘Como pontos positivos, eu destaco o transporte. Os ônibus são limpos e pontuais. Há revista e detectores de metais na entrada de cada lugar, mas isso é normal e necessário. Todo mundo é educado. Como ponto negativo, acho que poderiam ter instruído melhor os voluntários. A culpa não é deles, mas de quem instruiu. E não sei por que eles não podem dar entrevistas’, pondera Sergio Guimarães, correspondente da Rádio Gaúcha no Rio. ‘Só quero ver de que forma ficará quando os Jogos começarem’.
A questão começa a ser respondida em quatro dias.’
Marcelo Russio
Lições não tão bem aprendidas, 3/07/07
‘Olá, amigos. A última Copa do Mundo nos ensinou (ou deveria nos ter ensinado) uma lição importante: a de esperarmos para analisar. Antes da Copa da Alemanha, todos, quase sem exceção, achavam que a Seleção tinha o favoritismo absoluto, e se deixaram levar pelo clima de festa e de magia que nós enxergávamos no time de Parreira. As transmissões dos treinos eram feitas em clima de expectativa sobre qual seria a próxima demonstração de habilidade de Ronaldinho Gaúcho, ou de quantos gols a dupla Ronaldo e Adriano faria nos adversários. Perder um jogo? Quase impossível. Perder a Copa? Fora de cogitação!
Após a Copa, com as más atuações e a eliminação apática diante da França, percebemos os erros cometidos, e começamos a justificar o injustificável: inebriamos-nos pelo clima de favoritismo criado por nós mesmos.
Um ano depois, na Copa América, me parece que estamos cometendo erros semelhantes, mas para o outro lado. Hoje achamos que tudo está ruim, que não conseguiremos vencer ninguém e, mesmo com uma boa atuação no segundo tempo contra o México (na minha humilde opinião), estamos pessimistas e ressabiados.
É bom que fique claro que, para a coluna, o Brasil não está jogando bem. Mas tem momentos de bom futebol, e é aí que chega o ponto crucial da coluna. Por que precisamos dar uma nota geral para as atuações do time? Por que não podemos, simplesmente, analisar os pontos positivos e negativos sem, necessariamente, dar um veredicto final. O que dizer quando jogamos bem e mal dentro da mesma partida? Jogamos bem e ponto? Ou jogamos mal e ponto?
Não acho que as análises feitas hoje em dia sejam as mais justas ou corretas. Temos momentos de bom futebol, lampejos de genialidade, como o de Robinho no terceiro gol contra o Chile, e momentos de mau futebol, como no primeiro tempo contra o México.
Dizer que jogamos bem ou mal, sem analisar separadamente os pontos, a meu ver, é um erro. Fazendo isso, acabamos sendo injustos com os bons momentos ao dizermos que o time está muito mal, e sendo benevolentes com os maus momentos ao superavaliarmos uma atuação excelente como a de Robinho contra o Chile.
Resumindo: as análises absolutistas, do tipo ‘Brasil sofre com a seleção’ ou ‘Robinho genial’ me parecem pobres e preguiçosas. Acho que carecemos de uma melhor visão sobre os pontos positivos e negativos de forma separada, e não olhando com uma nota final tudo o que se faz. Corremos o risco de acabar deixando passar detalhes interessantes, como a boa participação de Vágner Love em dois dos três gols do Brasil contra o Chile (sofreu um pênalti no primeiro gol e deu um passe primoroso para Robinho no segundo). E, no terceiro, estava pronto para marcar, caso Robinho decidisse passar a bola ao invés de chutar. Não é para isso que serve o centroavante de referência, como é o Vágner Love? Se fosse o Romário, certamente diriam que ele é assim mesmo, que fica lá paradão, mas quando precisa, decide.
Vi muito pouca gente falar disso…
(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’
LIBERDADE DE IMPRENSA
Assembléia européia pede compromisso com a liberdade de imprensa no continente, 9/07/07
‘A 16ª sessão anual da Assembléia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) propôs que todos os países-membros do grupo acabem com a pena de morte e assumam um compromisso com a liberdade de imprensa. A reunião ocorre na Ucrânia e a proposta faz parte do projeto de resolução do Comitê para Assuntos de Democracia, Direitos Humanos e Ajuda Humanitária da assembléia.
