Leia abaixo as reportagens escolhidas para a seção Entre Aspas. ************
Quinta-feira, 16 de agosto de 2007
TELEVISÃO
Movimento vai fiscalizar concessões de TV
‘Um grupo de entidades de esquerda está articulando um movimento nacional que buscará a criação de ‘mecanismos públicos’ para fiscalizar a distribuição e a renovação de concessões de canais de TV e rádio.
Manifestações populares estão agendadas para 5 de outubro, quando vencem as cinco concessões da TV Globo (São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Recife) e as da Record, Band, TV Gazeta e TV Cultura em São Paulo, entre outras
Já fazem parte do movimento a CUT, a UNE e o MST, além de ONGs atuantes na área de comunicação como o coletivo Intervozes e o FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação).
‘A idéia não é fazer caça às bruxas. É mostrar que as concessões não são tratadas como coisa pública e exigir critérios objetivos para a renovação das concessões, como o cumprimento dos princípios constitucionais [a programação deve dar ‘preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas]’, diz Diogo Moyses, do Intervozes.
Segundo Moyses, o movimento fará ‘avaliação sistêmica das concessões’. ‘Hoje, as concessões são renovadas em bloco [pelo Congresso]. Não há avaliação dos princípios constitucionais. O Ministério das Comunicações apenas checa certidões’, afirma. O Intervozes acaba de fazer estudo que mostra que quase todas as FMs de São Paulo estão irregulares.
TEMPESTADE Pegou mal a Record ter demitido um terço de seu departamento esportivo e anunciado o fim dos programas de Milton Neves _decisão da qual já voltou atrás. ‘Como uma emissora com essa instabilidade quer tirar o futebol da Globo?’, é a pergunta da semana em setores do mercado publicitário.
DESAFINADO A segunda edição de ‘Ídolos’ termina melancolicamente hoje. No ano passado, sem contar os dois últimos episódios, ‘Ídolos’ marcou 11,4 pontos no Ibope. Neste ano, não passou de 7,9, uma queda de 31%.
CLAQUE Caiu bastante também a audiência de ‘Toma Lá, Dá Cá’. O novo humorístico da Globo deu 26 pontos anteontem. Na estréia, foram 31.
NOVO SBT 1 Na tentativa de melhorar o desempenho da novela latina ‘Zorro’, a Record fez mudanças em sua grade noturna nesta semana. Colocou o telejornal ‘SP Record’ às 18h (antes era às 19h40) e antecipou ‘Luz do Sol’ das 21h para as 20h30.
NOVO SBT 2 A Record acabou dando um tiro no próprio pé. A audiência do ‘SP Record’ despencou de dez pontos para 5,2. E ‘Luz do Sol’ caiu de 9,8 pontos em julho para 7,3 anteontem.
VEM AÍ No SBT, a expectativa é de que Silvio Santos estréie novos programas na semana que vem. Entre eles, um ‘game’ de Adriane Galisteu, um novo de Regina Volpato (na linha ‘programa verdade’) e o reality show ‘Quem Perde, Ganha’.’
Roberto Muylaert
Quando os engraxates opinam
‘O JORNALISMO televisivo, quando envereda pelos acidentes de aviação, costuma produzir coberturas inadequadas, cheias de impropriedades, a partir de notícias apressadas e não apuradas. Claro que um jornalista da editoria geral não tem obrigação de conhecer todos os temas. O que se pede é que use o senso comum para filtrar notícias contraditórias, escandalosas ou sem sentido em benefício da sua audiência.
Embora a imprensa escrita também cometa abusos, a TV acaba por ter primazia no desserviço, não apenas por ser instantânea mas também porque repórteres e âncoras têm bastante tempo ao vivo para elaborar teses e conclusões duvidosas em cima das mesmas imagens e vinhetas repetidas ‘ad nauseam’, transformando um único acidente em diversos.
E, para o grande público, que só ouve falar de avião quando estatelado no chão, trata-se de um aparelho fadado à tragédia.
É espantoso que, à semelhança das empresas aéreas, não haja um gabinete de crise em cada TV, cuja função seria prestar esclarecimentos as suas vítimas, no caso, os telespectadores: um grupo especializado em aviação, que saiba comentar esses temas sem falar bobagem e com compaixão por quem está sofrendo.
À falta dos especialistas, surgem as propostas da hora, vindas de leigos e autoridades que pretendem resolver os problemas -gerados por sucessivos governos- no tempo de uma entrevista na televisão.
Joe Kennedy sacou seus investimentos de Wall Street, pouco antes do crash de 1929, quando constatou que os engraxates estavam sugerindo a compra de determinadas ações.
No Brasil de hoje, os engraxates opinam sobre pinagem ou não de um reverso do A320.
As informações veiculadas sem preocupação ética geram um clima de terror na população, nas famílias das vítimas e nos próprios aeroviários, o que pode colocar em risco o promissor e necessário avanço da aviação comercial brasileira, em que a queda na venda de passagens aéreas parece ser da ordem de 30%. São centenas de milhares de passageiros que evaporaram, muitos em busca das rodovias. Decorrência, em parte, dessa demanda, cresceu o número dos acidentes rodoviários: no último mês, 686 pessoas morreram nas estradas federais, mais do que o triplo do número de vítimas de Congonhas.
Não houve escândalo, pois o sensacionalismo só se aplica ao setor aéreo: o editor não costuma se deslocar até o local do acidente rodoviário para contar o drama das famílias vitimadas. Desastres de veículos terrestres não dão Ibope.
Mas, em se tratando de espaço aéreo, até Suas Excelências, membros de uma açodada CPI do Congresso, escancaram o assunto ante as câmeras, chegando ao despudor de revelar o conteúdo das caixas-pretas à revelia dos especialistas -o que nem os engraxates que dissertam sobre pinagem fariam se fossem congressistas.
Uma menina de cinco anos, que ainda não sabe ler, mas conhece logotipos, fez um escândalo, prestes a entrar numa aeronave, ao vislumbrar bem de perto a marca de uma companhia: ‘Nessa não quero ir’, choramingou para a mãe. Um impasse só contornado pelo atencioso comandante do avião, que a levou até a cabine antes da decolagem. Claro que a imprevidência das autoridades ao longo dos anos é a principal causa do chamado caos aéreo.
Mas uma cobertura televisiva responsável e não sensacionalista seria útil para esclarecer a população amedrontada numa hora tão difícil para quem vive em São Paulo -ou em Londres, a julgar por um texto da última ‘Economist’, sob o título ‘Os Horríveis Aeroportos Britânicos’.
Segundo a revista, o ‘Daily Telegraph’ considerou a utilização do principal aeroporto da ilha ‘mais estressante do que ser atacado por um assaltante com uma faca na mão’. No mesmo artigo, Ken Livingstone, prefeito de Londres, acusou Heathrow de manter passageiros como ‘prisioneiros’, o que acaba por situá-lo nos últimos lugares nas pesquisas com usuários, que somam 67 milhões de passageiros/ano, contra 45 milhões previstos no projeto. Para complicar, Heathrow foi comprado no ano passado pelo grupo Ferrovial, espanhol, e já se duvida de que os necessários investimentos em novas pistas e terminais sejam realizados.
Patriotas reclamam que ‘uma parte essencial da infra-estrutura nacional foi vendida para uma empresa estrangeira’. Para completar, a Town and Country Planning Association considera ter sido uma catástrofe planejada a construção desse espaço vital na periferia da cidade e reivindica um novo aeroporto, em ‘algum lugar com mais espaço’.
ROBERTO MUYLAERT, 72, jornalista, foi presidente da TV Cultura de São Paulo de 1986 a 1995 e ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (governo FHC).’
Marco Aurélio Canônico
Febre na TV, Simpsons ganham filme
‘Depois de um recorde de 18 anos em exibição na TV (e ainda contando), numerosos prêmios e títulos de ‘melhores do século 20’, os Simpsons ganharam seu primeiro longa, que estréia no Brasil amanhã.
‘Os Simpsons – O Filme’ põe a célebre família amarela criada por Matt Groening -o casal Homer e Marge, mais seus filhos Bart, Lisa e Maggie- em crise com os demais habitantes da fictícia Springfield, graças a mais uma trapalhada catastrófica do incorrigível Homer.
O apego do beberrão a um porco (que rende cenas hilárias) leva a um desastre ecológico que faz com que o presidente Arnold Schwazernegger (!) decida isolar Springfield, revoltando os habitantes da cidade e forçando os Simpsons a migrarem para o Alasca.
O filme começou a ser pensado em 2003 e as mais de 150 versões do roteiro mostram bem a pressão sobre os criadores para que entregassem algo que fizesse jus às expectativas.
A resposta das bilheterias -o filme estreou com a maior arrecadação de uma adaptação de TV para o cinema e já faturou mais de US$ 500 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em menos de um mês- foi acompanhada de aclamação crítica no exterior e sugere que os roteiristas acertaram a mão novamente.
Sucesso na TV
Diversas teses já foram escritas para explicar o sucesso duradouro dos Simpsons, que contam com alguns dos melhores roteiristas da atualidade, centenas de celebridades querendo participar e quase um ano de produção (e um milhão de dólares) para cada episódio.
‘Os Simpsons’ é uma versão mais branda da vida. Tão triste, patética e estúpida quanto’, resumiu Groening em entrevista à Folha em 2004.
O simulacro da vida urbana moderna que é o desenho talvez responda também pelo enorme impacto cultural que ‘Os Simpsons’ causaram.
Sua influência pode ser contada em livros: eles já foram usados para explicar filosofia, religião, psicologia, sociologia e até física. Também foram dicionarizados -a interjeição ‘D’oh!’, de Homer, entrou no Oxford- e transformados em cursos universitários, como ‘Simpsons e Filosofia’, na Universidade Berkeley (EUA).
‘Eles basicamente reinventaram a roda’, disse o desenhista Seth MacFarlane, criador da também popular série animada ‘Family Guy’, em entrevista à revista ‘Vanity Fair’. ‘Eles criaram um meio novo, completamente original.’
Na entrevista à Folha, Groening explicou como uma família tipicamente americana conseguiu ressoar no mundo todo.
‘Acho que as fraquezas de uma família em que os membros se amam mas também enlouquecem uns aos outros são universais. E também acho que é divertido rir de americanos estúpidos.’
Crises internas
A ascensão do seriado não foi sem percalços. Groening brigou primeiro com o produtor e roteirista Sam Simon, que muitos consideram o responsável pelo refinamento da série ainda em seu início, e depois com James L. Brooks, produtor-executivo e responsável por levar o desenho à TV.
Houve ainda dois protestos dos dubladores por aumentos salariais, ambos bem-sucedidos. As vozes de profissionais como Nancy Cartwright (Bart), Dan Castellaneta (Homer) e Harry Shearer (Senhor Burns) tornaram-se indissociáveis dos personagens e hoje custam ‘mais de US$ 100 mil por episódio’ (mais de R$ 200 mil), segundo o chefão Murdoch.’
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Série de polêmicas marca desenho na TV brasileira
‘Exibido no Brasil desde 1991, quando estreou na Rede Globo (onde também vai ao ar atualmente, além do canal pago Fox), ‘Os Simpsons’ gerou uma série de polêmicas, proporcional a seu sucesso no país.
A primeira celebridade brasileira a ser citada nominalmente no desenho foi Pelé, retratado como um mercenário que anuncia qualquer produto por dinheiro, em um episódio da nona temporada.
A maior polêmica viria na já célebre visita da família ao Rio, na 13ª temporada, em ‘O Feitiço de Lisa’ (exibido no Brasil em 2002). Nele, aparecem macacos e cobras nas ruas, além de referências a táxis clandestinos, seqüestros, trombadinhas e à sensualidade das apresentadoras de programas infantis.
O órgão de turismo do Rio ameaçou processar a Fox, e mesmo o presidente à época, Fernando Henrique Cardoso, mostrou-se desgostoso, mas tudo se resolveu com uma carta de desculpas dos produtores -na qual FHC era desafiado para uma luta com Homer.
Por conta da reação crítica a este episódio, a Fox TV decidiu censurar uma nova menção negativa ao Brasil, alterando a dublagem num desenho da 18ª temporada, exibido no mês passado, onde a família descrevia o país como o lugar mais nojento em que já estiveram.
Em entrevista à Folha, Ricardo Rubini, diretor de marketing e vendas da Fox TV, disse que a rede prioriza o ‘respeito aos nossos compatriotas’.
‘Há gente que ficou indignada com a retirada dos comentários e, se não tirássemos, teria ainda mais gente reclamando. Preferimos manter o respeito aos nossos concidadãos.’
Chama a atenção no caso o fato de uma das regras de ouro do desenho -por contrato, a Fox não pode interferir nos textos da série- aparentemente ter sido desrespeitada.
‘Quando uma dublagem é ofensiva, podemos fazer isso. A Fox internacional está ciente do que fizemos’, diz Rubini.
Além das polêmicas, o canal também enfrenta uma disputa judicial com Waldyr Sant’Anna, o mais longevo dublador de Homer, afastado da série e do filme após exigir pagamento pela venda dos DVDs.
Por fim, houve a famosa menção de William Bonner, comparando o telespectador médio do ‘Jornal Nacional’ ao limitado Homer. Segundo Bonner, sua ênfase era no lado familiar do personagem.’
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Com humor apurado, filme é digno da série
‘A dúvida dos fãs era se, ao fim do tão aguardado filme dos Simpsons, a reação seria um ‘D’oh!’ à la Homer ou um ‘Excelente’ ao estilo de Montgomery Burns. A boa notícia: o resultado é, sem trocadilho, animador. Desde que surge o logotipo da Fox, com o hilário Ralph Wiggum dublando a fanfarra da empresa, até os créditos finais com piadas escondidas, ‘Os Simpsons – O Filme’ tem uma sucessão de humor digna do melhor seriado animado da história.
Há desde as gags mais simples (trombadas, acidentes etc.) até a ironia e o sarcasmo mais refinados.
Agigantada pela tela de cinema, a animação ganha espaço para cenas mais elaboradas, com centenas de pequenas piadas e referências visuais -e tudo isso no cada vez menos usado estilo 2D.
Os mais xiitas podem reclamar que esse ou aquele personagem aparece menos e que alguns cânones da história original foram mudados (como o casamento de Homer e Marge), mas isso não diminui a qualidade geral da obra e não altera a sensação final: valeu a pena esperar.
OS SIMPSONS – O FILME
Produção: EUA, 2007
Direção: David Silverman Dublagem: Dan Castellaneta, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yeardley Smith
Quando: pré-estréia hoje no Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito; estréia amanhã
Avaliação: ótimo’
MÍDIA & RELIGIÃO
Igreja Católica compra rede de 19 retransmissoras de TV de Gugu
‘Pouco depois da visita do papa Bento 16 ao Brasil, em maio, a TV Aparecida, da Igreja Católica, comprou uma rede de 19 retransmissoras de televisão do apresentador Gugu Liberato. O negócio teria custado cerca de R$ 15 milhões. A igreja, no entanto, não informa o valor exato da transação, que foi confirmada pelo diretor da TV Aparecida, padre César Moreira.
Liberato havia obtido as licenças de retransmissão do Ministério das Comunicações, em 2002, quando também comprou uma emissora geradora em Cuiabá (MT) -fora do pacote comprado pela igreja.
As 19 retransmissoras estão registradas em nome da empresa Sistema de TV Paulista Ltda, constituída por Liberato. A TV Aparecida comprou a totalidade do capital da empresa.
Segundo padre César Moreira, a compra da empresa deu à TV Aparecida o direito de uso das retransmissoras. Treze delas estão em funcionamento e, antes de serem adquiridas pela igreja, retransmitiam programação evangélica. As demais estão em fase de implantação.