O relator da proposta é Jesús López-Medel, deputado espanhol do Partido Popular. Ele reivindicou que a assembléia assuma o compromisso de jornalistas poderem trabalhar sem ‘perder o emprego ou mesmo a vida’. Segundo Medel, a liberdade de imprensa é restrita a alguns membros e é dever dos parlamentares defender meios de comunicação nacionais e internacionais.
(*) Com informações da Agência Efe.’
TV CULTURA
Heródoto Barbeiro assume o lugar de Salete Lemos no Jornal da Cultura, 9/07/07
‘Desde a semana passada, quando Salete Lemos saiu de férias, Heródoto Barbeiro está comandando e apresentando as notícias do Jornal da Cultura. As férias de Salete terminam no dia 31/07, e ela não voltará à emissora, segundo a assessoria de imprensa da Cultura.
Na primeira passagem pela Cultura, Heródoto apresentou o Vox Populi. Também foi editor de Política e apresentou os programas Cesta Básica e Roda Viva.
Heródoto e Salete não foram encontrados. A direção da TV Cultura não pôde responder o Comunique-se porque hoje é feriado em São Paulo.’
MEMÓRIA / CARLOS ZANATTA
E ARIEL BOTTARO FILHO
O jornalismo perde Carlos Eduardo Zanatta e Ariel Bottaro Filho, 9/07/07
‘Carlos Eduardo Zanatta, de 55 anos, só descobriu que tinha câncer de fígado quando já estava internado na UTI do Hospital Santa Luzia, em Brasília, onde ficou por três semanas antes de morrer, na última quinta-feira (05/07). Já Ariel Bottaro Filho teve um ataque cardíaco no domingo (08/07), aos 61 anos.
Zanatta atuava nas revistas Teletime, Tela Viva e Pay-TV. Era chefe da sucursal de Brasília. Deixa mulher e filhos.
Bottaro Filho era Secretário de Comunicação da Prefeitura de Florianópolis. Foi editor-chefe do jornal A Gazeta, diretor de redação de O Estado, diretor de jornalismo da RBS TV em Santa Catarina e da TV Record em Belo Horizonte, entre outros. Também deixa mulher e filhos.
(*) Com informações do site da Prefeitura Municipal de Florianópolis.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
Sobre Marketing, Jornalismo e Assessoria de Imprensa, 6/07/07
‘O XIS DA QUESTÃO – Quando a notícia verdadeiramente existe, e é bem tratada na origem, isto é, na fonte, o espaço para a divulgação jamais faltará. Sem necessidade de práticas de ‘convencimento’ herdadas’ de velhos e mal-cheirosos conceitos de Relações Públicas – algumas delas hoje refinadas por brilhosos procedimentos de marketing.
Faz pouco tempo, fui a Recife falar aos participantes de IV Congresso Brasileiro de Comunicação Social, promovido pela Faculdade Maurício de Nassau. O tema – ‘Sociedade, Marketing e Jornalismo: um acordo possível’ – suscitou perguntas que, por falta de tempo, não puderam ser respondidas na ocasião. Prometi respondê-las, na web. E cumpro hoje parte da promessa, aproveitando o espaço do Comunique-se para responder àquelas que chegaram à mesa com a identificação.
***
– Como o marketing pode ajudar o jornalismo sem atrapalhar a sua credibilidade? (pergunta de Thiago César).
A resposta deve ir diretamente ao âmago da questão: para a divulgação bem sucedida das suas ações, ao marketing interessa que o jornalismo seja o que deve ser, uma linguagem socialmente confiável. O jornalismo para nada serve, menos ainda ao marketing, se não puder ser acreditado. Logo, se ao marketing interessa a confiabilidade da linguagem jornalística, ele próprio deve empenhar-se na preservação dessa confiabilidade.