O consultor da TV Aparecida Alfonso Aurin, ex-superintendente de engenharia do SBT, disse que o Ministério das Comunicações e a Anatel foram apenas comunicados da mudança de controle da empresa Sistema de TV Paulista. Segundo ele, não há necessidade de aprovação prévia pelo Executivo, uma vez que as licenças continuam em nome da mesma pessoa jurídica.
Velocidade
Em abril, a Folha antecipou que a Igreja Católica caminhava para implantar sua terceira emissora nacional, a partir da TV Aparecida. Ela já possui duas redes de televisão com cobertura nacional em sinal aberto -Rede Vida e Canção Nova-, que foram implantadas em pouco mais de uma década, em reação ao avanço das igrejas evangélicas na mídia.
A velocidade de crescimento da Igreja Católica, na área televisiva, só tem similar com a da Igreja Universal, do bispo Edir Macedo, nos anos 90 -embora os investimentos da Universal nessa área sejam muito maiores. A Universal tem 22 emissoras geradoras, sendo 19 em nome da Rede Record.
As licenças de retransmissão de TV são concedidas gratuitamente pelos governos. Mas, como as freqüências estão praticamente esgotadas nas grandes cidades, elas adquirem alto valor no mercado. As licenças de retransmissão não têm prazo definido (como as concessões para geradoras, que são por 15 anos, renováveis) e podem ser canceladas pelo governo.
A diferença entre as retransmissoras e as geradoras é que as primeiras podem apenas propagar o sinal emitido pela geradora.
A TV Aparecida completa dois anos em setembro. Segundo seu diretor, foram investidos US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 6,8 milhões) apenas na implantação da geradora, em Aparecida (SP). A emissora é financiada pelo Santuário de Aparecida e por publicidade.
Com a compra da TV Paulista, a emissora católica garante a recepção em sinal aberto em 12 capitais (entre elas Porto Alegre, Belém, Fortaleza, Palmas e Florianópolis). No Rio de Janeiro, a emissora só chega em parte do dia, em acordo comercial com a TVA.
Os sinais da emissora chegam à cidade de São Paulo por um contrato comercial com o grupo OESP (que edita o jornal ‘O Estado de S. Paulo’). O grupo tem uma emissora de TV em Santa Inês (MA), adquirida da família Sarney, e obteve licença de retransmissão para a capital paulista e outras quatro cidades do interior de SP.’
CASO RENAN
Jornalista afirma que recebeu de Renan R$ 418 mil
‘A Polícia Federal adiou pela segunda vez a entrega do laudo que vai apontar se as fontes de renda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), eram suficientes para bancar a pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem ele tem uma filha de três anos.
A perícia é considerada peça-chave para o futuro do processo contra Renan no Conselho de Ética da Casa.
A entrega do laudo, prevista para hoje, ficou para a próxima segunda-feira. O motivo é que a PF aguarda a chegada de um novo lote de documentos, repassados pela jornalista, nos quais consta o registro de que ela recebeu do senador um total de R$ 418.853,20 no período de 15 de março de 2004 até o último dia 5 de agosto.
Os documentos, aos quais a Folha teve acesso, listam depósitos na conta dela e detalham outros pagamentos, como serviços de duas empresas de segurança pessoal da jornalista, o aluguel de uma casa em Brasília no valor de R$ 43.200, e as duas remessas de R$ 50.000, cujas versões dela e de Renan são conflitantes. Mônica diz que os dois repasses eram complementação à pensão. Renan diz se tratar de um ‘fundo educacional’ para a filha.
Os dados estão elencados em um ofício, com 15 itens, elaborado pelo advogado da jornalista, Pedro Calmon.
O montante total apresentado por Mônica é próximo do valor que Renan disse ter pago a ela. A diferença é de cerca de R$ 20 mil, que poderiam ser explicados pelas próprias despesas com segurança pessoal.
No entanto, há uma lacuna na qual a PF se debruçará, que é a falta de coincidência de datas de saques na conta do senador no Banco do Brasil e de depósitos feitos por Mônica.
Com os documentos, os peritos vão organizar, em uma tabela mês a mês, o cruzamento das receitas de Renan com os valores recebidos pela jornalista. Assim, será apresentada a resposta para uma das perguntas centrais enviadas pelo Conselho de Ética aos peritos, a de número 25: se Renan possuía, entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, ‘recursos suficientes para os pagamentos que alega ter realizado’.
Verba indenizatória
Ainda nesta fase da análise, os peritos buscam resolver questões técnicas, como a definição de padrões sobre o que deverá ser considerado como receita do peemedebista.
É o caso da verba indenizatória do Senado, de R$ 15 mil mensais, que Renan incluiu como ‘origens de recursos’ na documentação enviada ao Conselho de Ética da Casa.
Para se ter uma idéia do impacto dessa fonte de renda, entre os anos de 2003 e 2006, o senador recebeu em salário R$ 545.887,80. No mesmo período, foram R$ 812.393,04 de verba indenizatória. Os peritos vão considerar parcialmente o valor da verba.
Segundo a regra do Senado, esse tipo de verba é paga a título de reembolso para despesas relacionadas ao mandato parlamentar -gastos com escritório, combustível, etc. O regimento veda, por exemplo, que esses recursos sejam pagos a pessoa física.’
Fernanda Krakovics, Silvio Navarro e Valdo Cruz
Grupo de Renan articula criação da ‘CPI da TVA’
‘O grupo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), articula a criação de uma CPI para investigar a operação de venda da TVA para a espanhola Telefônica, em mais um ataque ao Grupo Abril, que edita a revista ‘Veja’.
A intenção é começar a coleta de assinaturas pela Câmara. Se a estratégia funcionar e houver apoio no Senado, ela poderia ser transformada em CPI mista.
A dificuldade de Renan é que, até o momento, nenhum senador se dispôs a apadrinhar o requerimento da comissão.
Aliados de Renan avaliam que a operação é de alto risco. A proposta pode não atrair o apoio necessário, o que desgastaria ainda mais o senador, que por enquanto não assume oficialmente a estratégia. Na Câmara, líderes governistas já foram avisados da tentativa e avaliam que ela não deve prosperar.
O senador acusa o Grupo Abril de usar laranjas na operação de venda da TVA -uma forma de repassar a uma empresa estrangeira cotas acima do permitido pela legislação brasileira.
O Grupo Abril informou que não se manifestaria diante de novas acusações de Renan sobre as reportagens da ‘Veja’ e a transação entre a TVA e a Telefônica. O grupo mantém a nota divulgada na semana passada, afirmando que a reação é ‘fruto do desespero do senador’.
No último dia 18, a Anatel analisou a compra da TVA pela Telefônica, em 2006. A TVA fornece TV por assinatura por duas tecnologias: microondas e cabo. A Anatel aprovou a operação no que diz respeito aos serviços oferecidos por meio de microondas e cabo fora de São Paulo. As operações usando cabo no Estado não foram aprovadas.
A Comissão de Comunicação, Ciência e Tecnologia do Senado aprovou ontem a realização de uma audiência pública para discutir o caso. Foram convidados representantes da TVA, da Telefônica, o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, e o conselheiro Plínio de Aguiar Júnior, da mesma agência.
Os requerimentos são do presidente da CPI, Wellington Salgado (PMDB-MG), aliado de Renan, e do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado à TV Record.’
Leonardo Souza
Radialista diz ter feito contrato com senador
‘O radialista França Moura, que apresenta em Maceió o programa Cidadania, disse ontem que foi convidado pelo senador Renan Calheiros para trabalhar na rádio ‘O Jornal’, que tinha como sócio Tito Uchôa, primo do senador.
Segundo a revista ‘Veja’, Uchôa é laranja de Renan em dois grupos de comunicação de Alagoas, o Sistema Costa Dourada de Radiodifusão e a JR Radiodifusão. ‘Fiz um contrato com o senador para trabalhar na rádio Manguaba’, disse. Rádio ‘O Jornal’ era o nome fantasia da Manguaba.
Procurada, a assessoria do senador não ligou de volta.