A primeira coisa a fazer é a de não transferir às ações jornalísticas as razões meramente mercadológicas das estratégias e táticas do marketing. Porém, a tendência que observo por aí, em cases que tenho estudado e na desconstrução que com alguma regularidade faço de noticiários jornalísticos, é a de uma abusiva, perigosa e, a meu ver, pouco inteligente instrumentalização do jornalismo. Com artimanhas muitas vezes irrigadas a dinheiro alto (para gastar em viagens, festas, hotéis cinco estrelas, brindes de exaltação das marcas e campanhas publicitárias), o marketing impõem à pauta jornalística intenções e razões não explicitadas. O noticiário conseguido passa a ser medido em centímetros, para dimensionar resultados das ações de marketing, para as quais a linguagem jornalística foi mero instrumento tático, sem se levar em conta nem a natureza nem a função sócio-cultural do jornalismo, como linguagem de relato e comentário da atualidade. O resultado pode ser, e com lamentável freqüência o é, a fraude do próprio jornalismo.
Isso se dá em decorrência de pelo dois fatores combinados:
1) O poder excessivo – de muito dinheiro e, por vezes, frágeis balizamentos éticos – concedido ao marketing, nos espaços do agir estratégico das organizações;
2) A preguiça intelectual dos jornalistas que, nas redações, se acomodam à simples reprodução dos discursos particulares, que já lhes chegam organizados e revestidos de aparências jornalísticas.
Há um acordo civilizado possível, se cada atividade se desenvolver nos limites e deveres de sua vocação. Ou seja: que, com objetivos e critérios do seu próprio interesse, o marketing (político, econômico, financeiro, social, cultural…) produza fatos e conteúdos verdadeiramente noticiáveis, sem os quais o jornalismo não tem o que fazer; e que o jornalismo os noticie, interprete e analise sem preconceitos, respeitando os direitos e a dignidade dos sujeitos sociais produtores de conteúdos, mas com independência e honestidade, para bem atender aos direitos dos cidadãos, de serem bem informados e esclarecidos.
(Esta resposta atende, também, à questão colocada por Gildo da Costa Dantas, concluinte do curso de Jornalismo da Universidade Potiguar, de Natal).
– Chaparro: o que ficou da sua experiência de primeiro Assessor de Imprensa da Sudene? – pergunta de Luiz Maranhão.
É verdade, Luiz Maranhão. Assumi a tarefa de implantar a primeira assessoria de comunicação social da Sudene quando essa então exemplar e importante instituição teve seu comando devolvido aos civis, em outubro de 1964, em decorrência de pressões feitas por um movimento de lideranças civis de Pernambuco, tendo à frente dom Helder Câmara. Levei para esse trabalho na Sudene o entendimento, que sempre tive, de que o jornalismo precisa de boas fontes e delas depende. Desenvolvi o meu trabalho (com uma equipe de apenas três repórteres e uma secretária) pensando em dar à Sudene a respeitabilidade e a eficácia de fonte jornalística confiável, de portas abertas, capaz de divulgar a tempo e horas os seus conteúdos e de oferecer respostas rápidas, satisfatórias, a todas as perguntas que qualquer repórter fizesse, bem como atender todas as solicitações de informação e/ou explicação vindas das redações. Para que assim fosse, fiz até um acordo com o superintendente da instituição, o engenheiro agrônomo João Gonçalves de Souza, já falecido. Por esse acordo, ele interromperia qualquer reunião ou qualquer trabalho em que estivesse envolvido, se, a meu critério, dada a relevância e/ou urgência da questão, devesse receber imediatamente um repórter que precisasse de respostas a perguntas importantes. E o acordo funcionou várias vezes, nos quase dois anos função.
Em resumo, Luiz Maranhão, procurei (e penso que consegui) montar e fazer funcionar uma assessoria de imprensa de natureza jornalística, capacitando a Sudene para atuar como fonte. Os procedimentos implantados levavam em conta três variáveis cruzadas: 1) A Sudene produzia e acumulava um fabuloso acervo de conhecimento e informações, e isso deveria ser socializado; 2) A Sudene era responsável por decisões e ações que se refletiam sobre a população nordestina, em efeitos de curto, médio e longo prazo, e por isso tinha o dever de informar o que fazia e por que fazia, e, além disso, oferecer resposta a todas as indagações que, por meio da imprensa, a sociedade fizesse; 3) Como partícipe do processo jornalístico, no qual atuava na qualidade de fonte, a Sudene deveria respeitar e adotar, nas suas relações com a Imprensa, os padrões éticos do Jornalismo. E exigir reciprocidade.
***
Em relação a essa terceira variável, guardo uma lembrança que até hoje me acalenta o ego: fui o primeiro assessor de comunicação na região que recusou o pagamento do então chamado ‘jeton’, uma espécie de salário clandestino que as instituições objeto da cobertura jornalística pagavam aos repórteres credenciados. Era uma prática generalizada, considerada coisa normal. Lembro-me, como se fosse hoje, do diálogo kafkiano que mantive com os repórteres credenciados, no dia em que os trabalhos da assessoria se iniciaram. Mal abri as portas, os repórteres que faziam a cobertura da Sudene me encostaram literalmente na parede, com a seguinte pergunta:
– Quanto vamos ganhar de ‘jeton’?
– Nada – respondi.
– Mas em todos os lugares os repórteres credenciados ganham ‘jeton’!
– Aqui, na Sudene, não haverá ‘jeton’.
– Mas… por quê?
– Porque a Sudene é um órgão público que deve ser acompanhado com independência pela imprensa, para ser criticado. Se eu lhes pagar ‘jeton’, vocês vão criticar o quê?
O confronto se arrastou por dias, porque nem os repórteres abriam mão do ‘jeton’, nem eu aceitava a hipótese de pagá-lo. E eles só se conformaram quando conseguiram, nos próprios jornais, que lhes fosse paga uma comissão sobre os editais que a Sudene, por lei, era obrigada a publicar. Aliás, esse foi, no meu tempo, o único gasto com publicidade feito pela Sudene.
A prática na Sudene me ensinou, Luiz Maranhão, algo que mais tarde pude comprovar em estudos e experimentacões acadêmicas, principalmente em torno de um projeto chamado ‘Pré-Pauta’, desenvolvido para o meu mestrado, e implantado na USP como experiência de jornalismo na fonte: é possível fazer assessoria de imprensa jornalística em organizações que tenham a capacidade e o dever de gerar conteúdos de interesse público. Elas devem atuar como fontes competentes e inevitavelmente interessadas, mas respeitando os padrões éticos e técnicos do jornalismo.
Quando a notícia verdadeiramente existe, e é bem tratada na origem, isto é, na fonte (porque, ao contrário do que alguns ainda acreditam, o berço da notícia não está nas redações), o espaço para a divulgação jamais faltará. Sem a necessidade de práticas de ‘convencimento’ herdadas de velhos e mal-cheirosos conceitos de Relações Públicas, dos quais o ‘jeton’ fazia parte.
E como me alonguei demais, deixo para a próxima semana mais duas perguntas que ainda ficaram sem resposta.
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 2007), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
JORNAL DA IMPRENÇA
Defecção e defecação, 5/07/07
‘Dormi entre assassinos,
o pensamento atirado
perto do horizonte.
(Celso Japiassu in Enlace)
Defecção e defecação
O considerado Sérgio Pavarini, jornalista em São Paulo, foi o primeiro; depois, outros e outros e ainda mais outros leitores enviaram esta espantosa matéria extraída do Jornal da Cidade, de Bauru:
Escriturário defeca em processo após cumprir pena alternativa
Os funcionários do cartório da 5.ª Vara Criminal de Jaú (47 quilômetros de Bauru) se assustaram ontem à tarde quando o escriturário Romildo Segundo Giachini Filho, ao contrário do que fazia todos os meses, pegou seu processo para assinar e, imediatamente, pediu para que todos se afastassem. Por alguns segundos, imaginaram que ele fosse agir violentamente ou sacar uma arma. Erraram. A cena que veio na seqüência foi tão inusitada quanto escatológica: o escriturário, 49 anos, abaixou a calça e defecou sobre a papelada.