A Folha teve acesso a documentos que Lyra entregará ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Lyra deve dizer a Tuma que cedeu a Manguaba a Renan como parte do acordo para desfazer a sociedade no grupo O Jornal em 2005. Lyra contará que exigiu que o senador conseguisse a renovação da concessão da Rádio Paraíso. Em 21 de junho daquele ano, Renan assina decreto que autoriza a renovação da rádio por dez anos.’
MEMÓRIA / JOEL SILVEIRA
Jornalista Joel Silveira morre no Rio aos 88
‘O último dos dinossauros do jornalismo, como ele se definia, morreu na manhã de ontem, aos 88 anos. Joel Silveira, que não quis fazer tratamento contra um câncer na próstata, dormia em seu apartamento, no Rio. Sua mulher e seus dois filhos decidiram não fazer velório do corpo, que será cremado. Ele publicou romances, contos e crônicas entre seus mais de 40 livros, mas foi, sobretudo e acima de quase todos, repórter.
Os problemas de saúde o tiraram do front nas duas últimas décadas, mas, sempre que procurado na trincheira de Copacabana, fazia jus à alcunha de ‘víbora’ dada por Assis Chateaubriand. Falava mal de presidentes e artistas e, embora órfão dos muitos amigos mortos, procurava não se deprimir.
‘[Sou] teimoso. Eu não pedi para vir ao mundo. Agora, aos 80 anos, não vou pedir para sair’, disse ao repórter Geneton Moraes Neto em 2004.
Política e jornalismo fizeram parte da vida do sergipano Silveira. Em 1932, antes de completar 14 anos, tornou-se oficial de gabinete do governador do Estado. Dois anos depois, criou no colégio em que estudava o jornal ‘A Voz do Atheneu’.
Após ganhar um prêmio pela novela ‘O Desespero’, ganhou coragem para alcançar o destino praticamente inevitável aos jovens nordestinos aspirantes a escritor: o Rio de Janeiro. Disposto a trabalhar quase de graça, arrumou emprego no semanário literário ‘Dom Casmurro’, onde colaboravam Graciliano Ramos, Jorge Amado, Cecília Meireles e Carlos Lacerda.
Escritor
Ainda que nunca tenha desistido da ficção, Silveira não recebeu, ao longo da vida, grandes estímulos dos amigos ilustres. Contava, com humor, que mostrou um conto certa vez a Graciliano Ramos, e o alagoano rasgou minuciosamente as folhas, convidando-o em seguida para tomar uma cachaça.
Já no jornalismo impunha admiração -e medo- a todos. A ponto de Manuel Bandeira definir seu estilo como ‘uma punhalada que só dói quando a ferida esfria’. Na revista ‘Diretrizes’, dirigida por Samuel Wainer, publicou em 1943 sua reportagem mais famosa: ‘Os grã-finos de São Paulo’. Misturando faro de repórter, olhar de escritor, idéias de jovem socialista (fundou o PSB) e veneno, produziu trechos como este:
‘Era uma festa somente para milionários, e sobre todos aqueles sobrenomes repousava a força paulista de hoje. Por detrás dos sobrenomes, há um mundo incrível: centenas de fábricas, milhares de chaminés, milhares de motores, milhares de operários. Era um grupo terrível, avassalador. Com um gesto de mão, qualquer um deles poderia me aniquilar, me tanger longe, lá na rua. Mas os milionários apenas sorriam. Sorriam e bailavam com as mulheres, todas muito belas.’
O texto é encontrável no livro ‘A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista’. Este título é de outra reportagem, publicada em 1945, sobre o casamento do milionário João Lage com Filomena, filha do conde Francisco Matarazzo Jr. A cobertura venenosa foi encomendada por Assis Chateaubriand, que queria forçar o ‘conde Chiquinho’ a chegar a um acordo sobre uma transação imobiliária.
Foi Chatô quem enviou o repórter à Itália para cobrir a participação da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Segunda Guerra. Marco no jornalismo brasileiro, a cobertura rendeu vários livros de Silveira.
Presidentes
As suas histórias com presidentes da República, de Antônio Carlos a Tancredo Neves, resultaram em outros tantos títulos. Foi amigo de Juscelino Kubitschek -de quem teria roubado uma namorada-, bebeu com Jânio Quadros sem conseguir acompanhá-lo -apesar de sua experiência no assunto- e produziu um famoso texto (‘Conheci Getúlio Vargas’) sem ter entrevistado o então ditador do Estado Novo, para ele ‘um filho da mãe de uma habilidade política terrível’.
Silveira trabalhou em vários jornais e revistas, tendo recebido em 1975 o Prêmio Esso de Jornalismo especial pelo conjunto da carreira. Preferia ser repórter, mas foi como diretor de ‘O Paiz’ que o regime militar o prendeu após o AI-5.
Ganhou em 1998 o Prêmio Machado de Assis, o mais importante da Academia Brasileira de Letras. Mas não conseguiu se tornar imortal: perdeu uma eleição em 2000 e, no ano seguinte, lançou sua anticandidatura à vaga de Jorge Amado, revoltado com a tentativa de substituição do escritor por sua mulher, Zélia Gattai. Perdeu por 32 a 4. Como bom repórter, Silveira era sempre do contra.
O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) disse ontem que ‘o Brasil perdeu hoje um de seus maiores jornalistas em todos os tempos. O sergipano Joel Silveira tinha 88 anos e uma vida invejável para contar. Suas histórias extraordinárias e seu texto mordaz marcaram época. Ele deixa à imprensa brasileira um legado de talento, sensibilidade e força crítica’.’
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Frases
‘‘Tudo começou na verdade com a reportagem sobre os grã-finos paulistas. Assis Chateaubriand viu e disse: ‘Esse sujeito é uma víbora. Quero ele trabalhando pra mim’
Chateaubriand me chamou e disse: ‘Seu Silveira, o sr. vai para a guerra. Mas me faça um favor. Não morra. Repórter não vai para a guerra para morrer. Vai para mandar notícia’
Não existe isso de pequeno ou grande repórter. Grande é a notícia
Nunca tomei nota de qualquer entrevista, apenas anoto nomes e números. Prefiro ficar na conversa vadia, a investigar a alma do entrevistado, a ver se me diz tudo e muito mais. No meu bolso nunca esteve o lápis
Oswald de Andrade era um moleque. Era um sujeito ruidoso, cheio de frases feitas, um vagabundo, nunca fez nada na vida
[Mário de Andrade] Era insuportável, um viadão, vivia cercado de garotos. Devo ser a única pessoa do Brasil que nunca recebeu uma carta de Mário
Tenho horror à literatura de Jorge Amado. É de uma precariedade terrível. Tenho impressão de que sabia por alto umas 47 palavras
Acho João Gilberto uma das 7 pragas do Egito -e do Brasil. Nada é tão chato quanto a bossa nova’
FRASES DE JOEL SILVEIRA’
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REPERCUSSÃO
‘LÊDO IVO , poeta: ‘Ele era uma mistura de poesia e ironia. Tinha uma linguagem enxuta, bonita. Nós demos a ele o prêmio Machado de Assis. Ele quis entrar para a Academia Brasileira de Letras, mas, em decorrência do trabalho dele como jornalista, ele tinha algumas hostilidades lá. É pena que não tenha entrado’.
RUY CASTRO , escritor: ‘Ele foi uma espécie de repórter brasileiro à maneira dos grandes repórteres norte-americanos [unindo jornalismo e literatura]’.
EVARISTO DE MORAES FILHO, membro da ABL: ‘O Joel é um sujeito de um talento extraordinário. Foi o maior repórter brasileiro. O Brasil acaba de perder um grande homem. Eu apoiei a candidatura dele, mas ele só teve quatro votos porque foi contra a Zélia Gattai e a Academia nunca tinha visto isso de uma mulher disputar a cadeira do marido’.’
Carlos Heitor Cony
Um pouco do Joel
‘RIO DE JANEIRO – Joel Magno Ribeiro Silveira, mais conhecido pelo codinome de Joel Silveira, ganhou o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, a mais consagrada láurea da literatura brasileira.