Impressionado com a criatividade de Romildo, Janistraquis passou três dias para limpar tudo da poluída memória, depois, calmamente, depurou:
‘Considerado, pensando bem, o escriturário apenas emprestou imagens fortes ao Brasil de hoje, o qual, sabemos todos, é um país de m…’.
(Leia no Blogstraquis a íntegra da imortal matéria.)
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Carta de despedida
Quem ainda não conhece a carta aberta na qual o craque Zé Roberto se despede do Santos, da Seleção e deste país de m… basta dar uma chegadinha ao Blogstraquis.
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No Mínimo
A coluna lamenta profundamente o fim do site No Mínimo, o qual reunia alguns dos nossos melhores jornalistas. Convém recordar que ali abrigaram-se muitos dos textos que aqui receberam nota dez. Não causou surpresa, todavia; afinal, vivemos num país de m…, cujo presidente é analfabeto e algoz de toda e qualquer manifestação cultural além das festas de São João na roça.
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Culpa no cartório
Deu em tudo quanto é jornal, revista, rádio e TV, daqui e d’além mar:
O jogador Anderson, atacante da Seleção Brasileira na Copa América, sofre investigação em Portugal. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras acusa-o de ter entrado irregularmente no país, quando foi transferido do Grêmio para o Porto.
Janistraquis está convencido de que o arremedo de craque tem mesmo culpa nos cartórios portugueses:
‘Considerado, um elemento que passa apenas dois anos em Portugal e fala com marcante sotaque lusitano é capaz de tudo e mais um pouco.’
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Calça na mão
Na coluna anterior, na mesma nota em que a professora de Vitória (ES), Camila Alves, denunciava o uso canhestro da crase em matéria do Meio&Mensagem online, estava escrito:
(…) título capaz de ouriçar todos os que mantém um bom relacionamento com a flor do Lácio, tão inculta quanto bela.
No dia seguinte o colunista recebeu esta mensagem do considerado e vigilante leitor Humberto Moreira:
Na sua coluna de 28/06/2007 há um texto criticando a crase num ‘a Londres’. Só que, no mesmo trecho, foi escrito o seguinte:
‘…ouriçar todos os que mantém um bom relacionamento com a flor do Lácio, tão inculta quanto bela…’
Não seria ‘mantêm’, com chapeuzinho, o que daria mais classe londrina ao texto e tornaria a flor do Lácio mais bela?
Janistraquis foi o primeiro a ler, me chamou de ‘apedeuto velho e cegueta’ e tomou a iniciativa de pedir correção aos editores deste C-se. Depois, tripudiou:
‘Há sempre alguém de olho, considerado; não se pode bobear…’
É verdade, porém devemos esclarecer mais uma vez que o título da coluna, ‘Jornal da ImprenÇa’, não se refere à ignorância dos outros, mas à insciência do próprio colunista.
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De zebras e mortos
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre os currais do Congresso dá pra se enxergar Renan mais agarrado ao cargo do que papagaio no arame em dia de tempestade, pois Mestre Roldão lia o Correio Braziliense, seção Mundo, em que se faz uma chamada a respeito das vítimas das inundações no Paquistão, quando encontrou o título Chuvas mortais.
Roldão, que muito estudou e refletiu nessa vida de leitor/crítico de jornais, prevaleceu:
As palavras são traiçoeiras. O homem é mortal, mas as chuvas podem ser mortíferas, mas não são mortais.
Em outro tópico, na mesma página, sobre o híbrido da zebra com um cavalo, o Correio informa que ‘o inconveniente (sic) das hibridações é que, normalmente, geram animais estéreis’. Pelos meus parcos conhecimentos, os animais híbridos, como o burro, são sempre estéreis.
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Celso Japiassu
Visite o Blogstraquis e leia a íntegra do poema cujo excerto epigrafa esta coluna; é um dos Dezessete Poemas Noturnos que o considerado leitor pode conhecer no site Uma Coisa e Outra.
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…é refresco
Janistraquis, que mesmo quando mente não perde a pose, como alguns senadores desta República de m…, e que foi amigo do carnavalesco Clóvis Bornay, nos velhos tempos do Beco da Fome, na Av. Prado Júnior, pois Janistraquis viu, leu e ouviu e se irritou com o seguinte assunto:
‘Considerado, um diretor do Palmeiras insinuou que Richarlyson é homossexual e o jogador do São Paulo ameaçou processá-lo; no dia seguinte, aquela mesa-redonda que a Bandeirantes promove na hora do almoço virou autêntico aperta-chico, com o ex-craque Neto furioso com a ‘falta de respeito’ ao sãopaulino.
Acontece que a veadagem se reúne na Parada do Orgulho Gay (atentem bem para a palavra: orgulho); solta as plumas por aí afora, em todos os cenários possíveis e imagináveis; é generosamente aplaudida pela mídia, etc. e etc. Então, por que motivo alguém quer processar quem o chamou de bicha? O preconceito contra os homossexuais está justamente em considerar insulto esta, como direi, opção, ou melhor, orientação, ou, melhor ainda, esta frescura!’
É verdade; a hipocrisia deita raízes no terreno movediço da maricagem e não há comportamento politicamente correto que sobrenade; dá-se o mesmo entre homens que apregoam a liberdade sexual das mulheres… dos outros.
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Tratos&tratos
O considerado leitor que se assina Detetive Brown envia notinha recolhida na coluna Claudio Humberto:
28/06/2007 | 9:28 Servidora acusa Abin de mal tratos
Servidora concursada da Agência Brasileira de Inteligência em Manaus (AM), deficiente física, espera remoção há quase três meses para sua terra natal, após perícia médica. Sem trabalhar, com depressão severa, reclama que a Abin, além de outras ilegalidades, viola o estatuto das pessoas com deficiência.
O misterioso leitor assim se manifesta:
‘Sou leitor assíduo da coluna e tenho absoluta certeza de que Claudio Humberto não escreveu essa barbaridade; deve ter sido algum ‘interino’, né mesmo?’
Janistraquis também acha, ó Detetive, porque o colunista é alfabetizado e não iria causar maus-tratos aos seus leitores.
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À moda de Chávez
A considerada Artemis Silveira Martins, arquiteta e poetisa de São Paulo, está convencida de que os donos das redes de TV brasileiras devem botar as barbas de molho, depois da notícia do fim da RCTV, espécie de Globo da Venezuela:
Como Lula adora imitar Hugo Chávez e é mesmo tão autoritário e tão inimigo da liberdade de expressão quanto este, pode querer repetir o gesto; basta acusar qualquer emissora de ‘televisão-lixo’, o que ninguém contestará, diga-se de passagem, e providenciar a cassação.
Janistraquis concorda com você, ó Artemis, mas somente em parte:
‘O temor da arquiteta/poetisa se justificaria se estivéssemos a deglutir as dejeções do primeiro mandato; hoje, o presidente consegue, por não reveladas artes, razoável apoio das emissoras; não precisa cassar nenhuma delas e nem mesmo fazer qualquer ameaça.’
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Nota dez
O considerado Alberto Dines escreveu no Observatório da Imprensa:
(…) A imprensa brasileira deixou de se expor à opinião pública. Discute tudo, menos a vida íntima das empresas jornalísticas. A imprensa brasileira deixou de brigar pela integridade da imprensa brasileira. Mas o que se passa dentro de uma empresa jornalística é de interesse da sociedade.
Leia aqui a íntegra desse artigo que vai dar o que falar.
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Errei, sim!
‘BORGES REDIVIVO – Janistraquis leu título e legenda de matéria da Folha de S. Paulo e concluiu que Jorge Luis Borges está vivo. Dizia o título: Maria Kodama chega a São Paulo para falar de Jorge Luis Borges; legenda: Maria Kodama acompanha o escritor em sua visita à Folha. Meu secretário explicou: ‘Ora, considerado; se Maria Kodama chega e acompanha é porque ele veio com ela!’. Deu-se, indubitavelmente, o deslavado milagre, como dizia Nélson Rodrigues.’ (abril de 1992)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.