Sua obra inclui vários gêneros, da reportagem ao conto e à novela. Mestre de várias gerações, ele é modelo para os jornalistas, que nele encontram uma referência de dignidade profissional e de eficiente manejo da técnica literária, seja ela aplicada à reportagem ou à ficção.
Ao lado de tudo isso, Joel é um ser humano rico e saboroso. Quando completou 60 anos, escrevi-lhe uma sonata que ele aproveitou como prefácio da primeira edição de um de seus livros, ‘Tempo de Contar’. Lembrei um fim de noite, em seu apartamento, ao lado de sua mulher, Iracema, famosa fazedora de pastéis de camarão. Eu havia chegado de viagem, trazia-lhe discos antigos de música italiana, canções do tempo da guerra que ele havia coberto, em gravações originais, catimbadas em sebos de Roma.
Joel bebeu algumas doses de uísque, equilibrou o copo na cabeça e começou a dançar de olhos fechados: ‘Sul’Arno d’argento specchia il firmamento’.
Seu colega na cobertura da FEB, Egydio Squeff, havia morrido um mês antes. No meio da sala, dançando com o copo na cabeça, Joel pedia a Iracema: ‘Telefona para o Squeff… ele não aparece mais… arranjei um disco do ‘Dorme Firenze dorme’ com o Alberto Rabagliatti… telefona Iracema… pede para ele vir depressa… chama o Nássara também, estou com saudades…’.
Deixei-o dormindo no sofá, sonhando com o Arno prateado pela lua e esperando pelos amigos que não chegavam mais.
(Esta crônica é de agosto de 1998. Foi publicada na ‘Manchete’, revista na qual trabalhamos alguns anos).’
TODA MÍDIA
Acima de 2, abaixo de 50
‘O dispara-e-despenca continua. No UOL, ‘Bovespa abaixo dos 50’. Na Folha Online, ‘dólar supera R$ 2’.
No MarketWatch, os ‘latinos estão sem amor’ e, a começar do Brasil, ‘seguiram a queda global’. O site avaliou as moedas emergentes, deu o rublo de opção ‘defensiva’ e o real como ‘melhor posição’ entre as voláteis. O site do ‘Wall Street Journal’, do mesmo grupo, citou pesquisa Merrill Lynch com gerentes de fundo apontando os emergentes como ‘preferidos aos EUA’. E ‘nos Brics o Brasil é o preferido de 50%’.
Por outro lado, Jonathan Wheatley postou à noite no ‘Financial Times’ que ‘a extensão sugere que os investidores podem estar sentindo que as aplicações brasileiras são mais arriscadas do que se suspeitava’.
Ao mesmo tempo, surgiu no ‘Valor’ a notícia de que, em proposta aberta ontem a audiência pública, ‘a CVM prevê ‘normas de conduta’ para jornalista’ quanto à ‘divulgação de opiniões ou recomendações gerais sobre a evolução e tendências de mercado’.
ETANOL, ETANOL, ETANOL
Imediatamente abaixo da manchete do site do ‘WSJ’, ontem, sobre a queda em Wall Street, uma chamada algo inusitada, ‘Vem aí um maciço lançamento de ações em etanol’. No título interno, o adjetivo usado foi ‘gigante’.
É a brasileira Cosan, ‘maior produtora e processadora de cana do mundo’, que ‘está de olho em US$ 2 bilhões para investir em etanol’. MarketWatch, Dow Jones, CNNMoney, todos deram a notícia, que originalmente saiu no jornal ‘Investor’s Business Daily’, um dia antes.
‘SUPERPOTÊNCIA’
A ‘Economist’ está com um diário de estrada pelo Brasil. No primeiro post, ‘Superpotência à base de cana’, arriscando que já seria ‘a Arábia Saudita do século 21’, não fosse a tarifa do etanol nos EUA
O ASFALTO
Também o correspondente da rede McClatchy de jornais, de ‘Miami Herald’ e demais, está na Amazônia, no km 129 da BR-163 -a ser asfaltada. Sublinha o conflito entre o ‘progresso’ que pobres da região pedem e a preservação que ambientalistas cobram.
E A ESPERANÇA
O ‘Guardian’, também da Amazônia, deu artigo de um ambientalista que defende que ‘os governos derrubem seu controle das florestas’ em favor dos ‘habitantes’, que exploram sem a destruição da ‘indústria de larga escala’. O texto diz ser sua ‘esperança’.
CUBA E OS EUA, JUNTOS
Ecoou por AP, Efe, Ansa o artigo do ‘reconhecido senador’ e ‘importante aliado de Lula’ Eduardo Suplicy, com Éder Jofre, em defesa dos dois pugilistas cubanos.
Por outro lado, o ‘Washington Post’ noticiou ontem, com atraso, a morte do ‘imigrante brasileiro’ e outros sob custódia nos EUA. O Departamento de Segurança Interna e uma organização de defesa de presos foram os únicos ouvidos. Ato contínuo, o Itamaraty anunciou ter solicitado ‘rigorosa apuração pelo governo americano’.
TELES 1
Cristiano Romero detalhou no ‘Valor’, ontem em coluna, ‘o caminho até a fusão’, a ser seguido nos próximos meses por duas brasileiras, Telemar (Oi) e Brasil Telecom (BrT).
Avaliou que ‘o insucesso da operação de reestruturação’ que Telemar e Brasil Telecom estão tentando realizar agora até ‘apressaria a fusão’, por deixar acionistas sem opção.
TELES 2
Já o presidente da Portugal Telecom deu longa entrevista para o português ‘Expresso’, com repercussão da agência Reuters ao ‘Financial Times’.
Ele ‘não aceita que tratem a PT como subalterna na Vivo’ e se diz pronto para disputar com a Telefônica. E ‘quer a tele em língua portuguesa’, do contrário, diz, ‘o Brasil ficará no quadro espanhol’.’
JORNALISMO ECONÔMICO
CVM quer norma de conduta para jornalistas
‘A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu ontem discussão pública para a revisão das regras sobre a atuação dos analistas de investimentos, na qual sugere também padrões de conduta para jornalistas especializados no setor. A comissão espera o envio de comentários e contra-argumentações dos envolvidos com o mercado de ações até 17 de setembro.
A CVM sugere que os jornalistas especializados devem tomar ‘as devidas precauções no sentido de poderem demonstrar, em eventual investigação sobre a prática de ilícitos no mercado de capitais, o caráter razoável das recomendações efetuadas’.
A autarquia diz ainda que os jornalistas especializados devem deixar claro no material que produzem ‘o que são fatos e o que são interpretações, estimativas ou opiniões’; e que uses ‘fontes fidedignas ou, quando houver dúvida sobre a fidedignidade, deixar clara esta dúvida’ no resultado da sua apuração profissional.
Segundo a CVM, sua proposta é ‘dar tratamento explícito à situação de jornalistas da mídia especializada, que, no exercício de suas atividades, formulem comentários sobre investimentos em valores mobiliários, criando um ‘safe harbor’ (porto seguro) para tais profissionais’.
‘A minuta pretende estabelecer um ponto de equilíbrio entre os benefícios inegáveis que podem ser produzidos com a atuação profissional de jornalistas especializados em mercado de capitais, que se constitui em uma ferramenta de esclarecimento e democratização de informações principalmente ao investidor de varejo, e a grande capacidade de influência e condicionamento que podem exercer sobre o mercado de capitais’, afirma em nota publicado em seu sítio na internet.
A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda do Brasil e tem poderes para disciplinar, normalizar e fiscalizar a atuação dos diversos integrantes do mercado de valores mobiliários. Seu poder de normalizar abrange todas as matérias referentes a esse mercado.
A CVM tem uma nova presidente, Maria Helena Santana, empossada em 16 de julho e nos últimos meses investiga casos rumorosos de uso de informações privilegiadas em negociações como a compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras.
A norma proposta pela autarquia prevê, entre outros pontos, a existência de três tipos de analistas: os autônomos; os ligados a bancos, corretoras, ou gestores, cujas análises são disponibilizadas a terceiros; e aqueles com vínculo exclusivo com uma instituição do sistema de distribuição e cujas análises só podem ser usadas pelo contratante.
Outra classificação que a proposta de regra traz são os diferentes tipos de registro de analista, que poderá ser classificado como sênior, pleno ou júnior.’
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Agências de publicidade devem abrir capital
‘Mesmo com a turbulência, a ebulição do mercado de capitais brasileiro tem feito com que várias agências de propaganda comecem a estruturar seus negócios de olho numa futura abertura de capital. Os grupos de comunicação Ypy, Total e Eugenio estão entre elas.
Com as agências Africa, DM9DDB, MPM e Loducca em seu guarda-chuva, o grupo Ypy anunciou ontem a incorporação de quatro novas agências à divisão B/Ypy, destinada à prestação de serviços especializados, como marketing direto e comunicação no ponto-de-venda.
As agências NewStyle, ReUnion e Sunset foram adquiridas, e a Hello, Interactive, criada. O grupo Ypy está destinando R$ 100 milhões para aquisições e formação de novos negócios entre 2007 e 2010. A empresa também espera associar-se a um investidor em breve.
‘Ampliamos as áreas de atuação do grupo para dividir os riscos em várias cestas’, afirma Guga Valente, presidente do grupo Ypy. ‘Dessa maneira, se um dia uma das agências perder uma conta importante, a empresa ficará menos sujeita a oscilações.’
Em números, isso significará que a participação da área de serviços na receita do grupo, que será de R$ 310 milhões em 2007, passará de 13% neste ano para 30% em 2008.
A estratégia parece fazer sentido para profissionais do mercado financeiro. Segundo Paulo de Tarso Barbosa, sócio da Proinvest, consultoria especializada em abertura de capital, o negócio das empresas de comunicação é volátil e, por isso, os investidores serão mais cuidadosos e precificarão a incerteza. ‘O mercado ficará mais seletivo, mas há espaço para empresas de propaganda abrirem capital, uma vez que há grandes grupos internacionais da área nas bolsas’, diz Barbosa.
Nizan Guanaes, sócio do Ypy, afirma que sua equipe tem montado o negócio inspirando-se exatamente em grupos internacionais de propaganda, como WPP, Omnicom e Publicis.
‘Não estou inventando a roda’, afirma Guanaes. ‘Aliás, quero que o Martin Sorrell [presidente do WPP] me processe por plágio. Se a França pode ter uma multinacional de propaganda, por que o Brasil não pode?’
O especialista em gestão Vicente Falconi é o consultor do Ypy no processo de abertura de capital, que deverá ser concluído em dois anos. ‘Prefiro ter 5% numa empresa perene do que 100% em algo que será superado’, diz Guanaes.
Total
O grupo Total, controlador das agências Fischer America entre outras, contratou recentemente Ismael Brandão Neto como vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Mercado.
Apesar de não falar sobre os preparativos para a abertura de capital, o grupo Total vem trabalhado nesse projeto há mais de um ano e contratou várias pessoas ligadas ao mercado financeiro. Brandão Neto tinha sido chefe de investimentos do Standard Bank London, da Société Generale e do ING Bank.
Outro grupo que tem diversificado seus negócios com o objetivo de entrar na Bolsa é o Eugenio. Especializada no setor imobiliário, a agência criou divisões para atuar em áreas como feiras internacionais e conteúdo. Além disso, também lançará em um mês a agência E, que atuará com varejo e produtos de consumo.
‘O mercado publicitário sobrevive de bônus de veiculação [comissão paga por veículos de comunicação para que as agências concentrem os anúncios de seus clientes nesses veículos] e é impossível explicar para um investidor se esse é um negócio lícito’, diz Maurício Eugenio, presidente do grupo Eugenio.
‘Por isso publicidade será apenas uma das atividades do nosso grupo de empresas.’ Apesar de a crise nas bolsas ter sido causada pelo mercado imobiliário, Eugenio acredita que a tendência de crescimento dessa área no país é irreversível.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 16 de agosto de 2007
MÍDIA & POLÍTICA
Aécio: ‘Somos ruins de comunicação’
‘O governador de Minas, Aécio Neves, reconheceu ontem que o PSDB tem dificuldades para se comunicar com o eleitorado: ‘Nós somos muito ruins de comunicação, mesmo’, afirmou ele em São Paulo. E fez uma blague com a incapacidade do partido de falar a língua do povo: ‘Acho que se fizermos uma pesquisa – digo isso com muita sinceridade, pode parecer até uma brincadeira, mas não é – perguntando quem é responsável pela estabilidade da economia, acho que a população vai dizer que é o presidente Lula’, ironizou.
‘O PT é competente nisso (a comunicação com o povo)’, admitiu, aconselhando humildade ao PSDB. ‘Devemos aprender com eles, não no sentido de viver apenas de propaganda, mas transformando as ações do partido em ativos.’ O governador disse que o PSDB ganhará se souber se comunicar melhor com a população, ‘porque os tucanos fazem melhor a gestão pública do que o governo do PT’.
Aécio disse que os seminários internos do partido estão promovendo ‘uma catarse’ que, segundo ele, será positiva para o PSDB e para o País. A tal catarse levará o partido a compreender que tem de construir um projeto de País voltado, principalmente, para a diminuição das desigualdades. ‘E nós não vamos construir isso sozinhos, temos de juntar outros agentes’, recomendou, preconizando alianças para as futuras eleições.
‘NOVAS CONSTRUÇÕES’
Mas alertou que a construção dessa aliança deve procurar parceiros que pensem parecido com os tucanos. ‘Fazer alianças com disparidade de pensamento entre os parceiros acaba dando num projeto parecido com a base parlamentar do presidente Lula’, disse. O PSDB não pode acreditar que sua ascensão se dará ‘pelo fracasso do outro’ (o PT), insistiu. Mas enigmaticamente preveniu: ‘Podem surgir por aí novas construções.’
Aécio defendeu que o PSDB continue a apresentar-se ao eleitorado brasileiro como um bom gestor público. ‘A gestão eficiente pode se transformar em benefícios palpáveis para as pessoas, porque você utiliza melhor os recursos públicos e atrai o setor privado para os investimentos’, propôs, acentuando: ‘Acho que está ficando cada vez mais claro esse diferencial entre a nossa forma de governar e a concepção de administração pública do PT, que se limita a inchar cada vez mais a máquina, fazendo com que ela cresça mais do que cresce a economia.’
LUZ AMARELA
Aécio voltou a afirmar que o Brasil está perdendo a chance de crescer. ‘O céu de brigadeiro não é eterno’, disse ele, alertando que os indicadores de uma crise econômica que pode se transformar em sistêmica é uma luz amarela que se acende para o País. Ele disse que o governo Lula continua com popularidade alta, ‘mas não tem avançado nas medidas e reformas estruturadoras que seriam absolutamente necessárias’.
Ele cobrou que o governo Lula precisa dividir tributos com Estados e municípios, desconcentrando o crescente acúmulo de receitas que ficam sob seu controle. ‘O Brasil vive uma linha perversa de concentração de receitas nas mãos da União e que precisa ser interrompida, em benefício da federação, dos Estados e dos municípios’, disse.
O tucano salientou que os Estados e municípios ‘podem fazer melhor aquilo que a União vem buscando fazer de forma ineficiente’. Segundo ele, a descentralização deve ser adotada pelo governo federal como a saída mais lógica para a gestão pública.’
Vera Rosa
Lula e a imprensa: ‘Preferiria investir na Etiópia’
‘Em animada reunião na noite de terça-feira com as bancadas do PDT na Câmara e no Senado, o presidente Lula amenizou a disputa política na base aliada e disse ter certeza de que os partidos da coalizão terão só um candidato à sua sucessão, em 2010. Na tentativa de aplacar a ciumeira em relação ao PMDB, parceiro preferencial, Lula renovou o compromisso de tratar todos os partidos da base em pé de igualdade. Queria, na prática, conter as insatisfações.