(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros(dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’
TELEVISÃO
A grande ‘enganação’ da TV digital brasileira, 3/07/07
‘Diz a lenda que Assis Chateaubriand, o todo-poderoso empresário brasileiro das comunicações, em visita aos EUA conheceu a televisão e resolveu implantar a novidade no Brasil. Como quase tudo em nosso país, não houve tempo ou interesse para maiores pesquisas, consultas à sociedade ou avaliação das conseqüências futuras.
Chatô acreditou no seu instinto, no seu ‘faro’ para bons negócios e resolveu trazer a novíssima tecnologia. Foi somente mais uma de suas decisões solitárias, autoritárias e muito polêmicas.
Nos anos 50 ter uma televisão era o próximo passo natural para quem já possuía um império de comunicações com centenas de jornais, revistas, agências de notícias e rádios. Ele acreditava que estava simplesmente expandindo seus negócios e defendendo seus interesses.
O governo e a sociedade – indecisos e enfraquecidos após tantos anos de ditadura (Estado Novo) resolveram não interferir nas leis do mercado ou enfrentar os interesses do poderoso chefão. Para quem não sabe, Chatô foi tão ou mais poderoso do que seu sucessor nos negócios de comunicação no Brasil, o empresário Roberto Marinho. Assis Chateaubriand foi o nosso verdadeiro Cidadão Kane, o precursor do coronelismo eletrônico.
E os televisores?
Mas voltando à lenda, meio a toque de caixa, às pressas, foram adquiridos os sofisticados e caríssimos equipamentos necessários para a implantação da TV no Brasil. Após uma verdadeira maratona, um esforço extraordinário, estávamos prontos para sermos o quarto, repito, o quarto país do mundo a ter televisão.
Apesar das baixas taxas de industrialização, saúde ou participação democrática e apesar dos altíssimos índices de inflação, analfabetismo e desemprego, o Brasil surpreendia o mundo com inauguração pioneira da televisão. Nosso país não poderia ser jamais derrotado no campeonato mundial de novas e duvidosas tecnologias.
Tudo ‘quase’ pronto para a histórica inauguração da TV brasileira e eis que alguém se aproxima de Chatô e pergunta: e os televisores? Onde estão os aparelhos para o público assistir a inauguração da TV no Brasil?
Corte para silêncio profundo e mal-estar geral. Ninguém havia se lembrado dos principais interessados: os telespectadores brasileiros. Eles não foram consultados sobre a implantação do novo meio e agora não foram sequer convidados para grande inauguração. A sociedade brasileira embarcava em mais uma grande aventura, mais um grande projeto de seus poderosos dirigentes ou empresários como mera coadjuvante.
A solução de última hora foi igualmente típica e emblemática. A implantação da TV no Brasil não podia atrasar. Para evitar os entraves da legalidade, a lentidão da burocracia estatal, quatrocentos televisores foram sutilmente ‘trazidos às pressas’ ou ‘contrabandeados’. Os aparelhos foram espalhados em lugares públicos da cidade de São Paulo e a inauguração da TV brasileira aconteceu conforme os planos do nosso grande e poderoso empresário. Como dizem os franceses, ‘quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas’.
TV digital adiada
As lendas e mitos têm um certo fundo de verdade. Tentam nos explicar o que temos dificuldade de aceitar ou compreender. No caso da televisão, os fatos ou as ‘lendas’ sobre a implantação da TV no Brasil podem nos ajudar a evitar os erros do passado. Quem sabe, dessa vez, cometemos erros novos.
Com tantas manchetes sobre apagões aéreos, violência urbana e denúncias de corrupção no congresso, parece que esquecemos a polêmica decisão do governo pela implantação apressada do Sistema Brasileiro de TV Digital.