‘Garanto que os partidos aliados do governo disputarão a eleição de 2010 com um único candidato.’ Não disse, porém, quem apoiará. Argumentou, ainda, que não é boa tática lançar candidatura muito cedo, para não virar alvo fácil da oposição.
Ao defender a necessidade de ampla reforma política para resgatar o caráter ‘nacional’ das siglas, Lula citou o ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu e reclamou que o PT não o obedece mais. ‘Quando o PT era pequeno, a gente mandava, tinha controle, eu e o Zé Dirceu’, contou, segundo quatro participantes do encontro.
O presidente voltou a pregar união da base já nas eleições de 2008. ‘Em Campinas, por exemplo, não quero nem saber o nome do candidato a prefeito do PT. Lá, eu vou apoiar o Dr. Hélio’, disse, referindo-se ao prefeito do PDT e candidato à reeleição. Lula lembrou também a amizade e as desavenças com Leonel Brizola, presidente do PDT que morreu em 2004.
Mais uma vez, o presidente criticou a imprensa que, para ele, fala do Brasil como se estivesse em situação econômica catastrófica. ‘Se eu fosse estrangeiro, tivesse conhecimento do Brasil através da imprensa e 30 centavos no bolso, eu preferiria investir na Etiópia.’ A Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais), cobrou cronograma para liberação das emendas parlamentares individuais. ‘Precisamos fazer isso para evitar que, nos momentos de crise, a imprensa diga que há um toma-lá-dá-cá.’’
MEMÓRIA / JOEL SILVEIRA
Morre no Rio a ‘víbora’ Joel Silveira
‘Joel Silveira, um dos nomes mais importantes do jornalismo brasileiro e premiadíssimo autor de mais de 30 livros, morreu ontem de madrugada, no Rio, aos 88 anos, ‘de causas naturais’, de acordo com a família. Sergipano radicado no Rio havia exatamente sete décadas, ele estava dormindo em seu apartamento em Copacabana, onde morava com a mulher, Iracema.
Segundo a filha Elizabeth, ele sofria de câncer de próstata, mas não quis tratar a doença. ‘Meu pai cansou de viver, dizia que preferia morrer e sempre pedia que fosse em casa.’
A saúde estava bem debilitada desde o início do ano – Silveira já não andava, só quando ajudado pelas duas acompanhantes que o assistiam diariamente, mas se mantinha lúcido. O corpo será cremado hoje à tarde, no Crematório do Caju, no Rio, e não haverá velório, em respeito ao desejo do escritor.
Ultimamente, Silveira demonstrava não encontrar mais forças para seguir adiante, relembrou a filha. ‘Cada dia que eu vinha vê-lo, percebia que estava se apagando. Ontem (anteontem), tive a nítida sensação de que ele estava indo embora’, disse. Joel Silveira deixou dois filhos, dois netos e dois bisnetos.
Um dos principais repórteres brasileiros, Silveira deixa uma ficha extensa em relatos jornalísticos com contornos literários. Segundo ele, o estilo foi moldado por uma necessidade. ‘Senti que precisava romancear o texto para me diferenciar do que era escrito na imprensa dos anos 30 e 40’, contava ele, que acreditava na eficácia de uma boa pesquisa para a produção de uma reportagem confiável.
Silveira tornou-se uma estrela do jornalismo nacional nos anos 40 – na reportagem Grã-Finos em São Paulo, publicada no semanário Diretrizes, ele apresentava sua impressão do high-society paulistano em uma narrativa irônica e debochada. Publicada em 1943, a matéria deliciou inclusive o presidente ditador Getúlio Vargas e é a porta de entrada do livro A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista (Companhia das Letras).
‘Foi nessa época que ganhei o apelido de víbora, dado pelo Assis Chateaubriand’, contou ao Estado, em 2003, quando o livro foi lançado. Silveira, aliás, logo foi contratado pelo dono dos Diários Associados. A mudança de empresa não foi planejada, mas provocada justamente por um texto seu – ao destacar como título uma frase dita por Monteiro Lobato durante uma entrevista (‘O governo deve sair do povo como a fumaça sai da fogueira’), Silveira despertou, dessa vez, a ira de Getúlio, que mandou fechar Diretrizes. ‘Não me sobrou alternativa senão aceitar o chamado do Chatô’, comentou ele, que explicava o sarcasmo de seus textos daquela época como uma tentativa de escapar da censura imposta pelo Estado Novo.
Sua primeira grande missão foi cobrir a 2ª Guerra Mundial e, antes de embarcar para a Itália como pracinha da Força Expedicionária Brasileira, Silveira ouviu a célebre frase do patrão: ‘O senhor vai para a guerra, mas não me morra, seu Silveira! Repórter é para mandar notícia, não é para morrer. Se o senhor morrer, eu o demito.’
Na guerra, com a patente de capitão, Joel Silveira aproximou-se dos pracinhas para conseguir mais notícias. ‘Ganhei também a simpatia dos americanos que, curiosamente, conheciam e gostavam da Diretrizes por conta dos perfis que fizemos com Truman e Roosevelt’, explicava ele, que mais de uma vez chegou ao campo de batalhas. ‘Certo dia, o mais terrível deles, vi a morte de um sargento brasileiro, metralhado pelos alemães. Só conseguimos resgatar seu corpo quatro dias depois.’
Como tinha franquia telegráfica pela amizade com os soldados, Silveira enviou diversos relatos. ‘Enfrentei os momentos pesados e não fiquei em Roma, como os correspondentes mais velhos, como Ernest Hemingway.’ Os relatos estão em O Inverno na Guerra, editado pela Objetiva.
Dez meses depois, o repórter retornou e foi recrutado para outra guerra: Chateaubriand comprou briga com o conde Francisco Matarazzo Jr., que pediu de volta o prédio que os Associados ocupavam no Viaduto do Chá. O troco veio com a cobertura do casamento da filha do milionário, Filly, a cargo de Silveira, que narrou tanto o faustoso matrimônio como o enlace de um casal de operários, trabalhadores justamente das indústrias Matarazzo.
Em 2001, indignado com a candidatura de Zélia Gattai à vaga do marido, Jorge Amado, na Academia Brasileira de Letras, não apenas se lançou candidato como a criticou pesadamente.
Para ele, Zélia era ‘uma escritora medíocre’, feita à custa do marido, e este só vendeu milhões de livros por suas ligações com o Partido Comunista. Na disputa, porém, Zélia teve 32 votos contra 4 de Silveira, em uma das mais rápidas eleições da ABL: durou apenas 20 minutos.’
VENEZUELA
Justiça pede prisão de jornalista
‘Um tribunal venezuelano ordenou ontem a detenção do jornalista Leoncenis García, do jornal ‘Reporte de la Economia’, por recusar-se a colaborar com a Justiça. Ele negou-se a depor sobre o caso no qual José Rafael Ramirez, chefe de redação da publicação, é acusado de envolvimento em extorsão. García é um dos autores do relatório que denuncia 63 casos de corrupção na estatal petrolífera Petróleos de Venezuela (PDVSA), entregue à Assembléia Nacional na semana passada. AP’
TELECOMUNICAÇÕES
Relator quer limitar capital externo para tele produzir TV
‘O deputado Wellington Fagundes (PR-MT), relator dos projetos que estabelecem novas regras para os setores de produção, programação e distribuição de conteúdos – como programas de TV – quer estender a esses segmentos a limitação de 30% de participação de capital estrangeiro prevista na Constituição para jornais e emissoras de rádio e TV. Fagundes pretende concluir até o fim do mês seu substitutivo para ser votado na Comissão de Desenvolvimento Econômico. Em seguida, o projeto irá para a Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara e, se aprovado, vai ao Senado.
Ontem, as duas comissões promoveram uma audiência pública para debater o assunto com representantes das associações de emissoras de TV aberta, de televisão por assinatura e de telefonia fixa e móvel. Na próxima semana, o debate será com representantes do governo, entre eles o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg.
‘É um pensamento meu abrir este mercado para as teles, desde que elas se adaptem à Constituição. Ou seja, se elas quiserem entrar neste setor, vão ter que encontrar parceiros brasileiros’, disse Fagundes. A limitação de 30% para o capital estrangeiro agrada as emissoras de televisão e vai contra o desejo das empresas de telefonia, que são na grande maioria companhias estrangeiras.
Representantes das empresas de telefonia entendem a limitação como um retrocesso – hoje, as teles podem ter até 49% de capital estrangeiro nos negócios de TV a cabo; nos empreendimentos envolvendo tecnologia por satélite, 100% do capital pode ser estrangeiro.
O presidente da Associação Brasileira das Operadoras Celulares (Acel), Ércio Zilli, disse que cada vez mais, com as novas tecnologias, os usuários é que vão decidir o que querem ver. ‘Isto é um retrocesso. Fazer essa restrição é limitar as alternativas para a população.’
O presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), José Fernandes Pauletti, disse que ‘não faz sentido’ determinar para o setor de conteúdo as mesmas regras da radiodifusão. ‘São coisas distintas.’
O conselheiro da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Evandro Guimarães, concorda em limitar o capital estrangeiro. ‘Um país do tamanho do nosso precisa ter um espírito nacional na mídia. Não é só o Brasil que quer isso, todos os países têm essa regra’, disse Guimarães, que também é vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que vai relatar os projetos na Comissão de Ciência e Tecnologia, discorda de Fagundes. Bittar disse que é preciso criar mecanismos para proteger a indústria nacional de produção de conteúdo, mas, nos setores de distribuição, o mais importante é criar um ambiente de competição. Segundo Bittar, não faz sentido criar limitações no mercado de TV por assinatura porque há no Brasil várias empresas estrangeiras que prestam serviços de telecomunicações.’
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A Ypy, de Nizan Guanaes, compra três agências
‘O Grupo Ypy, controlado pelo publicitário Nizan Guanaes (50% de participação), pelo Grupo Icatu (34%) e pelo administrador Guga Valente (16%), está mais perto de seu antigo plano de abrir o capital na Bolsa de Valores. A venda de ações deverá ser realizada no ano que vem.
Para preparar o grupo para a abertura de capital, Guanaes anunciou ontem a compra de três agências e a abertura de uma quarta. Foram compradas as agências de marketing esportivo, ReUnion Sports, a New Style, de promoções, e a Sunset Comunicação, de marketing direto. Já a Hello Interactive foi aberta para atender clientes de internet. Todas as agências estão sob o guarda-chuva da área comandada pelo sócio Bazinho Ferraz.
O Ypy é composto pela área de propaganda, que abriga quatro grandes agências – Africa, DM9DDB, MPM e Loducca – e ainda outra área dedicada a conteúdo, que desenvolve ações específicas para anunciantes, com as agências N/Idéias, Networks e Stock Car.
Outras compras estão em vista para os próximos três anos. O Ypy tem reservas de R$ 100 milhões para novas aquisições. Em breve, pode ser fechada a compra de uma agência de design. Os recursos virão da geração de caixa e da entrada de novos investidores, o que também está sendo negociado.
A disposição do Ypy em crescer no mesmo modelo dos grandes conglomerados mundiais do segmento – como o inglês WPP, o norte-americano Omnicom e o francês Publicis – chama a atenção de bancos de investimento. UBS Pactual, Goldman Sachs e Credit Suisse estão entre os interessados em coordenar a abertura de capital do grupo. ‘Não existe oportunidade nesse setor no Brasil’, diz Guga Valente.
À frente da operação, que sabe trabalhosa pela falta de tradição do meio publicitário brasileiro no mercado de capitais, Valente reconhece que o futuro do Ypy passa por pequenas mudanças de mentalidade, como, por exemplo, a de divulgar a receita, que atingiu no ano passado, R$ 310 milhões. Um valor que deverá subir 30% este ano por conta das empresas que acabam de ser adquiridas. No meio publicitário, a prática é divulgar o faturamento incluindo verbas de negociação de mídia. Ou seja, dinheiro que passa pela agência, mas não fica. Essa atitude mascara os resultados das agências e dificulta a avaliação das empresas do setor.
‘Entrar na Bolsa requer criarmos sistemas de informação transparentes para que os futuros investidores possam acompanhar a evolução da companhia’, explica Valente. Na busca dessas ferramentas e para acelerar o processo de abertura de capital, o grupo contratou os serviços do consultor Vicente Falconi Campos.
Há um ano, o Ypy trouxe também uma profissional que por seis trabalhou na AmBev, Flávia Faugeres. Ela assumiu a a área de projetos especiais e tem se debruçado em cima de números e dados para dar uma feição ao Ypy mais parecida com o que acontece nas empresas de capital aberto.
‘A profissionalização não é uma escolha é um necessidade. Acabou a era Nizan’, diz Guanaes reconhecendo que o personalismo que sempre caracterizou o meio publicitário está sendo revisto. ‘Temos que ser reconhecidos pelo conjunto de valores e práticas a serviço das marcas, fatores que são valorizados pelo mercado independentemente de talentos individuais’. Entres as metas do grupo está crescer 20% ao ano nos próximos cinco anos, segundo Valente.’
TELEVISÃO
HBO quer produzir mais séries
‘Depois de Mandrake, com a Conspiração, e Filhos do Carnaval, com a O2, a HBO apresenta Alice, título provisório da série feita em parceria com a Gullane Filmes. Segundo o vice-presidente sênior de Aquisições e Produções Originais da HBO Latin America, Luis Peraza, a estratégia do grupo é aumentar essa quantidade de produções brasileiras ainda mais.
‘Daqui a três ou quatro anos, queremos ter quatro produções lançadas por ano’, fala Peraza. ‘Seriam duas no Brasil, uma no México e outra na Argentina ou Chile.’ A diversidade de parceiros também faz parte da estratégia da HBO. ‘O que buscamos é fazer produtos pouco a pouco, mas com qualidade, e iniciar projetos que estejam no ponto certo’, afirma Peraza. Esse ponto certo vem de conversas e acertos em roteiros, em casting, em locações.
No caso de Alice, por exemplo, o desenho da série começou com a Gullane Filmes, passou pelas mãos do diretor e roteirista Sérgio Machado e ganhou outro colaborador, o cineasta Karim Ainouz. Os dois últimos dividem a direção geral da série.
Alice está em fase de filmagem dos 13 episódios que completam a primeira temporada. Já foram feitos quatro episódios. Ontem, a equipe iniciou a gravação do quinto capítulo. A série entrará na grade da HBO no primeiro trimestre do ano que vem.
SEQÜÊNCIA
Além de Alice, a HBO está para lançar os cinco novos episódios de Mandrake, que surgem para completar a primeira temporada. Mandrake já está em fase de pós-produção.
O grupo estuda ainda a volta de Filhos do Carnaval, com mais sete episódios. A equipe de Cao Hamburger já tem em mente todos os pretextos para justificar a ausência do patriarca de Jece Valadão, morto no ano passado.
Longe do Castelo
Eternamente Nino nas reprises do Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura), Cássio Scapin grava como César, um médico na novela Caminhos do Coração, que estréia dia 28 na Record. Acima, ele brinda com Ítala Nandi, a doutora Júlia, que lhe confiará o comando de sua clínica.
entre- linhas
A TV Cultura lança no dia 29, na Cinemateca Brasileira, a série DocTV Ibero-América, sob o testemunho do presidente da casa, Paulo Markun, do ministro Gilberto Gil, do governador José Serra e do secretário Nacional do Audiovisual, Orlando Senna. Documentários de 15 países, incluindo Brasil, Argentina, Cuba, Portugal e Espanha, serão exibidos na faixa nobre de sexta-feira, a partir de 7 de setembro.
Ticiane Pinheiro e Karina Bacchi já renovaram contrato com a Record para mais uma edição de Vida Simples. A atração, que emplacou no ibope, ganhará 2.ª temporada em 2008.’
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