Do Brasil de Chatô ao país do ministério dos radiodifusores, poucas coisas mudaram.
Em relação às promessas da TV digital brasileira, o noticiário recente confirma as piores expectativas:
TV digital brasileira poderá ser adiada, afirma coluna ‘Outro Canal’
‘A inauguração da TV digital brasileira corre risco de atrasar, não cumprindo a previsão do governo federal de ser realizada no dia 2 de dezembro… atraso da produção de equipamentos de sintonia dos canais…Em abril deste ano, o próprio diretor-geral da TV Globo afirmou que o cronograma de implantação da TV digital feito pelo Ministério das Comunicações é ‘otimista demais’.
Segundo o mesmo noticiário, ‘os protótipos ainda estão longe do ideal e deverão custar cerca de R$ 800 –muito acima dos US$ 100 previstos pelo Ministério da Comunicação’.
Mas o pior ainda está por vir. Agora, somos obrigados a ‘financiar’ com recursos públicos (renúncia fiscal) a grande aventura da implantação da TV digital brasileiro pelos poderosos empresários do setor:
TV Digital: Governo zera imposto de importação
O Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) aprovou nesta quarta-feira, 27, a redução de 12% para zero da alíquota do Imposto de Importação para equipamentos de transmissão digital que não sejam produzidos no Brasil.
Os pleitos para importação de equipamentos para transmissão digital, segundo o ministério, são da ordem de US$ 40,8 milhões.
Igual à analógica
Mas se você ainda tem dúvidas sobre essa ‘arapuca’ que se tornou processo de implantação da TV digital brasileira recomendo a leitura do excelente artigo de Diogo Moysés do Observatório de Direito à Comunicação:
TV Digital: quem é que vai às compras?
Destaco os principais argumentos:
1. O tempo de transição da TV analógica para a digital será de 10 anos…já tem gente admitindo que o prazo não será cumprido.
2. As emissoras precisam trocar seu parque de transmissão analógico por um novo, digital… a TV brasileira não é o Jardim Botânico, dá para imaginar a dificuldade que será fazer isso no interior do Brasil.
3. A população não terá motivos para comprar o conversor. Ao contrário, terá motivos para não fazê-lo.
4. A TV digital brasileira não será interativa. A TV digital será exatamente igual à analógica: sem interatividade.
5. O padrão japonês (ISDB), uma das potencialidades anunciadas era justamente a multiprogramação… a grande possibilidade de democratizar o principal meio de comunicação do país e dar voz às tantas diversidades hoje ausentes da televisão… mantido o plano de canalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nenhum outro programador poderá ocupar o espectro. Nem mesmo as emissoras do campo público, inclusa aí a futura rede pública de televisão.
6. Sem novos conteúdos, outra razão a menos para ir às compras.
7. A maioria absoluta da população não comprará um televisor de alta definição (capaz de mostrar a melhoria substancial na qualidade de imagem), pelo simples fato de que ele (o televisor de alta definição) é caro demais…
8. O fato de o governo estar disposto a voltar atrás e permitir a instalação de mecanismos anti-cópia na televisão digital (bastou que o governo fosse pressionado pela indústria de Hollywood e pela Globo para recuar em sua intenção original)….copiar conteúdos para consumo pessoal, com fins educativos e não-lucrativos – não poderá mais ser feito, assim como não poderá fazê-lo um professor que queira gravar um conteúdo para discussão em sala de aula.
9. Isso, é claro, a despeito do que diz a Constituição Federal. Se hoje é possível copiar os conteúdos para os fins que a lei permite e se não poderei fazer isso na TV digital, por que comprar um conversor?
O artigo de Diogo Moysés é leitura essencial para entender os riscos e custos de mais uma apressada, dispendiosa e polêmica aventura.
E os televisores? E o público? A história se repete. Assim como no passado, nos tempos do Chatô, a sociedade brasileira não foi convidada a participar da grande festa da implantação da TV digital brasileira. É refém de falsas promessas, negociações nebulosas e decisões autoritárias. Mas no final será certamente convidada… a pagar a conta.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’
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